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Nº 1539 - Ano 32
13.07.2006

A ciência em rede

Parcerias entre UFMG e Cetec ampliam capacidade de produção tecnológica
de Minas Gerais

Ana Rita Araújo

equisito cada vez mais necessário a pesquisadores e instituições, a
capacidade de trabalhar em rede tem sido fonte de inúmeros avanços para a ciência. Na UFMG, a parceria bem sucedida com a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec) demonstra que é possível tirar partido das diferenças, em busca de objetivos comuns. Por meio de convênios firmados nos últimos dez anos, as duas instituições têm realizado trabalhos conjuntos que colocam Minas Gerais em destaque no cenário nacional. “O caminho é a rede”, afirma o diretor de Desenvolvimento e Serviços Tecnológicos do Cetec, Sílvio Dias Pereira Neto.
Foca Lisboa

Sílvio Dias: a rede como único caminho


Para o reitor da UFMG, Ronaldo Pena, o Brasil ultrapassou o status de criador de ilhas de excelência. “Precisamos transformá-las em um continente”, afirma, ao ressaltar a necessidade de somar as competências pessoais e institucionais, colocando-as a serviço do desenvolvimento tecnológico e científico de Minas Gerais e do país. Na opinião do Reitor, já passou o momento em que os pesquisadores buscavam separadamente seus representantes em diversas instituições. E cita a parceria com o Cetec como exemplo de sucesso no desenvolvimento de tecnologia e na co-orientação de alunos. “Meu interesse está, justamente, nessa sinergia. Por isso, a reitoria buscará maior aproximação não só com o Cetec, mas também com outras instituições de pesquisa, o que dará à UFMG a possibilidade de cooperar, ainda mais, para o desenvolvimento científico brasileiro”, completa Pena.

Tecnologia automotiva, uso de nanotecnologia para o desenvolvimento de fármacos, análise físico-química de amostras de combustíveis, recuperação de monumentos históricos, certificação de madeiras e conservação de recursos hídricos são exemplos de pesquisas conjuntas. Na área de tecnologia automotiva, por exemplo, convênio firmado em 2001 já rendeu teses, dissertações, trabalhos de iniciação científica e dezenas de publicações, além de ter estimulado a criação da Rede Mineira de Tecnologia Automotiva, que transformou Minas Gerais em um dos maiores centros de pesquisa na área.

Segundo o professor Ramón Molina, do Departamento de Engenharia Mecânica (Demec) da UFMG e coordenador da Rede de Tecnologia Automotiva, que reúne quatro instituições, a parceria é importante porque otimiza a infra-estrutura disponível para a pesquisa, amplia a produção científica e a qualidade da formação em cursos de graduação e de pós-graduação, e resulta em reconhecimento nacional do trabalho desenvolvido.

Foca Lisboa

Laboratório de nanobiotecnologia: pesquisas transdisciplinares

No caso da área automotiva, além da troca de conhecimentos, Molina destaca o alto investimento do Cetec ao colocar seus laboratórios e equipamentos à disposição de pesquisadores da UFMG. “Um dos exemplos é o conjunto de salas de dinamômetro, utilizado sem custos pela Universidade, durante três anos.

Isso representa um investimento diário de, pelo menos, R$ 800 por sala”, contabiliza. Os resultados já começam a aparecer, como o aporte de recursos da Petrobras para o Centro de Excelência em Tecnologia Veicular, no Demec, e convênios com montadoras de automóveis.

Na opinião do engenheiro José Eustáquio da Silva, coordenador do Setor de Eletromecânica do Cetec, a ação conjunta com a UFMG tem o mérito de formar massa crítica, estimular a inovação, melhorar a titulação do corpo de pesquisadores e facilitar a captação de recursos para projetos. “A parceria é benéfica por ser comple-mentar e não gerar competição”, diz José Eustáquio, ao lembrar que a Universidade volta-se para a formação, enquanto o Cetec conta com mecanismos rápidos de abordagem do mercado.

Interfaces
O trabalho em parceria tem ainda a característica de abrir novas interfaces, em diversos campos de atuação. Um exemplo é a expansão do trabalho a cargo do setor de Eletromecânica do Cetec, que realiza calibragem de equipamentos que medem temperaturas. “Antes restritos à parceria com o Demec, hoje realizamos atividades conjuntas com o Instituto de Ciências Biológicas, com as faculdades de Medicina e de Odontologia e Escola de Veterinária”, diz José Eustáquio.

O mesmo aconteceu no Setor de Tecnologia Metalúrgica e de Materiais do Cetec. Além de apoiar a formação de mestres e doutores na Escola de Engenharia da UFMG, hoje a área mantém pesquisas com o departamento de Química e com as faculdades de Medicina e de Farmácia. Pesquisadora que representa o Cetec na Rede Mineira de Pesquisas em Nanobiotecnologia (Nanobiomg), Margareth Spangler Andrade destaca a importância da atuação conjunta: “A área de nanotecnologia, por exemplo, é sempre multidisciplinar e não se faz sem parceria”, diz. Nas telas dos potentes microscópios de força atômica e de tunelamento do Setor, não há mais somente amostras para caracterização mineral, mas também são analisados itens das áreas de fármacos e de virologia.

Nanobiotecnologia
Implantada em dezembro de 2002, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a Rede Mineira de Pesquisas em Nanobiotecnologia (Nanobiomg) reúne pesquisadores da UFMG, do Cetec, da Ufop e da Fundação Ezequiel Dias (Funed). Coordenada pelo professor Luiz Gonzaga Vaz Coelho, da Faculdade de Medicina da UFMG, a Nanobiomg oferece infra-estrutura para o preparo de medicamentos e produtos nanobiotecnológicos que posibilitem o diagnóstico e o tratamento de doenças inflamatórias, infecciosas e parasitárias.

A Nanobiomg promove a interação com o setor privado, ao transferir as tecnologias geradas. “Considerando o estado embrionário, nacional e internacional, dessas tecnologias e as diferentes competências dos participantes da Rede, acredita-se que a interação com o setor industrial coloque o país em condições de competitividade, ao gerar produtos de base tecnológica”, diz o relatório que apresenta balanço da atuação da Nanobiomg.

Combustíveis
Cada veículo abastecido em postos de combustíveis em Minas Gerais utiliza os serviços altamente qualificados de laboratórios do Cetec e da UFMG, que participam do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis, da Agência Nacional do Petróleo (ANP). “Existe divisão homogênea do Estado: a parte leste tem seus postos monitorados pela UFMG e a Oeste, pelo Cetec”, explica o pesquisador Fabrício Vilela Parreira, responsável por um dos laboratórios do Cetec. Na primeira fase do projeto, em 2000, a ANP qualificou como “irrepreensível” o trabalho realizado pelas instituições mineiras que mantêm o serviço de análise paralelamente à pesquisa.

Projeto busca restaurar obra-prima de Aleijadinho

Parceria entre UFMG e Cetec resultou na descoberta de biocida capaz de combater os líquens que comprometem a forma original de obra-prima do mestre Aleijadinho, localizada no adro do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, a 80 quilômetros de Belo Horizonte. A recuperação do conjunto conhecido como Os Profetas vem sendo feita por equipe interdisciplinar.

Foca Lisboa

Recuperação dos Profetas de Aleijadinho é fruto de parceria entre as instituições

Conduzido por equipe do Cetec, o diagnóstico constatou – inclusive com uso de aparelhagem de ultra-som – que as rochas sobrepostas não têm trincas internas, mas apresentam contaminação biológica, fissuras, descoloração, crostas e desintegração granular com perda do material superficial, devido à própria característica da pedra-sabão.

Os líquens, associação de algas e fungos, encontrados nos profetas, lançam ácidos corrosivos e têm raízes que provocam fraturas nas estátuas. Como forma de chegar ao biocida eficaz para remoção dos microorganismos, os pesquisadores recorreram a ensaios não-destrutivos, utilizando corpos de prova – confeccionados em pedra-sabão oriunda de jazidas originais – para isolar, quantificar e identificar os grupos microbianos. Desde 1996, vários testes foram realizados para verificar o crescimento dos líquens e identificar a substância que retardaria a recolonização.

A restauração dos Profetas é um desdobramento do Projeto Ideas, desenvolvido em duas etapas (de 1991 a 1994 e de 1997 a 2000), sob a coordenação do Cetec, em parceria com a UFMG e outras entidades. O Ideas surgiu de um acordo de cooperação científica firmado entre o Brasil e a Alemanha.