O novo acordo ortográfico da língua portuguesa, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro, será adotado a partir de hoje pelo Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG. As notícias publicadas diariamente pelo portal da Universidade na internet passam agora a ser escritas segundo as novas normas. O Boletim, publicação impressa semanal, incorpora as mudanças já na sua primeira edição de 2009, que circulará no dia 2 de fevereiro. Mesmo tendo até dezembro de 2012 para se adequarem ao acordo, os órgãos de comunicação coordenados pelo Cedecom optaram por fazer essa transição imediatamente. Apesar de alterar a grafia de apenas 0,8% das palavras escritas no Brasil, as novas normas apresentam detalhes que demandam algum tempo para serem totalmente assimilados. Para efetuar essa transição, a equipe do Cedecom contará com a colaboração do professor Luiz Carlos de Assis Rocha, da Faculdade de Letras da UFMG. Acordo X Reforma Para outra especialista da UFMG, a professora Magda Becker Soares, da Faculdade de Educação, o acordo é desnecessário. Em entrevista ao Boletim, concedida em outubro de 2007, quando a implantação da proposta estava em discussão, Magda Becker criticou a formalização de um pacto entre países para uniformizar a grafia. Segundo ela, o melhor seria uma reforma que simplificasse as regras, "que são muitas, e nem todas necessárias”. O acordo Entre outras mudanças, o alfabeto passa a ter 26 letras, incorporando o k, o w e o y; o trema está abolido; cai o acento dos ditongos abertos éi e ói das paroxítonas, como idéia e jibóia; elimina-se o circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo, como crêem e perdôo; e mudam algumas regras do uso do hífen. Prazo
O professor Assis Rocha defende o acordo, que considera "bem-intencionado", ainda que tímido. "É preciso distinguir acordo de reforma. O que foi aprovado é um acordo que busca unificar a grafia em países de língua portuguesa, não uma reforma, que seria algo muito mais profundo", contrapõe o professor, que dá aulas de língua portuguesa na graduação e de linguística na pós-graduação. Ele é autor de dois livros: Gramática nunca mais e Estruturas morfológicas do português, ambos lançados pela Editora UFMG e recentemente reeditados pela Martins Fontes, de São Paulo.
O presidente Lula assinou em 29 de setembro de 2008 o decreto que estabelece a implantação do acordo. Em Portugal, o texto havia sido aprovado pelo Parlamento em 16 de maio.
Seu objetivo é unificar o padrão escrito dos países que usam o português, ideia defendida desde 1975, quando surgiu o primeiro projeto de acordo. No Brasil, estima-se que 0,8% das palavras passarão a ser escritas de maneira diferente. Quanto a Portugal, o impacto deve ser maior: as novas regras atingem 1,3% dos vocábulos, principalmente pela queda das consoantes não pronunciadas, como em "óptimo" e "acto".
O decreto presidencial 6.583 prevê prazo de quatro anos para que o Brasil adote a nova ortografia. Até 2012, as duas regras valerão. Em Portugal, o prazo previsto para a mudança é de seis anos. Além de Brasil e Portugal, o acordo já foi ratificado em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Timor-Leste, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau ainda não definiram quando aceitarão o documento.
A Academia Brasileira de Letras (ABL) já lançou seu Dicionário Escolar da Língua Portuguesa adaptado às novas normas ortográficas. Com 33 mil verbetes e orientações sobre a nova ortografia, a obra consagra três anos de trabalho de especialistas da ABL. O dicionário de 1.312 páginas registra a divisão silábica das palavras, oferece exemplos de uso, áreas de conhecimento, regionalismos e neologismos, locuções, remissões à conjugação verbal e flexão nominal e tabelas de conjugação de verbos. De acordo com a ABL, o novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), reformulado segundo normas do acordo, será lançado em fevereiro.