O Retrato traz uma conversa com as mestras e mestres, na qual escutamos um pouco de suas histórias de vida; abordamos sua relação com os ancestrais dos quais herdaram os saberes, atitudes e valores que definem sua mestria (bem como as condições atuais para a sua transmissão para os mais novos); pedimos  que apresentem ao espectador a cosmovisão que orienta seu saber e os outros elementos a ele associados (as narrativas míticas, os cantos, as rezas, as práticas rituais, os jogos e as danças).

Falamos também do que acharam da experiência pela qual passaram na universidade, na sua relação com os alunos, e das condições (com dificuldades e possibilidades) para a sustentação e a disseminação dos saberes tradicionais na sociedade brasileira atual. 

O que fazemos quando construímos os chamados Retratos das mestras e mestres não é bem uma entrevista, pois não se trata de simplesmente conduzir um jogo regulado de perguntas e respostas. Se permanecemos no fora-de-campo e elidimos nossas intervenções na montagem é porque elas se querem simplesmente indutoras de uma fala que permita aos mestres discorrer sobre sua formação e o processo de aquisição dos saberes dos quais são portadores, o adensamento de suas experiências ao longo da vida, bem como as vinculações de sua história pessoal com a história mais longa das comunidades a que pertencem.

Procuramos um desvio do regime da informação, sustentando uma mediação discreta (na qual predominam mais os comentários do que as perguntas) capaz de reforçar o valor de presença (contingencial, singular, não controlada) daquele que toma a palavra para si. Necessidade, portanto, de afirmação da auto mise-en-scène na construção conjunta do Retrato. Nesse sentido, convidamos o espectador a uma experiência de escuta paciente da fala das mestras e dos mestres. Ao escutá-los, participamos, por um instante, de outra temporalidade, compartilhada conosco por meio do regime oral de transmissão dos saberes.


Retrato da Mestra Pedrina de Lourdes Santos

César Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 1h18, 2019-2021

Mestra Pedrina de Lourdes Santos é Capitã do Terno de Massambike de Nossa Senhora das Mercês de Oliveira, MG. Nesse retrato, gravado na Casa de Candomblé Angola-Muxikongo, em Juatuba, MG, ela nos apresenta sua trajetória de vida e sua profunda relação com a espiritualidade e com os cantos de matriz africana.


Retrato da Mestra Maria Luiza Marcelino

César Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 1h11, 2019-2021

Maria Luiza Marcelino é mestra dos pontos cantados da umbanda, liderança quilombola do Quilombo Namastê e zeladora do Centro Espírita Caboclo Pena Branca, em Ubá, Minas Gerais. Ela recebe a visita da Mestra Isabel Casimiro Gasparino, Rainha de Congo da Guarda de Moçambique Treze de Maio e Rainha da Federação dos Reinados do Estado de Minas Gerais, Concórdia, Belo Horizonte, MG e de Gabriel Moura, da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente, Belo Horizonte, MG. Ela conta sua história de vida no quilombo e nos apresenta um conjunto de cantos da Umbanda, dedicados aos caboclos e a outras entidades espirituais.


Retrato do Mestre Pai Ricardo de Moura

César Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 1h54, 2019-2021

Pai Ricardo de Moura é zelador da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente, no Bairro da Lagoinha, Belo Horizonte, MG. Ele abre os trabalhos com os cantos e com a defumação do terreiro para nos contar a história da casa e de seu aprendizado no terreno da espiritualidade umbandista, apontando para a força de resistência dos povos negros, na relação com a ancestralidade e com a memória. 


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