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Nº 1510 - Ano 32
24.11.2005

A UFMG e os desafios na gestão
de recursos humanos

Allan Claudius Queiroz Barbosa*


recente processo eleitoral na UFMG, que definiu os futuros gestores institucionais para os próximos quatro anos, amplifica o debate sobre os rumos e alternativas que se colocam a uma das mais importantes Ifes do sistema público de ensino superior.

É, sem dúvida, um momento privilegiado, que nem sempre permanece ao longo do tempo, mas que permite manifestações condizentes com uma cultura que impõe o debate e a diversidade para uma construção verdadeiramente coletiva.

Nesta perspectiva, é sempre importante discutir a inserção da UFMG em um quadro marcadamente desfavorável no plano externo, com sinais pouco claros de uma política consistente e continuada de apoio ao ensino superior público, aliada a uma incerteza quanto à manutenção do aparato institucional de suporte à pesquisa em patamares de longo prazo. Também é preciso refletir sobre o desejável formato de autonomia, que efetivamente viabilize projetos articulados na lógica das políticas e das ações gerenciais.

Ainda é importante pensar sobre o atual cenário de contenção dos salários dos docentes e servidores técnico-administrativos e a contrapartida da intensificação de sua jornada de trabalho, aspecto agravado pela redução paulatina de quadros ao longo dos anos. Espera-se que esse cenário melhore com as novas e futuras “aquisições”.

Longe de esgotar a multiplicidade de enfoques e perspectivas que podem ser considerados em uma leitura sobre a Universidade hoje e sobre aquela desejada, um aspecto merece abordagem diferenciada, na medida em que sobre ele também reside a perenidade de uma instituição que sempre se pautou pela tradição, rigor, qualidade e excelência acadêmica, em uma inserção social privilegiada e de grande influência e respeito.

Trata-se da renovação dos quadros da Universidade, sejam docentes, sejam técnico-administrativos. No primeiro grupo, a saída de professores no início dos anos 90 foi um primeiro indicador dessa situação. A manutenção de um conjunto de valores historicamente constituído estaria associada, em grande medida, a uma reposição sistemática de pessoal, que garantisse esta identidade e sua repro­dutibilidade. Naturalmente, a velocidade desta reposição nem sempre foi acompanhada pela liberação de novas vagas, e este aspecto foi agravado na segunda metade da década de 1990, seja pela continuidade das aposentadorias, seja pela atração do mercado de trabalho, que se ampliou significativamente via rede privada de educação. Isso delineou-se em um quadro de contenção salarial e de poucas ações efetivas voltadas ao ensino superior público. Essa situação acabou criando uma espécie de hiato entre o grupo de professores que permaneceu na Universidade e os novos docentes que passaram a integrar os quadros da Instituição. Hiato este não-relacionado à qualidade e/ou excelência, mas, sim, ao vínculo valorativo à instituição, diferente daquele que pautou a inserção docente em décadas anteriores.

No segundo grupo, de servidores técnico-administrativos, a situação, que também é a mesma, foi agravada pela gradativa eliminação de postos de trabalho, decorrente da mudança do perfil da atividade ao longo dos anos. Esse quadro acaba por levar os atuais e futuros gestores da UFMG a uma reflexão que considere o espaço contemporâneo e suas constantes transformações, com pressões sobre os diversos atores e naturalmente sobre aquela área ou atividade que gerencia pessoas, forçada a reagir constantemente às mudanças, propondo soluções capazes de criar um diferencial que mantenha o tecido equilibrado sem riscos de esgarçar.

A UFMG deve estar permanentemente preparada para criar condições de minimizar as diferenças que gerem esfacelamento, tendo ainda o desafio de estar atenta às exigências cada vez mais profundas de uma comprovação de resultados acadêmicos e institucionais. Muito já foi feito, e o trabalho deve continuar também na perspectiva de consolidar, na UFMG, as condições de perenidade e preservação de valores que fazem parte do imaginário coletivo. Para isso, é imprescindível direcionar o olhar para a reposição de quadros e seus mecanismos de socialização institucional.



*Professor do departamento de Ciências Administrativas da Face

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