Impactos provocados por projetos de desenvolvimento, conflitos que opõem camponeses e populações tradicionais, de um lado, e governo e grandes empresas, como a brasileira Vale, de outro, são a motivação de 120 fotografias que compõem a exposição Corredor de Nacala – comboio, carvão e gente no norte de Moçambique. A mostra, que integra a programação da SBPC Cultura, estará montada no saguão da Fafich, campus Pampulha, e poderá ser visitada de 17 a 21 de julho, das 9h às 17h.

As fotografias foram produzidas ao longo dos últimos dois anos e meio por cinco pessoas envolvidas em projeto do Laboratório de Antropologia das Controvérsias Sociotécnicas (Lacs) da UFMG, em parceria com a Universidade do Lúrio (UniLurio), em Moçambique. A proposta da mostra é de uma narrativa crítica da implantação do Corredor de Nacala, projeto de desenvolvimento destinado a escoar, pelo porto de Nacala, no litoral norte, a produção de carvão de minas localizadas em Moatize, Moçambique, distante mais de mil quilômetros.

Coordenada pelo professor Eduardo Viana Vargas, do Departamento de Antropologia e Arqueologia, a pesquisa, baseada em etnografia (observação participante), foi iniciada há cerca de três anos e tem conclusão prevista para 2018. O trabalho é realizado no âmbito do Programa Pró-mobilidade Capes/Aulp.

“Nosso objetivo é conhecer quem são os agentes e quem são os afetados, e como esses milhões de pessoas estão sendo afetadas”, afirma Eduardo Vargas. “Os conflitos são gerados por problemas como reassentamentos forçados, redução da disponibilidade para transporte de passageiros, diminuição das paradas para embarque e desembarque ao longo do caminho de ferro.”

Ainda segundo o professor, as empresas, ao promoverem reassentamentos, por exemplo, ignoram aspectos como a existência de lugares sagrados e a relação dos grupos populacionais com seus mortos. “Eles não aceitam facilmente deixar para trás seus entes queridos, nem os muros que são construídos colados às casas para dividir espaços e pessoas”, comenta Vargas.

As fotografias são de Ana Esperança Jafete Gule, Eduardo Viana Vargas, Helena Santos Assunção, Patrick Arley de Rezende e Raul Lansky de Oliveira. Mas os autores do trabalho são eles e Muitxs Outrxs*, por isso, ao assinarem o trabalho, os autores acrescentam a seus nomes “& Muitxs Outrxs*”, referência a um coletivo de pessoas e entidades que viabilizam a exposição.