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Nº 1373 - Ano 29 - 07.11.2002


O renascer de uma cultura

Pesquisador indígena lança livro e revive ritual do fogo na UFMG

 

uito se fala no processo de aculturação dos povos indígenas, fruto do contato das tribos com a civilização urbana. Tão visível aos olhos do homem ocidental, tal dissolução das tradições, no entanto, explica apenas parte da realidade. Apesar de ter aderido a uma série de práticas do cidadão "civilizado", o índio jamais deixou de lado suas crenças e valores ancestrais. Há décadas na luta pelo resgate cultural de tribos do sudeste brasileiro, o pesquisador Kaka Werá Jecupé, descendente dos Tapuias, mas batizado pelos Guaranis, é um exemplo de como a chama dos antepassados permanece acesa. Cultivador dos ritos indígenas, Kaka estará na UFMG, no dia 13 de novembro, às 19h30. Como parte das comemorações dos 75 anos da Universidade, além de lançar o livro de memórias Todas as vezes que dissemos adeus, ele realizará, em frente à Reitoria da Universidade, o ritual sagrado do fogo. "Trata-se de cerimônia pelo sucesso de nossas relações com o mundo espiritual", explica.


Coordenador do Instituto Arapoty (pronuncia-se Arapotã, em Tupi), que busca intensificar a comunicação entre as diversas tribos e estudar as referências de cada tradição cultural, Kaka mantém estreito laço com instituições que apóiam a causa do índio. Além do contato com a UFMG, que sempre desenvolveu atividades de educação indígena, o pesquisador conta hoje com o apoio da Universidade de São Paulo (USP). Sediado na USP, o Instituto que criou, não por acaso, resume no nome uma de suas principais metas: Arapoty significa renascimento. No caso, o mais importante renascer diz respeito à restauração das tradições. "É preciso recriar a consciência social acerca dos costumes indígenas. Mesmo vivendo em São Paulo, utilizando roupas da cidade, vivemos de acordo com nossos valores e princípios", afirma o pesquisador.

O Instituto surgiu nos anos 90, como desdobramento natural de um conselho intertribal criado sob a coordenação de Kaka, e que reunia índios de várias etnias do Brasil. "Essa foi a semente do Instituto. Hoje, aliados complementam nosso trabalho em vários pontos do país. Desenvolvem ações nas aldeias e difundem nossos valores sagrados", conta Kaka. Boa parte das intenções da entidade gira em torno da difusão da cultura e da medicina indígenas. "Nossos preceitos sagrados são importantes para todas as comunidades, e não só para os índios", afirma o pesquisador. No Brasil, há apoiadores em instituições de natureza diversa. Na UFMG, por exemplo, a professora do Coltec, Andréa Horta Machado, coordenadora da UFMG Jovem, há bastante tempo admira o trabalho desenvolvido por Kaka. "Através dele, percebi a riqueza da cultura indígena. Sei hoje o quanto ela é capaz de ajudar as pessoas a refletir e enfrentar os problemas cotidianos", ressalta Andréa Machado.

Livros

Todas as vezes que dissemos adeus, livro que Kaka lançará na UFMG, é um relato autobiográfico, em que o autor trata da história de um curador em sua aldeia nas redondezas da Grande São Paulo. "Conto minha história na tribo, lembrando os grandes conflitos entre nós, índios, e a metrópole", diz.

A obra, editada na década de 80, é agora relançada pela editora Triom _ Centro de Estudos Marina e Martin Harvey Editorial e Comercial Ltda. Edição bilíngüe, o trabalho conta com fotografias de ritos, utensílios e peças de arte indígenas. Em outubro, o livro foi apresentado na França, durante o Congresso do Conselho de Tradições Ancestrais das Américas.

Além das memórias, Kaka é responsável por outras importantes obras de resgate da cultura indígena, como A terra dos mil povos e Tupã Tenondé.

Lançamento do livro Todas as vezes que dissemos adeus e realização do ritual sagrado do fogo
Autor: Kaka Werá Jecupé
Dia: 13 de novembro, às 19h30
Local: em frente à Reitoria (ao lado do Monumento ao Aleijadinho)