A trajetória da borboleta Papilio demoleus, nas Américas, parece estar apenas se iniciando. Coletada há dez anos por estudiosos norte-americanos, na República Dominicana, sua identificação permaneceu desconhecida por longo tempo e, sem encontrar predadores, expandiu o habitat para outras ilhas do Caribe. Hoje, cientistas prevêem que em breve alcançará o Brasil e a Flórida. Esta seria apenas uma entre milhares de migrações de espécies, não fosse por um detalhe: Papilio, originária da Ásia, é considerada uma praga perigosa de citros, responsável por grandes prejuízos à agricultura. A identificação da espécie ocorreu apenas recentemente. A história seria outra se a ciência contasse com métodos mais rápidos de discriminação. Relatos como esse têm corrido o mundo, sobretudo entre especialistas que trabalham com "barcode", um sistema que permite a identificação mais rápida de espécies. A técnica permite extrair identificadores únicos para cada organismo vivo a partir da leitura de seqüências curtas de DNA e, por esse motivo, recebeu o nome de código de barras. A analogia às etiquetas identificadoras de produtos foi estabelecida em 2001 pelo cientista canadense Paul Hebert. Ele recorreu à técnica para discriminar 260 espécies de aves da América do Norte. Técnica semelhante ao barcode existe desde o início dos anos 90, mas apenas agora seu uso foi proposto para inventariar espécies em larga escala. Pesquisadores acreditam que a disseminação do procedimento facilitará a formação de grandes bancos de dados sobre as espécies, abertos a consulta pública na Internet. Eles esperam encontrar respostas rápidas e confiáveis submetendo, a esses sistemas de informação, os códigos de barra extraídos de segmentos de DNA da espécie sob consulta. "O DNA barcode revolucionará a forma de identificar a biodiversidade e democratizar o acesso a essas informações", prevê o professor Fabrício Rodrigues Santos, do departamento de Biologia Geral do ICB. Ele avalia que o sistema, apesar de mais rápido e ter um custo dez vezes menor, não substituirá a taxonomia clássica, que identifica espécies a partir de análises morfológicas. "Os dois processos devem se complementar",acredita o professor. A taxonomia é responsável pela geração de informações utilizadas na identificação de cada espécie da fauna, flora e de microorganismos. DNA barcode é específico para discriminar organismos. Mais informações no Boletim da UFMG.