Busca no site da UFMG




Nº 1466 - Ano 31 - 9.12.2004

A vedete das nanotecnologias

Departamento de Física desenvolve nanotubos de carbono para a indústria petrolífera

Ana Rita Araújo

utilização de gás natural para a produção de nanotubos de car-bono é uma das mais recentes pesquisas, na área de nanociência, em desenvolvimento no departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da UFMG. Financiado pelo CNPq, o estudo é uma forma de agregar valor ao gás e deve resultar na utilização dos nanotubos, pela Petrobras, como filtros de combustível. O projeto foi aprovado pelo edital CTPetro 17/2004, que pretende estimular a produção e o desenvolvimento tecnológico na cadeia produtiva do petróleo e do gás natural.

Os nanotubos são estruturas cilíndricas formadas por átomos de carbono com diâmetro de aproximadamente um nanômetro (cerca de cem mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo). Descobertos há pouco mais de dez anos, são as gran es vedetes da chamada "era da nanoeletrônica", pois, além de fortes candidatos a substituir o silício _ base de toda a eletrônica atual _, têm diversas outras aplicações, como o armazenamento de energia. "A capacidade de produção de estruturas de silício cada vez menores deverá estar saturada em alguns anos. Daí a corrida por novos materiais", explica o professor Marcos Assunção Pimenta, do departamento de Física.

O grupo de pesquisa coordenado por Pimenta é pioneiro no Brasil e um dos poucos no mundo a estudar e produzir os nanotubos de carbono. Nos laboratórios do departamento, os cientistas analisam suas propriedades óticas, além de realizar trabalhos de modificação química e modelagem teórica. O reconhecimento internacional da equipe está relacionado, sobretudo, ao estudo das propriedades físicas fundamentais dos nanotubos de carbono.

"Temos condições de fornecer os nanotubos para várias possíveis aplicações", diz o professor. Na sua opinião, se a transferência de tecnologia não ocorre com mais intensidade no país não é por timidez dos pesquisadores ou da Universidade, mas devido à falta de uma política industrial no Brasil. "Como não investe em pesquisa, o setor privado, em geral, não está capacitado para aplicar os conhecimentos desenvolvidos na academia", comenta.

Timidez mineira

Enquanto os países desenvolvidos aplicam grandes somas de recursos em nanociência, no Brasil, diz Marcos Pimenta, os recursos são suficientes apenas para manter as pesquisas em andamento, "mas não para sermos realmente competitivos internacionalmente". Ele acrescenta que "Minas Gerais ainda não acordou para a importância da nanociência e das nanotecnologias" e que a Fapemig "tem sido muito tímida, pois praticamente todos os recursos investidos nessa área vêm do governo federal".

Pimenta coordena na UFMG o Instituto de Nanociências, um dos braços do Programa Institutos do Milênio, lançado em 2001 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A iniciativa estimulou a criação de centros de pesquisa capazes de desen-volver conhecimento tecnológico de vanguarda em áreas de relevância para a população. O Instituto de Nanociências desenvolve pesquisas em cinco linhas: nanotubos de carbono; sistemas magnéticos nano-métricos; propriedades físicas de sistemas biológicos; polímeros nanoestruturados; e nanoestruturas semicondutoras.

Segundo Marcos Pimenta, a experiência da UFMG na área da nanociência _ tanto em Física quanto em Química e Biologia _ credencia a instituição a sediar o Instituto Nacional de Nanotecnologia que deverá ser criado pelo MCT. "Devemos nos articular para tentar influir neste cenário, uma vez que a UFMG tem todas as condições técnicas e científicas para receber este Instituto", afirma o professor.

Legenda (Foto 1): Imagem dos nanotubos de carbono: substitutos do silício
Legenda (Foto 2): Marcos Pimenta: UFMG pode abrigar instituto de nanotecnologia
Fotos: Eber Faioli