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Nº 1571 - Ano 33
2.4.2007

Mapa dos sentidos

Pesquisadores da UFMG desenvolvem software interativo que funcionará como cartografia sensorial do centro da capital mineira

Fernanda Cristo e Tatiana Santos

BH-Tec - Maquete

Aonhecer uma cidade por meio do uso de seus espaços, dos depoimentos de seus habitantes, de seus sons e cores característicos. Traçar o mapa de uma urbe valendo-se das linhas dos sentidos humanos. A idéia pode parecer abstrata, mas esse é o objetivo do projeto Cartografias urbanas, do Centro de Convergência de Novas Mídias (CCNM) da UFMG, que, ao reunir mais de cinco mil fotos, arquivos de vídeo e som, juntou-se ao Departamento de Ciência da Computação (DCC) para desenvolver um software capaz de tornar esse conteúdo acessível à população, de forma interativa.

O alvo da pesquisa é a rua, espaço público que sintetiza a diversidade. “Cartografias é uma proposta inovadora, que casa tecnologia com as pulsações de uma cidade”, revela a coordenadora do programa, professora Regina Helena Alves, do departamento de História da Fafich. Para ela, o projeto tenta suprir a ausência de um método que consiga apreender os usos e apropriações dos espaços e a própria cultura urbana.

Nos últimos dois anos, alunos de graduação, mestrado e doutorado dos cursos de Comunicação Social, Psicologia, Sociologia, História e Ciência da Computação caminharam pela cidade registrando aspectos que a identificam. As fotografias revelam objetos parados, como monumentos e paisagens, e a gravação em vídeo buscou captar elementos que se movimentam durante curtos intervalos de tempo, como aglomerações de pessoas que logo se dissipam, fluxos descontínuos de trânsito e encontros rápidos.

Os registros escritos – mais de mil crônicas de jornais, cartazes e panfletos – valorizam impressões obtidas quando se caminha pela cidade e a opinião de pessoas que interagem nela. Para construir uma paisagem sonora, foram gravados os “pregões” que acontecem na rua, marcados pela voz de vendedores que circulam pelo centro e todos os barulhos e ritmos que caracterizam a metrópole.

Além do movimento, o tempo na cidade também é dimensionado no projeto. “Com o uso de imagens antigas foi possível revelar mudanças que ocorreram em algumas praças desde a fundação da cidade até os dias de hoje”, informa Regina Helena. O projeto também revela como a população local apresenta propostas para Belo Horizonte e participa de questões públicas por meio do orçamento participativo digital, do orkut e de outros fóruns virtuais de discussão.

Metáforas visuais

A metodologia adotada pelo Cartografias urbanas – utilizada em outros projetos do CCNM – propõe o registro de certos elementos que representem espaços urbanos, evitando a reprodução de referências oficiais. “Conferimos relevância a aspectos que, até então, permaneciam à margem da observação do andarilho comum”, explica Regina Helena.

A plataforma utilizada será a Internet e o programa poderá ser acessado livremente. Por enquanto, o projeto está na fase de construção das chamadas metáforas visuais. “Estamos elaborando elementos digitais que representarão objetos reais presentes na cidade”, explica Wagner Meira Júnior, professor do DCC e responsável pela criação do software. Na próxima fase, as informações coletadas aleatoriamente serão organizadas por meio de técnicas automatizadas, possibilitando o seu uso em políticas públicas.

Uma versão mais simples do projeto, na qual alunos participam da formação do conteúdo fotografando o ambiente que os cerca, começou a ser testada, neste semestre, em 11 escolas municipais de Belo Horizonte. Para a professora Regina Helena, essa é uma oportunidade de trabalhar com os estudantes uma nova forma de percepção e conhecimento do mundo onde vivem, além de promover a inclusão digital.

O processo de criação do projeto será tema de livro, intitulado Cartografias Urbanas, com lançamento previsto para junho deste ano. Em 2008, será produzido material didático sobre a aplicação da metodologia nas escolas.