[Reportagem: Natiele Lopes]

Uma torre de 325 metros de altura montada a cerca de 150 quilômetros de Manaus, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã e equipada com aparelhos capazes de captar informações sobre gases e partículas da atmosfera da Amazônia. Essas são as características do projeto observatório da Torre Alta na Amazônia, também chamado de Atto, apresentado em mesa-redonda realizada na tarde desta terça-feira, 18, durante a 69ª Reunião Anual da SBPC.

O projeto é uma expedição científica construída por meio de recursos brasileiros e alemães para monitorar emissões de gases, partículas, ciclos de nuvens, com o objetivo de ampliar a compreensão sobre as relações entre clima, química da atmosfera e os ecossistemas da região amazônica. O coordenador da mesa, Adalberto Luis Val, foi o responsável pela apresentação do projeto, que, em sua inauguração, em 2012, contou com equipe formada por 99 pesquisadores do Brasil e 88 estrangeiros. Os estudos realizados na torre já renderam mais de 50 artigos.

Adalberto Val apresentou o projeto. Foto: Foca Lisboa / UFMG

A atmosfera peculiar, com características do período pré-industrial, e a interação com a bioesfera são as principais razões para o estudo da Amazônia, segundo Luciana Varanda Rizzo, professora da Universidade Federal de São Paulo. Durante seu pronunciamento, a docente explicou que a emissão de compostos químicos da região impacta a atmosfera em âmbito global e que mudanças climáticas mundiais também podem alterar o fluxo da Amazônia.

A função da torre Atto é, portanto, monitorar alterações no funcionamento natural do ecossistema ao longo dos anos, principalmente após transformações que a região vem sofrendo, com desmatamentos e queimadas.

Laboratórios avançados

Carlos Afonso Nobre, pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), abordou as necessidades de um laboratório de pesquisas de excelência e analisou os desafios para a realização de estudos na Amazônia. Segundo o cientista, é essencial que um laboratório fixe pesquisadores reconhecidos e que eles tenham perspectivas de carreira e vida na região. Nobre também defendeu a formação de parcerias com programas de pós-graduação e outros centros de pesquisa nacionais e do exterior.

Nobre disse que estudos desenvolvidos na região devem ser coordenados por instituições locais, para preservar o legado científico.“Nenhuma região desperta mais interesse científico internacional do que a Amazônia”, concluiu.

 

Carlos Nobre, do Inpe: pesquisadores devem ter perspectiva de carreira na região. Foto: Foca Lisboa / UFMG