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Nº 1492 - Ano 31 - 14.07.2005

Terra sem lei

Professora Carla Anastasia publica livro com ensaios sobre a violência
nas Minas do século XVIII


Flávia Camisasca

as localidades mais remotas das Minas Gerais do século XVIII, onde faltava um poder regulador, imperava a violência, que, por outro lado, era bem menor nas áreas mais urbanizadas. É o que conclui o livro A Geografia do Crime – violência nas Minas setecentistas, da professora Carla Maria Junho Anastasia, do departamento de História da Fafich e publicado pela Editora UFMG.

A historiadora explica que a vigilância da Coroa portuguesa praticamente se restringia às vilas, centros urbanos onde estavam instalados os organismos de poder local. Assim, os arraiais, áreas urbanas em que não havia câmara, e os sertões, regiões mais distantes e quase despovoadas, ficavam “descontrolados”. “Eram locais marcados pela total ausência de autoridade oficial. Quando havia autoridade, ela era exercida pelos potentados locais ou era inepta e corrupta”, afirma a professora Carla Anastasia.

Os arraiais e sertões eram mais propícios à violência, pois neles se instauravam o mandonismo bandoleiro, “a ação de bandidos liderados por patronos que poderiam ser ministros do rei, grandes potentados ou fazendeiros”, esclarece Anastasia. Essas áreas configuravam o que a historiadora denomina de zonas de non-droit, regidas pela arbitrariedade e pelo não-reconhecimento aos direitos e à justiça.

Os ensaios

A obra, estrutura em quatro ensaios, é resultado do trabalho que a professora Carla Anastasia já desenvolvia em artigos e palestras produzidos no meio acadêmico. São eles:

A construção dos espaços da violência – A (des)organização política-administrativa da capitania de Minas Gerais – Trata da formação da capitania de Minas Gerais em torno da exploração do ouro. Aborda a constituição de organismos reguladores em vilas e tentativas quase sempre mal-sucedidas de institucionalização política em áreas mais remotas.

Terra de ninguém – Aborda as áreas onde não havia institucionalização política, como os sertões do São Francisco, do Norte de Minas e do Rio das Mortes, no Sul do Estado.

Rapina, contrabando e vendeta – Relata práticas ilícitas e violentas mais comuns nas Minas setencentistas.

Joaquim Manoel de Seixas Abranches – um ouvidor bem pouco ortodoxo – Resgata a trajetória de Joaquim Manoel de Seixas Abranches, autoridade local da Comarca de Serro Frio, na região de Diamantina. Cometeu arbitrariedades, como a substituição de oficiais da Intendência do Ouro por pessoas de sua confiança, e insubordinou-se ao governador da Capitania de Minas Gerais, D. Rodrigo José de Menezes.

Editora comemora 20 anos

A Editora UFMG, comemorou, no dia 4 de julho, 20 anos de atividade editorial voltada para ensino, pesquisa e extensão. “A editora é um retrato da produção acadêmica da UFMG”, diz o diretor, Wander Melo Miranda. Por ano, o órgão lança cerca de 60 títulos.

Ao mesmo tempo, sua principal coleção, a Humanitas, atingiu a marca de 100 publicações, com o livro A Geografia do Crime – violência nas Minas Setecentistas. Carla Anastasia foi convidada a escrever essa edição comemorativa, já que ela é professora da Universidade e seu livro reflete sobre Minas Gerais, mas sem se prender a uma visão localista.

O catálogo da Editora UFMG reúne mais de 400 obras que contemplam áreas como Letras, Filosofia, História e Ciência Política. “A Editora é uma das melhores expressões da combinação qualidade e divulgação, pois a produção é conhecida nacional e internacionalmente”, afirma o diretor.