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Nº 1466 - Ano 31 - 9.12.2004

 

 

Reforma curricular e formação docente

Janetti Nogueira de Francischi*

esse momento, nossos professores universitários devem estar enga-
jados em pelo menos uma das reformas curriculares em andamento na UFMG, para a adequação dos diferentes cursos profissionalizantes às novas diretrizes nacionais.

Como integrante desse processo em dois cursos, o de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado diurnos) e o de Odontologia, foi possível observar uma questão recorrente entre os participantes na maioria das discussões: a necessidade de capacitação dos docentes dos dois cursos. Considerando-se que a maioria dos professores dessas duas unidades detêm o título de doutor, sendo os demais professores mestres ou especialistas, pareceria descabido mais um investimento de nossa Universidade na capacitação de profissionais de tão alto gabarito. Testemunhas dessa realidade são as publicações recentes nos veículos de divulgação nacional, que têm apontado a UFMG como a terceira universidade do país em produção científica, o que colabora para a excelente posição do Brasil, em relação a outros países, nesse quesito.

A capacitação requerida pelos professores nas discussões mencionadas acima referem-se a quê? Interpreto esta questão da seguinte forma: estamos querendo aprender a ser professores, ou melhor, bons professores.

Uma das conseqüências da reforma universitária instaurada a partir de 1968 foi o enorme investimento feito pelas universidades públicas no treinamento científico de seus professores, tarefa à qual a UFMG aderiu com todo entusiasmo. Necessário salientar que tal treinamento, por dever do próprio ofício, limita-se ao objeto de estudo, demandando contínua especialização do mesmo _ o que pode levar à perda da noção do todo. Pois o desenvolvimento descrito como "científico" caracteriza-se pela divisão do todo em partes menores, para facilitar sua compreensão.

É altamente reconfortante reconhecer, na atual conjuntura, que há uma percepção latente nos professores da UFMG sobre a necessidade de mudar. Não há dúvida de que devemos nos voltar para dentro e nos imbuir de força e coragem para pôr em prática essa nova tarefa, que certamente será redentora.

Como fazê-lo? Uma sugestão que nos parece perfeitamente adequada seria a de se incentivar nossos professores titulares _ ou os professores com maior titulação nas unidades da UFMG _ a se responsabilizarem pela tarefa de ajudar na formação e capacitação dos professores recém-contratados e dos docentes mais jovens.

Isso poderia ser feito de duas formas: primeiro, mudando as exigências de atendimento ao próprio concurso para professor-titular (ou correlato), atualmente existente em nosso Regimento. Sugiro que seja incluída, nos editais de concurso para professor titular na UFMG, a obrigatoriedade da participação na formação e capacitação de professores menos graduados.

Segundo, oferecendo condições ou meios para que essa tarefa se torne realidade na Universidade. Nesse caso, os professores titulares envolvidos na formação de docentes mais jovens poderiam ser contemplados com gratificações que contribuiriam para melhorar seus rendimentos. Além disso, as horas de docência aplicadas na comprovada formação dos jovens professores poderiam se transformar em condições de aprovação dos chamados relatórios INA _ que registram as atividades docentes anuais _ dos professores titulares.

Os professores titulares ou com maior titulação são aqueles que dominam com maior desenvoltura o conhecimento de determinada área. Eles devem ter uma visão retro e prospectiva a respeito dela, podendo delimitar os rumos que aquele conhecimento pode abranger num futuro não tão distante. Estariam, portanto, aptos a balizar e oferecer esse conhecimento aos mais novos, pelo menos aos jovens professores de seus respectivos departamentos ou áreas.

Estabelecida como atividade formal, essa tarefa se revestiria de caráter multiplicador, já que a atuação de jovens professores mais preparados produziria um formidável impacto na preparação dos estudantes e, conseqüentemente, sobre a formação e estrutura de nossa sociedade.

Dessa maneira, a questão sempre reiterada pelos reconhecidamente bons professores de nossa Universidade _ e nem sempre bem compreendida pelos segmentos acadêmicos _ sobre a dissociação entre o professor-pesquisador e o professor- "professor" tenderia a desaparecer.

Não basta apenas sermos reconhecidos como excelentes pesquisadores. Precisamos que a nossa condição de professores seja igualmente reconhecida por nossos colegas docentes e, principalmente, por nossos alunos, porta-vozes da universidade junto à sociedade. Se isso ocorrer, o quadro atual da docência _ em que o professor vive uma situação de extrema desvalorização _ poderá mudar por completo. Além do mais, começaremos a indicar à comunidade, ao nosso povo, que os jovens terão, de fato, um futuro promissor à sua espera.

*Professora do departamento de Farmacologia do ICB

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