Bruna Brandão/UFMG |
Ao receber o título de Doutor Honoris Causa pela UFMG, em cerimônia realizada esta tarde, no campus Pampulha, a cientista do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) Mildred Dresselhaus relembrou a história de sua parceria com a Universidade – iniciada em 1997, quando o professor do Departamento de Física Marcos Pimenta foi para o MIT passar um ano sabático. “O impacto dessa visita foi de transformação, tanto para a UFMG quanto para mim”, revelou. Em conjunto, os cientistas desenvolveram uma pesquisa sobre o uso da espectroscopia Raman para estudar o campo emergente de nanotubos de carbono. O trabalho mostrou que os espectros Raman de nanotubos metálicos eram muito diferentes dos espectros para semicondutores, e culminou na criação de um método não invasivo para descobrir se um nanotubo em particular era metálico ou semicondutor. Segundo Mildred, “essa descoberta foi surpreendente, pois pequenas alterações na disposição dos átomos de carbono provocavam uma mudança muito grande no seu comportamento eletrônico". Ao retornar ao Brasil, Pimenta encorajou o então estudante Ado Jorio – hoje titular da Diretoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG – a cursar seu pós-doutorado no MIT, atuando na mesma linha de pesquisa. No período em que trabalhou com Mildred, nos anos de 2000 e 2001, Jorio se dedicou à investigação dos espectros Raman dentro de um nanotubo de carbono individual – com apenas um nanômetro de diâmetro. Para Mildred, os estudos desenvolvidos por ele nessa época foram transformadores e lançaram um novo campo de pesquisa: a espectroscopia de nanoestruturas individuais. “Durante esses dois anos, Ado Jorio publicou cerca de 40 artigos, e foi a soma dos trabalhos dele e de Marcos Pimenta que motivou outros da UFMG a irem para o MIT e para outros lugares do mundo”, ressaltou a cientista, observando que a parceria ampliou a visibilidade internacional da Universidade. Leia o discurso na íntegra. Ao conferir a Mildred o título de Doutor Honoris Causa, o reitor da UFMG, Clélio Campolina, enfatizou que, ao longo dos 85 anos de história da Universidade, 17 pessoas foram contempladas com a mesma honraria – um título a cada cinco anos, em média. O reitor destacou, ainda, que, além de ser uma cientista de grande relevância, Mildred é “uma figura humana admirável”. Aprendizado Ex-aluno de Dresselhaus, com quem já produziu três livros e dezenas de artigos científicos, Jorio relatou a origem do contato entre a professora e a UFMG, apresentou “números impressionantes de produtividade acadêmica” da pesquisadora e reproduziu questionamento de um estudante que há duas semanas participou, em Boston (EUA), de encontro da Sociedade Americana de Materiais: “Como ela consegue manter tanta gente trabalhando com ela durante tantos anos?” “Com muito trabalho e com muito respeito”, assegura Jorio, que recorreu ao filósofo grego Aristóteles para lembrar que “a excelência moral é produto do hábito”. Segundo o professor, Dresselhaus chega “religiosamente, às cinco horas da manhã em seu escritório no MIT, e sai às cinco horas da tarde. Exceto aos sábados e domingos, quando volta mais cedo para casa”. Em tom de brincadeira, citou a lenda segundo a qual a professora Millie, como é conhecida, no nascimento dos quatro filhos, tirou, no total, cinco dias de licença. “Isso porque em um deles houve, no dia seguinte ao parto, uma tempestade de neve, e ela não pôde ir ao trabalho”, acrescentou. Ao declarar “enorme gratidão” pelos serviços que Mildred Dresselhaus “tem prestado a esta Universidade e à humanidade”, Ado Jorio definiu com Espinosa: “gratidão é o esforço para fazer bem àquele que nos ama e se esforça para nos fazer o bem. Por isso, Millie, muito obrigado”. Leia o discurso na íntegra.
Carinho, gratidão e admiração permearam a saudação feita pelo professor Ado Jorio, do Departamento de Física, a Mildred Dresselhaus, na cerimônia de entrega do título honorífico.