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Nº 1409 - Ano 29 - 25.09.2003

/ Jan Ekecrantz

Sob a ditadura da pupila

m dos grandes pensadores contemporâneos das relações sociais fundadas a partir de uma sociedade midiática, o professor da Universidade de Estocolmo, Jan Ekecrantz, esteve na UFMG esta semana, para participar do colóquio Mídia, identidades coletivas e espaço público. Ele proferiu a conferência de abertura, sobre redes de participação e espaço público no mundo globalizado.

Na entrevista abaixo, o pesquisador fala de como a mídia altera os processos democráticos, e, sombrio, vislumbra uma sociedade passiva, indiferente aos debates públicos e que viverá de prazeres visuais.

Em artigo recente, o senhor afirma que devemos estar preparados para "viver em um mundo onde não existe espaço e nem tempo para deliberações democráticas". Como é esse novo mundo?

Esta realidade ainda não existe hoje, mas outro mundo, no qual algumas pessoas sentem-se paralisadas pelo fluxo de eventos aterrorizantes da mídia global, como guerras e catástrofes, e sobre os quais elas não podem fazer nada. Este tipo de experiência não mobiliza as pessoas, ela é apassivadora e nos torna indiferentes. "Fadiga compassiva" é o termo que tem sido usado para defini-la. Mas isso ainda é uma tendência e tem reações oposicionistas, com pessoas protestando e incentivando protestos. Meu artigo é muito mais sobre algumas tendências de conflitos nas sociedades midiáticas atuais.

A idéia de pessoas indiferentes, passivas diante de eventos midiáticos, não quebra o propósito da racionalidade como base para as deliberações democráticas?

A racionalidade é um princípio que não pode ser tomado como o único em discussões sobre o fenômeno político. Uma definição ampliada de "política" deve incluir também os chamados elementos "irracionais", caso contrário nós excluimos do fenômeno político aqueles (os "espetáculos" e os "carnavais" como

eu os chamo) que também podem mudar o mundo e que, na verdade, inspiram a deliberação democrática. Os processos e procedimentos democráticos - que, por um lado, operam dentro de instituições e, por outro, aqueles que operam fora das instituições - guardam dependência entre si. E nós devemos observar o quadro como um todo.

Em outro ponto de seu artigo, o senhor afirma que nossa sociedade vive dos prazeres das sensações visuais. Nesses termos, que tipo de sociedade está nascendo?

Como disse antes, essa sociedade ainda não existe como tal, mas é uma tendência. É importante que identifiquemos tal tendência. Ao falar dos prazeres das sensações visuais, é necessário lembrar também que não quero dizer que o visual seja necessariamente mais primitivo ou menos racional que a comunicação por textos, como tendemos a acreditar numa sociedade com fixação textual como a sueca. O problema é que, especialmente na televisão global, nós somos bombardeados o tempo todo com matérias visualmente dramáticas, distribuídas ao vivo ao redor do mundo. Não podemos tratar disso de nenhuma outra maneira senão como um sentimento de prazer que vem da experiência de proximidade a distância, uma participação vicária de "contato" com pessoas distantes.

 

 


Projeto Vita Sopa recebe financiamento do BNDES

Jurandira Gonçalves

número de creches, escolas e comunidades carentes que recebem o alimento do Vita Sopa poderá ser aumentado a partir de convênio assinado entre a UFMG e o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no dia 12 deste. O acordo prevê a integração do conhecimento técnico e científico da UFMG com os propósitos do BNDES e com ações e programas do governo, caso do Fome Zero. Também faz parte dos objetivos a criação de oportunidades para a utilização de pessoal técnico, instalações e laboratórios da Universidade em programas sociais e econômicos, além da motivação de estudantes para a participação em estudos e pesquisas de interesse público. Para isso, a UFMG deverá receber recursos que serão aplicados em suas instalações, equipamentos e pessoal.

Já produzida em uma fábrica na Ceasa, a sopa terá a produção ampliada, e a relação entre custo e benefício melhorada com o convênio. Segundo o pró-reitor de Extensão, Edison Corrrêa, cabe à Universidade desenvolver pesquisas de processos industriais e técnicas de aproveitamento de sobras de hortifrutigranjeiros para a produção de sopas, sucos e doces. "Queremos montar um protótipo de produção, para que o modelo possa ser reproduzido em todo o Brasil. Após desenvolvida, a planta industrial será disponibilizada gratuitamente", afirma o pró-reitor.

Além da preocupação com a segurança alimentar, o projeto prevê a criação de um Centro de pesquisa e treinamento de alimentação popular, que se torne pólo irradiador para todo o país, e o desenvolvimento de programas alternativos de geração de emprego e renda. Estão envolvidos alunos da escola de Engenharia, e as faculdades de Ciências Econômicas e Farmácia.

Segundo o presidente do BNDES, Carlos Lessa, financiar um projeto dessa escala faz parte da função do banco, que é promover o desenvolvimento brasileiro pensando a inclusão social. "Para que tenhamos políticas sociais bem-sucedidas, é preciso a sustentação de políticas industriais bem-sucedidas, e este projeto atende a essa necessidade".