Fabíola de Paula |
Na tarde de hoje (terça, 19), a Praça de Serviços, no campus Pampulha, recebeu as duas primeiras das seis audiências públicas que se propõem, com a participação do corpo discente, a traçar as diretrizes para a criação da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da UFMG. Para a acadêmica de Ciências Sociais Ana Gabriela, as premissas que norteiam a assistência estudantil na Universidade estão defasadas. “O pensamento hegemônico é de que os estudantes iniciam o ensino superior aos 18 anos e, aos 26, chegam ao mercado de trabalho. Para os que ingressam mais tarde na Universidade, têm filhos e outras vivências do mundo adulto, as políticas de assistência são incompatíveis”, argumentou. Como exemplos dessa incongruência, Ana Gabriela mencionou casos de jovens que abandonaram a faculdade porque tiveram filhos e outras que nem chegaram a ingressar pelo mesmo motivo. “A condição de mãe não deveria ser empecilho”, diz. Saulo, estudante de Medicina, defendeu que a UFMG reveja sua política de incentivo à permanência e ofereça melhores condições acadêmicas e de infraestrutura para alunos com deficiência. Ele, que é parcialmente cego, relatou ter enfrentado dificuldades para obter os equipamentos especiais necessários para sua participação em internato fora de Belo Horizonte. “Não existe bolsa que contemple os estudantes deficientes”, lamentou ele, que se identificou durante sua fala apenas pelo prenome. A questão das grades curriculares extensas, que dificultam a rotina dos estudantes que precisam trabalhar, foi apresentada pelo estudante Maurício, de Ciências Sociais, outro que se identificou apenas pelo primeiro nome. Ele também se queixou da burocracia que acredita prevalecer nos organismos assistenciais, o que desfavorece a concessão de benefícios a alunos carentes. A audiência foi introduzida pelo professor Tarcísio Mauro Vago, assessor especial de Assuntos Estudantis e presidente da comissão encarregada pela Administração Central de tratar das demandas. Ele apresentou a estrutura proposta para a Pró-reitoria, que será organizada em câmaras e diretorias. Suas políticas, segundo ele, serão pautadas nas ações afirmativas que atendam aos alunos com qualidade e equivalência de direitos humanos e garantam o aprimoramento dos programas de assistência estudantil referentes a moradia, alimentação e transporte público e incentivem a produção acadêmica e cultural dos alunos, eixo denominado de protagonismo estudantil. O professor Rodrigo Ednilson de Jesus, da Faculdade de Educação (FaE), que também integra a comissão, salientou que “os esforços da Pró-reitoria devem ser motivados pelas trajetórias reais das pessoas, suas necessidades e potencialidades”. Tarcísio Mauro Vago declarou que já foi possível elaborar uma agenda para a câmara de assistência estudantil. “Absolutamente todas as sugestões são pertinentes”, afirmou. Segundo ele, ainda que sejam necessários ajustes no orçamento disponível, o desafio é atender aos anseios de um universo formado por seis mil alunos. No mês de novembro, está prevista a realização de seminário no qual serão aprofundadas as discussões das audiências públicas. Nesta semana, mais dois encontros serão realizados em Belo Horizonte: nesta quarta, na Faculdade de Direito, e na quinta, no campus Saúde, ambas às 14h. Veja matéria veiculada no Boletim UFMG com mais detalhes sobre a criação da nova Pró-reitoria.
Estudantes e integrantes de coletivos populares com representação na Universidade compuseram a maior parte do público. Entre os aspectos a serem priorizados de imediato, foram mencionados o desenvolvimento de ações de assistência a estudantes de baixa renda familiar e com filhos e a efetiva participação do alunado e de movimentos sociais na tomada de decisões pela nova instância.