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O Vale celebra Nossa Senhora do Rosário

Por Bárbara Ribeiro em

Procissão. Devotos caminham para a Igreja do Rosário. Por IEPHA.

Cultura, alegria, fé, tradição e o som dos tambores. É assim que todos os anos, no mês de outubro, o Jequitinhonha se prepara para celebrar Nossa Senhora do Rosário. Em cada canto do Vale a festividade acontece de uma forma diferente a depender das tradições mantidas pela população e pela Irmandade do Rosário, mas seguindo os mesmos princípios de devoção. 

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é uma confraria de culto católico, criada para abrigar a religiosidade do povo negro, que na época da escravidão era impedido de frequentar as mesmas igrejas dos senhores. Os negros vindos da África, mesmo com suas próprias crenças, se tornaram devotos quando chegaram ao Brasil e mantém há séculos esses rituais.

Em Chapada do Norte, município do alto Jequitinhonha, é uma das tradições mais fortes que acontece oficialmente desde o ano de 1822, quando a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário foi registrada. É um momento importante para a cultura e a resistência negra na cidade, que preserva o legado do povo negro e sua a ancestralidade, repassando, desde o século XVIII, os elementos que envolvem a celebração.

Tradição. Grupo se reúne para a lavagem da igreja. Por Maurício Costa.

Esta festividade também é fortemente marcada pela presença do congado, que consiste em uma manifestação cultural e religiosa de raízes africanas. Sua origem estaria ligada à lenda de Chico-Rei, majestade de uma tribo do Congo que foi trazido forçadamente para o Brasil junto a outros negros para serem escravizados. Além disso, o congado é marcado pela procissão do  cortejo, grupo que acompanha a bandeira do santo de devoção ao som de cuícas, caixas, pandeiros e dos tradicionais tambores.

A cada ano são divulgados os vários momentos da festa que acontece sempre no segundo domingo de outubro. vão desde a novena, a distribuição do angu, a missa da posse, missa da festa até o reinado. São 11 dias de comemoração que tem como principal temática a coroação de reis e rainhas, representada por diferentes danças, lutas, canções e outros atos.

Alguns ritos como a quinta do angu e a buscada da santa são só acontecem no município e representam a resistência negra. No século passado haviam grandes banquetes dos senhores brancos dos quais os negros não podiam participar, então, como o fubá era um dos alimentos que eles tinham maior acesso, a distribuição do angu passou a simbolizar esse momento de confraternização próprio. 

A imagem de nossa senhora, que foi encontrada no lago do Rosário, foi levada por devotos brancos para a igreja do Rosário três vezes, mas a imagem misteriosamente voltava pro lugar de origem. Então os negros se reuniram e foram para o córrego buscar a santa cantando, batucando, dançando e, dessa vez, a imagem permaneceu no local, onde está até hoje. A buscada da santa é a representação desse momento e, assim como a quinta do angu, ocorre fielmente em cada edição da festa, contando com a participação de chapadenses, visitantes, tamborzeiros, congadeiros e irmãos do Rosário. 

Subida do Reinado. Por Maurício Costa.

O ex-presidente e atual procurador-geral da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, Maurício Costa, conta que a tradição é passada de geração em geração para não se perder ao longo do tempo. Além disso, a participação da comunidade católica de Chapada do Norte e das cidades vizinhas é enorme, e essa grande participação foi o que possibilitou a realização da 197ª festa, neste ano. 

A celebração faz parte da história do município e reúne um número cada vez maior de devotos. Segundo Maurício, nem mesmo a forte crise hídrica que assola o Chapada do Norte provocando racionamento de água nos lares chapadenses e o forte calor prejudicaram a realização e o sucesso da última edição. “A Igreja do Rosário lotada em todos os momentos foi um dos pontos altos do evento”, diz.

Clique aqui para saber mais sobre o registro de Patrimônio Imaterial da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de Chapada do Norte.


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