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Nš 1500 - Ano 31
15.09.2005



Veneno que cura

Mapeado no ICB, veneno do escorpião amarelo possui proteínas com ação terapêutica e aplicação na agricultura

 

Ludmila Rodrigues

inventário das proteínas do veneno do Tityus serrulatus – o escorpião amarelo – tem sido apontado como uma das mais importantes pistas para avanços da biotecnologia. O estudo, desenvolvido por pesquisadores do ICB, identificou moléculas no veneno que podem resultar em novos medicamentos e produtos para combater desde infestações de insetos até doenças como a hipertensão.

O estudo Proteoma estrutural e funcional do veneno do escorpião amarelo já mapeou cerca de 400 moléculas, entre elas potenciais componentes com propriedades inseticidas, anti-hiper­tensivas e antimicrobianas.

Liderado pelos professores Adriano Pimenta e Maria Elena de Lima, do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, o estudo é parte do programa da Rede Proteoma Nacional, que une universidades e institutos de pesquisa.

Um dos mais potentes, o veneno do T. serrulatus, chamou atenção dos pesquisadores principalmente pela sua elevada toxidade. Ele age sobre o sistema nervoso central, causando dor aguda. Outro fator relevante é a ocorrência do animal na região de Belo Horizonte.

Foto: Foca Lisboa

 

 

 

 

 

 


Adriano Pimenta e Maria Elena de Lima: veneno possui proteínas com ação medicinal


Segundo a professora Maria Elena, a fêmea do escorpião amarelo não precisa do macho para reproduzir, fato que contribui para a proliferação do artrópode. “É uma espécie amplamente disseminada em regiões urbanas”, afirma ela, lembrando que a ação das proteínas é bem diversificada, “possibilitando, por exemplo, estudar o sistema nervoso”. Isso porque o efeito paralisante do veneno bloqueia os estímulos nervosos. Na prática, tal característica pode ser aplicada na produção de inseticidas, já que a ação de proteínas do veneno é capaz de aniquiliar pequenos insetos.

Para o professor Adriano Pimenta, o estudo do veneno dos escorpiões trouxe, sobretudo, a possibilidade de avanços nas áreas da biologia e medicina. “Pretendemos conhecer a fundo os componentes do veneno e extrair o máximo do seu potencial biotecnológico”, adianta o professor. O grupo já depositou patente de uma molécula encontrada no veneno do escorpião e que, após outros estudos, pode ser sintetizada para produção de anti-hipertensivo. “Mas serão necessários pelo menos dez anos para que um medicamento desse alcance o mercado”, alerta o professor.

Investimento

Há cerca de três anos, os pesquisadores do ICB empenham-se em estudar o proteoma (conjunto das proteínas) dos venenos de animais peçonhentos, como escorpiões, aranhas e serpentes. Naquela época, os laboratórios da UFMG foram aparelhados para o estudo com recursos de R$ 1,5 milhão liberados pela Fapemig e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Somente com a ajuda desses equipamentos, como o espectrômetro de massa, foi possível mapear um número mais expressivo de substâncias. A tecnologia permite fragmentar e identificar a estrutura das moléculas. “Estuda-se o veneno do escorpião há mais de 50 anos, mas até pouco tempo havia apenas 20 proteínas reconhecidas”, afirma o professor. “Em dois anos, pretendemos multiplicar o número de moléculas iden­tifi­cadas”, acrescenta a pesquisadora.

Desde 2003, Minas Gerais integra a Rede Proteoma Nacional. Iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), esse grupo de pesquisas busca desvendar as informações contidas nos proteomas de diversos organismos, como os de escorpiões e aranhas. Um dos objetivos da Rede é mapear as funções de cada proteína e suas atividades. “Ela favorece a cooperação entre os laboratórios”, ressalta Adriano Pimenta. Além da UFMG, o consórcio é formado por outros laboratórios de Minas Gerais (Fundação Ezequiel Dias, Centro de Pesquisas René Rachou e universidades federais de Viçosa, Ouro Preto e Uberlândia), Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.


O perigo mora em casa

Em Minas Gerais, o índice de mortalidade por picadas de escorpião (2,5%) é maior que o provocado por picadas de cobras (0,5%). Por ano, no Brasil, 20 mil pessoas são picadas por serpentes, oito mil por escorpiões e cinco mil por aranhas. Por outro lado, 85% das picadas de animais peçonhentos são consideradas leves e o tratamento pode ser feito com analgésicos. Os casos mais graves envolvem crianças e idosos.

Para se prevenir da ação dos escorpiões, é preciso evitar o acúmulo de entulhos e manter o ambiente doméstico, quintais, jardins e terrenos baldios sempre limpos, pois esses animais procuram lugares escuros e úmidos. Roupas e calçados devem ser inspecionados antes de usados. Em caso de picada, recomenda-se procurar, em Belo Horizonte, o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, que está estruturado para atender casos de escorpionismo.

Os principais sintomas de ataque de escorpião são dor local intensa, náuseas, sudorese, vômitos e, em casos mais graves, taquicardia e edema pulmonar.

Fonte: Ministério da Saúde