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Os descendentes da Mumbuca

Por Polo Jequitinhonha em

A comunidade quilombola de Mumbuca está localizada a 30 km ao norte da sede do município de Jequitinhonha, extremo nordeste de Minas Gerais. Sua existência data de 1862, quando o negro José Cláudio de Souza decidiu comprar um grande terreno. Ele, fugindo da seca da Bahia, registrou as terras e fundou a povoação. O quilombo possui três particularidades que o diferenciam dos demais: a adiantada alfabetização de seus membros, possessão de bens e recursos, e a propriedade da terra, devidamente registrada.


Cotidiano. Membros do Quilombo. Imagem obtida do vídeo “Mumbuca/ Jequitinhonha MG” do canal de Adão Anjequis de Youtube.

Atualmente no território da Mumbuca moram quase 90 famílias, somando um total de 250 pessoas. A base econômica é a agricultura familiar. Segundo João da Cruz, morador da comunidade, o principal foco é a produção de farinhas e o plantio de frutas como mexerica, laranja entre outras. Ainda que haja uma integração parcial ao mercado, a maior parte do cultivo provê o sustento das famílias.

Renan Fernandez, presidente da Associação da Comunidade Quilombola de Mumbuca, comenta outra característica do quilombo: é uma coletividade católica. “Somos devotos  de Nossa Senhora do Rosário, que é também considerada a padroeira do quilombo”, explica. Segundo ele, essa devoção vem da própria fé de José Cláudio de Souza, que trouxe desde o início uma imagem da santa. “Por isso a identificamos como nossa protetora.”

Ao longo da sua história, os negros da Mumbuca viram seus territórios ameaçados de expropriação em múltiplas oportunidades. A última grande ameaça foi a criação da Reserva da Mata Escura em 1999. Dito território se sobrepõe a 75% das terras do quilombo o que gerou um forte impacto na comunidade. Embora a reserva tenha repercutido na organização da terra, ela também foi o elemento decisório para o autoconhecimento das famílias enquanto remanescentes de quilombo.

Esse movimento de autoconhecimento, desencadeado pela criação da Mata Escura, viu-se fortalecido pela importância que ganhou o entendimento da identidade coletiva. Para Renan, atualmente há um maior interesse pela história do grupo e um aumento da auto-estima. “Sinto que existe uma maior valorização da comunidade pelos próprios moradores do Jequitinhonha”, revela.

Para João da Cruz, quase vinte anos depois do surgimento da reserva, os problemas estão superados. “Além de que a reserva simbolizou um grande impacto, e ainda hoje apresentar muitas limitações, também garante a preservação da biodiversidade, muito importante para nossa sobrevivência”. No presente, o quilombo tem outra relação com a reserva. Nas palavras de João, “A gente entende que essa reserva tem uma importância gigante tanto para o médio, como o baixo Jequitinhonha.” Hoje o novo objetivo é tornar a reserva Parque Nacional, para que possam se desenvolver ações sócio-econômicas no local.  



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