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Silviano Santiago
"A beleza é uma forma de resistência"
m dos mais importantes intelectuais brasileiros, o escritor e crítico literário Silviano Santiago é o editor de Margens/Márgenes. Professor aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF), sempre se envolveu em discussões acerca da resistência cultural de países periféricos ao pensamento hegemônico das grandes potências. Atualmente, além de redigir a narrativa de um documentário, produzido pelo Grupo Novo de Cinema, sobre o naturalista dinamarquês Peter Lund (1801-1880), Santiago acaba de organizar e lançar o livro Carlos e Mário - correspondência de Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Nesta entrevista ao BOLETIM, o escritor comenta o papel da revista no preenchimento de lacunas da discussão cultural sul-americana.
Como o senhor vê a publicação de Margens/Márgenes
no meio cultural sul-americano?
Margens/Márgenes é fruto de um projeto semeador. A equipe responsável pela revista deu-se conta de que havia vários terrenos baldios na discussão cultural sul-americana. Um desses terrenos eram as relações culturais entre os vários países. Qualquer pessoa de bom senso percebe que essas relações são muito mais fortes do que a produção conjunta dá a entender. O outro terreno, mais amplo, é o das relações dos países sul-americanos com o capitalismo central, depois da queda do muro de Berlim, face às grandes explosões políticas e econômicas do presente milênio. O interesse neste segundo terreno não é o de retomar a teoria da dependência. É, antes, o de mostrar como o mundo globalizado está remapeando, com mais injustiça e crueldade, a periferia. Nesse sentido, desde o primeiro número da revista, foi dada a devida atenção não só a discussões propriamente sul-americanas, mas também às questões da Palestina e do Islã.
Como o senhor vê a resistência sul-americana à globalização cultural?
A resistência não é de hoje. Ela vem sofrendo transformações. Na verdade, o governo Lula, caso dê certo, vai desimcumbir os intelectuais brasileiros de várias tarefas a que se dedicam no momento. É inegável que, para qualquer artista, é muito melhor fazer arte do que guerrilha. Só se faz guerrilha cultural quando a situação reclama. O projeto dessa revista não é só de resistência cultural. Ela também está-se afinando às novas potencialidades do Brasil. A revista, antes de mais nada, é muito bonita. E a beleza é uma forma de resistência. O Brasil é um dos maiores produtores de feiúra cultural no mundo, como revelam programas como os do Ratinho e do João Cléber. Precisamos mostrar que o Brasil deve produzir gestos, ações, imagens e palavras belas. Acredito que, no momento em que o artista brasileiro puder explorar a beleza, a tarefa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico) em financiar a ciência será muito mais fácil. A grande pesquisa científica tem muito a ver com a beleza na arte, bem como a melhor filosofia. Essa é a utopia da revista Margens/Márgenes.
O que representa para a carreira do senhor a edição de Margens/Márgenes?
Antes de mais nada, esse trabalho, do ponto de vista extremamente pessoal, representa uma continuidade de minha carreira docente. Sempre achei muito importante manter uma relação sensível e equilibrada com as novas gerações. Não porque as novas gerações se enriqueçam, mas porque eu me enriqueço com elas. O reencontro tardio com os professores Wander Melo Miranda, Eneida Maria de Souza e Maria Antonieta Pereira, além de toda a equipe da revista, é uma de minhas melhores experiências vivenciadas recentemente.