Fotos: Marina Gontijo / UFMG |
A universidade deve ser ambiente privilegiado de permanente reflexão sobre a cultura, elemento constitutivo de qualquer formação profissional. “Para além dos cursos ligados às artes e humanidades, a cultura educa para a cidadania”, assinalou a professora Leda Maria Martins, diretora de Ação Cultural, durante a abertura da aula inaugural da formação transversal em Culturas em movimentos e processos criativos, realizada na tarde desta quinta-feira, 18, na Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Em sua análise, Leda Martins destacou o empenho de várias instâncias da UFMG para a consecução “inovadora” da formação transversal, que consiste na oferta de créditos de formação livre para alunos da graduação. “Mesmo em tempos de escassez de recursos financeiros, contamos com o apoio irrestrito da Reitoria. Para que esse sonho se tornasse realidade, foi preciso que a comunidade acreditasse e assumisse os seus riscos”, disse. O pró-reitor de Graduação, Ricardo Takahashi, salientou que a nova formação é fruto da capacidade da UFMG de “inventar mecanismos para balancear a formação técnica e a cidadã”. “Às vezes, a gente avalia que a tradição universitária, em geral, perdeu rumos importantes, na medida em que cunhou modelo em que os estudantes ficam confinados aos limites dos seus cursos. Temos confrontado essas questões para não cair na mesma armadilha”, refletiu Takahashi. Na opinião do reitor Jaime Ramírez, a iniciativa está alinhada com propósito da UFMG de formar profissionais comprometidos com as questões que extrapolam a alçada da sua formação técnica. “A expectativa é de que a formação transversal seja a mais ampla e interessante possível”, disse Jaime Ramirez, acrescentando que a cultura, formalizada em contexto curricular, cumpre papel fundamental na produção do conhecimento, em todas as suas dimensões. A vice-reitora Sandra Regina Goulart Almeida ressaltou que, muito por conta do trabalho desenvolvido no âmbito da DAC, a Universidade alcançou o objetivo de fazer das artes “não somente parte importante do percurso acadêmico, mas uma parte integrada”. De árvore a rizoma Sob essa perspectiva, disse Eneida, as hierarquias são abolidas, assim como a prevalência de uma “disciplina-mãe”. “Perde valor a noção de verticalidade. O conhecimento não se encontra mais na perspectiva de uma árvore, mas, sim, de um rizoma, composto de redes e links que se processam horizontalmente”, analisou. Para Glaura, envolvida na condução de uma disciplina sobre os cantos afro-brasileiros dos Arturos, a importância da nova abordagem também reside no fato de que ela vai proporcionar a legitimação de saberes de culturas tradicionais e o acolhimento efetivo de seus mestres e mestras. A aula inaugural foi encerrada com a explanação de Sibelle Diniz sobre o grupo de estudos de que participa, cuja abordagem é fundamentada na relação entre economia e cultura. Indisciplinas A formação transversal Culturas em movimento e processos criativos será composta de atividades denominadas de “indisciplinas”, por apostarem em formatos metodológicos inovadores e horizontalizados. Além disso, a formação conta com duas inovações: os Laboratórios transversais, em que o aluno se insere na rotina de laboratórios, grupos de pesquisa e projetos extensionistas da Universidade, e o Passaporte cultural, por meio do qual o aluno é convidado à fruição de produções artísticas e culturais de linguagens variadas, que renderão créditos acadêmicos.
Ministraram a aula inaugural as professoras Eneida Maria de Souza, da Faculdade de Letras, Glaura Lucas, da Escola de Música, e Sibelle Cornélio Diniz, da Face. Eneida dissertou sobre a concepção de interdisciplinaridade, que consiste em “passar o conhecimento de um contexto para o outro”. “Isso implica os conceitos de deslocamento, tradução, montagem e mudança de contexto. Ao transpor de um cenário para outro, é importante pensar que o objeto não será mais igual ao de origem”, definiu.
Formações transversais são trajetos formativos não convencionais formados por conjuntos de disciplinas tematicamente articuladas que resultam em uma competência específica. Nelas, o aluno pode cursar uma ou várias disciplinas avulsas, que resultam em créditos de formação livre. Caso integralize as 360 horas ofertadas no percurso, o aluno recebe um certificado específico.
Denise Pedron, diretora adjunta de Ação Cultural, Sibelle Diniz, Glaura Lucas e Eneida Maria de Souza