Histórico
O recurso educacional, Narrativas em Rede, é parte da dissertação de Mestrado Profissional intitulada “Variação Linguística em Narrativas Orais no Vale do Jequitinhonha – MG”, de autoria de Cleomar Poletto. O recurso surge a partir da necessidade de se registrar um corpus de narrativas orais que foram gravadas, a muitas mãos, pelo projeto Literatura Oral e pelo projeto Quem Conta Um Conto Aumenta Um Ponto. Todas as narrativas em áudio que se encontram no site, hoje em formato MP3, encontravam-se em fitas cassetes que foram gravadas pelos projetos de 1987-1997. Por se tratar de uma tecnologia que atualmente se encontra obsoleta e em desuso, optou-se por converter as narrativas do formato cassete para o formato MP3 para torná-las acessíveis às tecnologias móveis.
O projeto Literatura Oral no Vale do Jequitinhonha foi desenvolvido pela professora Vera Lúcia Felício Pereira e pelo professor Reinaldo Martiniano Marques e por estudantes bolsistas. Contou com financiamento do Conselho Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC – Minas.
A pesquisa, de acordo com Pereira (1996, p. 18), “consistiu na primeira fase, em ganhar a aquiescência” dos contadores-narradores para “depois conversar com eles e poder ouvi-los”. De acordo com Pereira, tomavam-se notas, gravavam-se e faziam-se os registros, “somente com o consentimento destes e se isso não os desagradasse’.
Marques e Pereira (1988), em artigo conjunto publicado no periódico o Eixo e a Roda, reiteram que as gravações sucederam-se a momentos anteriores de contatos prévios. O projeto, de acordo com os autores, tinha por objetivo identificar contos no Jequitinhonha; caracterizar o processo de produção, circulação e recepção; determinar as recorrências temáticas e as preocupações formais nela presentes e divulgar a literatura popular do Vale, partindo inicialmente em cinco municípios: Diamantina, Serro, Minas Novas, Turmalina e Araçuaí e posteriormente para outras cidades (Marques; Pereira, 1988).
Das análises que empreendi, constatei que os dois pesquisadores gravaram de 1987 a 1990 o total de 177 narrativas orais. Isso significa que juntos gravaram 69,4%. O projeto Literatura Oral conseguiu inventariar causos em 09 municípios, no Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha. No Alto, Capelinha, Diamantina, Itamarandiba, Minas Novas, Serro e Turmalina. No Médio Jequitinhonha, Araçuaí e Chapada do Norte. No Baixo, o município de Rubim.
O projeto Quem Conta Um Conto inventariou contos em Araçuaí, Minas Novas e Turmalina. Expandiu a pesquisa para Jenipapo de Minas e Malacacheta. Destaca-se que Malacacheta pertence ao Vale do Mucuri e faz divisa com o Vale do Jequitinhonha pelo município de Angelândia. As narrativas do município de Malacacheta também encontram-se disponíveis no site Narrativas em Rede. Assim, de 1995 a 1997, o Projeto Quem Conta Um Conto gravou 30,6% das narrativas, 78 no total. Gravou em Araçuaí, Minas Novas, Turmalina e expandiu a pesquisa para Jenipapo de Minas e Malacacheta, municípios em que o projeto Literatura Oral não tinha pesquisado de 1987 a 1990. Convém salientar que, antes de iniciar novas gravações, o Projeto Quem Conta Um Conto recepcionou as 177 narrativas gravadas pelo projeto Literatura Oral. Estas foram doadas à UFMG pelos professores da PUC-Minas, Vera Lúcia Felício Pereira e pelo professor Reinaldo Martiniano Marques, que se tornou professor da UFMG posteriormente.
De acordo com o Boletim da UFMG no 1321, do ano de 2001, o Projeto Quem
Conta Um Conto Aumenta Um Ponto foi criado no ano de 1995, pela professora Sônia Queiroz, da faculdade de Letras da UFMG. Contou durante todo o período com financiamento da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG – PROEX. A execução do projeto deu-se dentro do escopo do programa Polo Jequitinhonha UFMG.
Assim, atuando em 10 anos de pesquisas, de 1987 a 1997, os projetos Literatura Oral e o Quem Conta Um Conto conseguiram inventariar e gravar um total de 255 contos de encantamento, ensinamento, magia, causos e lendas que estão identificados por contadores, por município, por data de gravação. Destas 255 narrativas, 200 foram transcritas pelo projeto Quem Conta Um Conto e se encontram neste recurso educacional junto com os áudios.
Para torná-los acessíveis às novas tecnologias e à rede de computadores, foi necessário a conversão do formato cassete para o MP3. Tal trabalho demandou deste pesquisador centenas de horas de escuta, pois o acervo base com as 255 narrativas encontrava-se disperso em fitas cassetes, 57 ao total, conforme imagem abaixo.

O acervo em formato cassete soma mais de 85 horas de gravação. Para a extração dos áudios para o formato MP3 foi necessário muita atenção e escuta para demarcar e localizar com precisão as narrativas. Para tanto, utilizou-se de dois recursos: tocador de cassete e o software Audacity instalado em computador para salvar, cortar e trabalhar as narrativas. Atualmente o acervo em cassete se encontra sob a guarda e cuidados do Polo Jequitinhonha UFMG e as narrativas em MP3 neste site, distribuídas por município e por contador.
Cleomar Poletto
11 de dezembro de 2024
Referências bibliográficas:
BOLETIM UFMG, no 1321 – ano 27, Belo Horizonte, 20-06-2021, p.8.
MARQUES, Reinaldo M; PEREIRA, Vera L. Felício. O Artesanato da memória na literatura popular do Vale do Jequitinhonha. Periódico O Eixo e a Roda, v. 6, 1988. UFMG. Belo Horizonte, Minas Gerais. Acessado pela internet em 08 de maio de 2024, as 10:24. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/ 4230/4076.
PEREIRA, Vera Lúcia Felício. O Artesão da memória no Vale do Jequitinhonha. Belo Horizonte. Editora UFMG e Editora PUC-Minas, 1996.