Marina Gontijo / UFMG |
Por sua dimensão muito reduzida, os nanomateriais concentram propriedades diferentes das que compõem a matéria em escala macro, fator que gera incertezas em relação aos efeitos adversos que podem provocar nos seres vivos. A análise é feita pelo professor Ary Correa Júnior, do ICB, que se dedica a pesquisas na área de controle biológico, e abordará o tema durante o 1º Simpósio Nacional de Nanobiotecnologia, realizado nesta semana no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), campus Pampulha. Sua conferência, Nanotoxicologia e pesquisa regulatória, está marcada para esta sexta-feira, 2 dezembro, a partir das 9h30. “Vamos discutir a necessidade de se estabelecer normas legislativas que possibilitem o desenvolvimento e a aplicação segura de nanomateriais e as iniciativas mundiais adotadas nessa direção”, anuncia o pesquisador. Segundo o professor, a escala nanométrica de alguns materiais requer meios de análise distintos dos convencionalmente adotados em farmacologia e toxicologia – o que tem gerado interesse, por parte de cientistas de todo o mundo, em regular o uso desses compostos. Correa ressalta que não existem estudos que indiquem medida efetiva do risco inerente ao uso dos nanomateriais. “Cabe a nós identificar os benefícios e riscos da aplicação dessas partículas e fazer o balanço adequado", afirma ele, acrescentando que a hipótese é de que a toxicidade seja baixa. ‘Campo milenar’ “A nanotecnologia é um campo milenar. A tinta nanquim [desenvolvida na China há cerca de 2 mil anos], por exemplo, é composta de nanopartículas de carbono. Os vitrais das igrejas na Europa têm cor avermelhada, que se deve a nanopartículas de ouro incorporadas ao vidro. Esses compostos também podem ser encontrados na indústria farmacêutica, de alimentos e na construção civil”, exemplifica o pesquisador, lembrando que a nanotecnologia, como é entendida na contemporaneidade, também não é algo tão recente. "Ela começa com os estudos do físico Richard Feynman, na década de 1950", informa. O teste de toxicidade, segundo Ary Correa, precisa oferecer um resultado que possa ser usado pelos legisladores no desenvolvimento de um marco regulatório universal. Assim, os usuários terão segurança jurídica para desenvolver os produtos. A ideia é que os mesmos critérios sejam adotados mundialmente, o que facilitaria o comércio e permitiria aos países manter sua soberania. “Não seria preciso respeitar barreiras legislativas de outros países, pois teríamos concordado, a priori, com elas. Dessa forma, não se fica refém de legislações mais restritivas”, detalha. O 1º Simpósio Nacional de Nanobiotecnologia, que ocorre simultaneamente com o 2º Workshop de Nanobiotecnologia da UFMG, tem o objetivo de difundir o valor estratégico da nanotecnologia para pesquisa, desenvolvimento e inovação. O evento reunirá pesquisadores de diversas instituições, repercutindo os principais avanços e aplicações da pesquisa nanobiotecnológica. O público é formado por graduandos, pós-graduandos, professores, pesquisadores e empreendedores. Leia mais sobre as atividades. Trajetória
O desenvolvimento de técnicas que favoreçam a identificação da toxicidade nos nanomateriais se justifica, no entendimento de Correa Júnior, pelo fato de estarem presentes em todas as áreas.
Ary Correa graduou-se em 1985, em Ciências Biológicas, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Seu doutorado em Fitopatologia foi concluído em 1996, na Cornell University (EUA). Tem experiência na área de Microbiologia, com ênfase em Micologia, atuando principalmente com controle biológico, mecanismos de infecção fúngica e biorremediação.