A apresentação de detalhes da nova Política de Projetos de Ensino da UFMG e os desafios implicados na sua implementação foram os aspectos dominantes nas exposições do 18° Fórum on-line do Programa Integração Docente, realizado nesta quarta, 24 de março (assista à gravação).

Ao contextualizar a iniciativa e o processo de elaboração da política, a pró-reitora de Graduação, Benigna Oliveira, disse que a UFMG “valoriza aqueles professores que se dedicam, na sua produção, no seu fazer, aos processos de ensino-aprendizagem e mostrar a importância desses projetos na construção, no desenvolvimento da carreira docente”. Segundo ela, a política terá papel central como articuladora dos diversos programas e ações já estabelecidos pela Prograd.

Coordenador do Comitê 21, o Comitê Assessor da Câmara de Graduação, e diretor de Mobilidade, Estágios e Bolsas da Prograd, João Henrique Lara de Amaral detalhou as diretrizes para projetos de ensino-aprendizagem. Percorreu os principais pontos do documento, mencionou as chamadas previstas e explicou a atividade formativa que está sendo planejada para coordenadores de projetos.

O trabalho desenvolvido inicialmente pelo grupo visando à formulação da política de projetos de ensino foi apresentado por Rúbia Carneiro Neves, representante da Faculdade de Direito no Comitê 21. Com base na análise de propostas submetidas aos programas de Monitoria de Graduação (PMG), para o Desenvolvimento do Ensino de Graduação (PDEG) e Projetos Estruturantes de Laboratórios para o Ensino de Graduação (Paleg), os docentes mapearam desafios à implantação dessas novas diretrizes, como a definição do conceito de inovação no ensino-aprendizagem adotado, a implementação de práticas de fato transdisciplinares e estratégias para valorizar as práticas docentes e discentes.

Para Rúbia, discussões sobre a política e o engajamento de toda a Universidade serão a chave para enfrentar eventuais percalços. “Esses desafios só serão superados se contarmos com o envolvimento e a colaboração de toda a comunidade”, afirmou.

Ensino superior em contexto

Convidada especial do encontro de ontem, a professora Maria Isabel da Cunha, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), propôs reflexões sobre o impacto do contexto social sobre a pedagogia universitária, citando problemas como o acesso e a permanência no ensino superior num cenário de desigualdade social, a demanda crescente por vagas, que estimula a competitividade entre estudantes secundaristas, e a noção de que a graduação deve garantir ao egresso todo o conhecimento e habilidades necessárias à sua carreira.

“Alguns autores portugueses defendem que a graduação é uma formação de raiz. Nós temos que trabalhar com essa ideia para que os conhecimentos possam crescer apoiados nessa raiz estável. Não vou conseguir, na graduação, construir a árvore completa, mas se as raízes forem bem fundadas e os alunos tiverem o mapa desse rizoma, eles conseguem ir adiante. Devemos nos perguntar isso em cada campo de conhecimento: qual é esse mapa principal que devemos construir para os percursos de vida e de profissão do estudante”, ilustrou.

No magistério há 56 anos e “com saudades de abraçar os alunos e de sentir o cheiro da sala de aula”, Maria Isabel afirmou que falar em inovação no ensino implica o questionamento, por parte de professores e de alunos, de como eles são hoje e de como serão. Ela sugere aos docentes que se lembrem de como foram como estudantes e como isso tem influenciado seu trabalho.

“Não raramente há indícios do aluno que eu fui no professor que eu sou, porque eu tendo, muitas vezes, a me identificar com os alunos que são como eu fui. Eu já fiz esse exercício comigo, não para repetir, mas para refletir: fui uma aluna do fundão, daquelas que trocava bilhetinhos com os colegas, que levantava a prova para mostrar ao colega de trás. Era muito solidária na hora das provas. Enfim, não fui uma aluna muito recomendável para os padrões da época”, revelou, com bom humor. Essa reflexão, segundo Maria Isabel, auxilia os docentes a equilibrar o olhar para a diversidade da turma, buscar empatia com todos os alunos e compreender melhor as dimensões humanas e sociológicas da docência.

Debate amplificado

A professora também reforçou a urgência de um debate mais amplo sobre a educação superior, considerando aspectos como a internacionalização e o desenvolvimento socioeconômico, num contexto de justiça social. “Vocês [da UFMG] estão respondendo para mim de uma forma maravilhosa que é possível acreditar nessa possibilidade e potenciar energias para essa construção”, enfatizou Maria Isabel, que se disse admiradora do trabalho desenvolvido pela Universidade.

“Tenho registrado aonde vou que, entre as universidades brasileiras, a UFMG representa uma liderança nesse esforço institucional do investimento no campo da pedagogia universitária, com avanços bastante significativos. Acho que o GIZ é um projeto que deu certo”, afirmou, referindo-se à Diretoria de Inovação e Metodologias de Ensino (GIZ/Prograd), criada em 2008 com a missão de aprimorar as práticas de ensino na graduação da UFMG, de forma inovadora, colaborativa e contextualizada.

Leia mais sobre a Política para Projetos de Ensino da UFMG.