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Nº 1490 - Ano 31 - 30.6.2005

Geração inteligência

Pesquisadora da UFMG constata aumento de QI das crianças belo-horizontinas em 72 anos

Ana Paula Ferreira

ma velha percepção do senso comum, segundo a qual as crianças
de hoje são mais inteligentes que as do passado, acaba de ganhar respaldo científico. Com base em dados apurados em 2002, o Laboratório de Avaliação das Diferenças Individuais (Ladi)*, do departamento de Psicologia da Fafich, constatou que o Quociente de Inteligência (Q.I.) das crianças belo-horizontinas entre 7 e 11 anos é, em média, 17 pontos maior que o de meninos e meninas da mesma faixa etária que moravam na capital mineira em 1930.

A pesquisa, coordenada pela professora Carmen Mendoza, foi possível graças aos estudos realizados pela educadora russa Helena Antipoff, que mudou-se para o Brasil em 1929. Assim que chegou a Belo Horizonte, Antipoff começou a estudar o desenvolvimento intelectual das crianças mineiras e, em 1931, publicou um livro apresentando os resultados de suas pesquisas.


Carmem Mendoza (ao fundo, de verde) com a equipe do Ladi
Foto: Foca lisboa


Graças a um exemplar da obra, arquivado na Faculdade de Educação da UFMG, a professora Carmen teve acesso à metodologia utilizada por Helena Antipoff e resolveu reaplicar a pesquisa. “Com os dados relativos a 2002, obtidos através da mesma metodologia da pesquisa de 1930, foi possível realizar a comparação quantitativa e descobrir o quanto as crianças ficaram mais inteligentes nesses 72 anos”, diz a pesquisadora.

Figura humana

O exame foi aplicado em 449 meninos e meninas, entre 7 e 11 anos, estudantes de seis escolas de Belo Horizonte – três localizadas em regiões pobres e três em áreas de classe média. A todas, foi pedido que fizessem um desenho do ser humano. Essa técnica, denominada Teste da figura humana, é um instrumento psicológico simples e de baixo custo, utilizado internacionalmente para avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil. “É uma análise baseada no pressuposto de que à medida que a criança cresce, ela desenvolve a capacidade de desenhar e de fazer representações mais evoluídas da figura humana”, explica Carmen Mendoza. De acordo com a professora, existe uma série de critérios de avaliação da qualidade das figuras, como proporcionalidade dos traços, presença de olhos, boca, nariz, cabelo e mãos, que orientam os cálculos matemáticos. Ao fim da comparação constatou-se uma diferença de 17 pontos a favor das crianças da atual geração.

Causas

A professora atribui a elevação da capacidade cognitiva dos meninos e meninas às melhorias nas condições de saúde, higiene e alimentação. "Hoje, a maioria das mães realiza exames pré-natal e têm a preocupação de levar os filhos ao médico. As crianças de hoje também são mais estimuladas, e o acesso à informação é muito maior", aponta.

O estudo realizado pelo Ladi é o primeiro no mundo a abranger um intervalo de tempo acima de 70 anos. "Isso é uma novidade para a comunidade científica nacional e internacional. Geralmente, os estudos de ganho cognitivo entre gerações compreendem um intervalo de 30 a 50 anos", revela a coordenadora de estudos.

* O Ladi foi criado em 2001 pelas professoras Carmen Mendoza e Elizabeth do Nascimento, do departamento de Psicologia, para preencher uma lacuna na área em relação à quantificação de fenômenos psicossociais. Até então, a produção nacional se caracterizava por pesquisas qualitativas e análises subjetivas, com pouco poder de generalização.

O Laboratório trabalha com modelos matemáticos sofisticados, capazes de quantificar fenômenos sociológicos, predizendo, com algum grau de segurança, comportamentos relacionados a fatores como idade, sexo, procedência geográfica, nível socioeconômico ou de instrução.