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Comunicação como eixo de transformação

Aprendizado coletivo, comunicação na prática e extensão

Por Leonardo Soares em

ECVJ: quatro dias de trocas e diversidade

Jovens. Da esquerda para a direita: Sauan, Ranna e Thiago. Foto: Isabelle Chagas.

Encontro de Comunicadores do Vale do Jequitinhonha. A princípio, quando vi este título, pensei que se tratava de um seminário, constituído por pessoas diplomadas nos mais diferentes níveis acadêmicos. Para minha surpresa, no entanto, não era essa a configuração do Encontro. Composto majoritariamente por jovens, o ECVJ é um caso à parte por vários motivos.

Imagine um projeto de formação e discussão no qual o jovem é um dos protagonistas. O papel deles? Promover a divulgação e a realização do evento, ajudar no processo de inscrição do público interessado e, no caso de alguns veteranos, a oportunidade de ensinar o que haviam aprendido em encontros anteriores. Agora, some a isso o fato de uma escola pública ter sua estrutura utilizada de maneira ininterrupta, enquanto outras instituições do país só voltarão a abrir no início do ano letivo. Some, também, o ato de mobilização desses jovens, que, ao ocuparem uma instituição pública, fazendo-a de sede e alojamento, promovem, sem muitas vezes perceber, ações estruturadas nas noções de uso do espaço público.

“É uma experiência extraordinária estar participando dos Jovens Comunicadores e ver como podemos nos conectar com a cultura do Vale, vivenciar experiências novas e também perceber a dimensão do impacto positivo de nossas ações e como elas afetam positivamente nossas vidas e a população almenarense”, conta Thiago Fernandes Torres, de 17 anos, estudante do 3º ano do Ensino Médio e integrante da Assessoria do evento.

O ECVJ é um evento curto, mas suficiente para despertar, ao menos em quem tem um olhar mais atento, a seguinte questão: só um diploma é capaz de conferir um título profissional a alguém? Pode ser difícil, aos olhos de muitas pessoas, das quais quem escreve este texto faz parte, supor que o termo “comunicador” só possa ser dado a quem cursou uma faculdade na área de Comunicação Social. O ECVJ, enquanto projeto de capacitação e debate, prova que não. Ao sair de seu espaço, do seu campus repleto de prédios, livros, servidores e alunos, a universidade pública constrói, a cada projeto de extensão, um laço mais forte com a sociedade. E são os integrantes desta, por sua vez, que percebem o retorno para além da formação de profissionais de excelência. Pensar a comunicação como um direito tão importante quanto qualquer outro, fomentar a valorização do conhecimento existente fora da academia e construir uma troca recíproca de ideias e demandas visando a transformação social são ganhos alcançáveis por meio da extensão, dos quais sociedade e instituição se beneficiam em igual medida.

“O Encontro de Comunicadores, assim como a Feira de Artesanato em Almenara, me serviram como uma ‘pesquisa de campo’ acerca da cultura do Vale. Apesar de eu ter uma relação especial com o mundo das artes, chegou um momento em que eu não estava vendo o Vale ser representado nos meus trabalhos. O que eu pude e estou podendo conhecer está me ajudando a compor minha identidade artística, impulsionando meu desejo de sempre representar o Vale do Jequitinhonha, independente do lugar em que eu estiver. Minha perspectiva sobre a importância da comunicação foi completamente transformada. Apesar do cansaço, estou muito grato e feliz por tudo isso”, afirma Sauan Alves, de 16 anos, estudante do 3º ano do Ensino Médio e integrante da Assessoria do evento.

Na persistência de narrativas reducionistas e estereótipos que parecem tão resistentes quanto rocha, ser comunicador e, ao mesmo tempo, morador do lugar-palco das histórias construídas pela grande mídia, é, sim, um ato de resistência. Resistir para não ser falado por alguém, mas para falar por si. A emancipação, palavra que norteia esta edição do ECVJ, é o que os comunicadores têm feito desde os sete últimos encontros, construindo, coletivamente, o Vale de hoje e do futuro.

“Sendo meu primeiro encontro, o ECVJ foi, para mim, uma experiência maravilhosa. Interagimos uns com os outros e obtivemos conhecimento de grande importância para nossa vida. Eu e muitas pessoas tivemos momentos que nos fizeram reconhecer a beleza do nosso Vale. Gostei muito da estrutura e dos envolvidos e pretendo participar dos próximos encontros”, diz Ranna Porto, de 16 anos, estudante do 3º ano do Ensino Médio e também integrante da Assessoria do ECVJ.

Interessante perceber o caráter multifacetado do Encontro de Comunicadores, que não é apenas um projeto de formação e discussão, como dito acima. A verdade é que o Encontro de Comunicadores do Vale do Jequitinhonha é algo maior, ramificado: é espaço de empoderamento, de construção, de coletividade e de aprendizado. Espaço que valoriza e ressignifica a riqueza do Vale e a transformação de pessoas, sobretudo de jovens, uma vez que, antes mesmo de entrarem na fase adulta, já possuem conhecimento e experiência na área comunicacional.


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