No sentido oposta à extrema fragmentação do conhecimento, integrantes da comunidade acadêmica têm buscado metodologias que transponham as rígidas barreiras de algumas áreas e permitam trabalhar interfaces pouco tradicionais. Na UFMG, as cátedras do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) trazem à Universidade especialistas de alto reconhecimento em seu campo de atuação e comprovada habilidade no desenvolvimento de pesquisas que requerem incursões transdisciplinares. Os catedráticos são indicados por pesquisadores da Universidade e selecionados pelo Comitê Científico do IEAT, que utiliza critérios como o notório reconhecimento do pesquisador em sua área de atuação e correlatas, capacidade de liderança junto a grupos de pesquisas e campo de trabalho com potencial transdisciplinar para embasar sua apreciação. Pesquisadores da UFMG poderão indicar nomes para o provimento das cátedras, até 14 de maio. "Temos possibilidade de absorver indicações de quaisquer áreas do conhecimento, pois as cátedras Fundep abrangem Humanidades e Artes; Ciências da Vida e da Saúde; Ciências Exatas e Tecnologia; e a cátedra da Fundação Ford, está circunscrita à temática Criminalidade, violência e políticas públicas", informa o professor Alfredo Gontijo de Oliveira, diretor-presidente do Instituto. Até o momento, três das quatro cátedras já receberam pesquisadores de renome internacional – a de Ciências Exatas não contratou catedrático, devido à baixa indicação de candidatos. Com recursos da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) – que mantém três cátedras – e da Função Ford, o IEAT traz a Belo Horizonte pesquisadores de nível internacional, que permanecem na Universidade entre 15 e 90 dias. O Instituto arca com passagem aérea, despesas e pró-labore compatível com o salário do visitante em sua instituição de origem. A possibilidade de múltiplas visitas é considerada, quando conveniente do ponto de vista metodológico, para atingir os objetivos desejados. Segundo Alfredo Gontijo, os recursos alocados pelas cátedras possibilitam a vinda sobretudo de catedráticos estrangeiros, para viabilizar o contato dos grupos locais com pesquisadores cujo valor do contrato seria alto para outros tipos de financiamento. "Há linhas de atuação do IEAT reservadas para as visitas dos professores brasileiros que têm atuação transdisciplinar", informa o diretor-presidente. Ele reforça que a contratação de catedráticos internacionais tem por objetivo estimular estudos em áreas menos desenvolvidas no Brasil. Interações Para o o professor Marco Aurélio Romano, do departamento de Farmacologia do ICB, é papel do catedrático induzir a interação de grupos, "levantar problemas, plantar sementes". E cabe à Universidade fazer germinar a idéia, descobrindo áreas de interesses que transponham a abordagem estritamente disciplinar. Romano é membro do grupo de pesquisa que indicou a contratação do bioquímico inglês Michael Brammer para a cátedra IEAT/Fundep de Ciências da Vida. Brammer, que trabalha com a temática imagens, esteve na UFMG em 2003 e volta em 10 de maio, quando terá encontros com cientistas das áreas de Belas-Artes, Ciência da Computação, Bioquímica e Farmacologia e, possivelmente, Direito.
Ao chegar na UFMG, o professor contratado realiza interlocuções com o grupo disciplinar que o indicou e com pesquisadores de outras áreas. Uma das expectativas é de que o catedrático seja indutor das interações de grupos da Universidade que desenvolvem trabalhos afins de forma isolada. Mas há também a possibilidade de gerar novas interfaces. "A transdisciplinaridade e a inovação – na busca por novos objetos de pesquisa ou de novas metodologias para tratar velhos temas – são características fundamentais das cátedras do Instituto", afirma Gontijo.