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Nº 1589 - Ano 33
05.11.2007
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Ricardo Bandeira
Apesar da semelhança das palavras e da origem comum, o conceito de hospitalidade não costuma ser associado aos hospitais, e sim aos hotéis. Uma nova tendência na área de gestão da saúde, no entanto, começa a transformar essa realidade. Cresce o número de hospitais que investem não só no tratamento do paciente, mas no bom atendimento a ele e aos acompanhantes.
Por isso, não é de se estranhar que o assunto tenha sido objeto de uma pesquisa no curso de turismo da UFMG. O trabalho Hotelaria hospitalar: conceitos da hotelaria adaptados à área hospitalar, de Gislaine Gomes de Souza, foi apresentado pela autora como monografia de final de curso, no ano passado, e acaba de receber reconhecimento nacional. O estudo tirou o primeiro lugar na quarta edição do Prêmio Ebape-FGV/Embratur, na categoria Graduação.
O concurso é promovido pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Gislaine recebeu o prêmio de
R$ 3 mil no dia 25 de outubro, em solenidade na FGV, no Rio de Janeiro.
Na monografia, Gislaine compara os conceitos da hotelaria tradicional com a hospitalar, que adapta para os hospitais os serviços oferecidos pelos hotéis. Ela faz, também, um estudo de caso sobre o hospital Vila da Serra, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que mantém departamento voltado para o atendimento aos pacientes e acompanhantes. “Na hotelaria, o objetivo é receber bem as pessoas.
Por isso, para melhorar a qualidade do atendimento, os hospitais utilizam os conceitos da hotelaria. Eles buscam tratar não só o corpo do paciente, mas a pessoa por inteiro, com paciência, cortesia e a hospitalidade tão falada na hotelaria”, explica Gislaine. De acordo com a autora da monografia, um dos resultados é a humanização do ambiente, o que pode contribuir para uma evolução mais rápida do quadro clínico dos pacientes.
Um dos exemplos da adaptação dos conceitos da hotelaria aos hospitais é o serviço de quarto.
Tradicionalmente, as cozinhas dos hospitais preparam e servem as refeições em horários determinados e com cardápios pré-definidos, para pacientes e acompanhantes. Nos estabelecimentos que adotam a hotelaria hospitalar, é possível fazer pedidos de refeições por telefone, como ocorre em hotéis.
Gislaine conta que a idéia de estudar o assunto surgiu no início de 2006. Durante o primeiro semestre, ela buscou se informar sobre a hotelaria hospitalar e esbarrou em algumas dificuldades. A literatura sobre o tema ainda é escassa. No Brasil, os poucos estudos concentram-se em estabelecimentos de saúde de São Paulo. Mas os conceitos da hotelaria são adotados por hospitais de Belo Horizonte, como Lifecenter, Vera Cruz, Madre Tereza e Hospital Ortopédico, além do Vila da Serra, pesquisado por Gislaine.
A monografia foi desenvolvida no segundo semestre do ano passado, sob orientação da professora Ana Paula Guimarães Santos. Aos 23 anos, Gislaine concluiu o curso de turismo, mas não trabalha na área. Atua como secretária e afirma que o prêmio também é um estímulo para que continue a estudar. Gislaine pretende fazer pós-graduação na área de gestão.
| Arquivo pessoal |
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| Gislaine Gomes recebeu o prêmio do diretor de Estudos e Pesquisas da Embratur, José Francisco de Salles Lopes |
O investimento dos hospitais na qualidade dos serviços não tem efeitos apenas no atendimento dos pacientes locais. Ele pode contribuir para colocar a capital mineira na rota do chamado turismo de saúde. Em março deste ano, a Belotur lançou o projeto Belo Horizonte Mais Saúde, que pretende atrair pacientes de fora de Minas Gerais e até do exterior, com foco na promoção de BH como centro de excelência médica em diversas especialidades. A primeira área contemplada é a oftalmologia.
De acordo com a professora de turismo da UFMG Ana Paula Guimarães Santos, orientadora da monografia vencedora do Prêmio Ebape-FGV/Embratur, o investimento em hotelaria hospitalar não ocorre em prejuízo dos serviços de saúde propriamente ditos. “Ele vem junto com recursos para equipamentos. Quando um hospital cuida da hotelaria, já investiu muito em outros serviços”, afirma Ana Paula.
Ela destaca, no entanto, que esse tipo de atendimento, no Brasil, é quase exclusivo dos hospitais privados. Por causa do custo extra, é difícil para estabelecimentos públicos de saúde investir em hotelaria hospitalar.
A pesquisa de Gislaine Gomes de Souza concorreu com 135 trabalhos de todo o país. Outras duas monografias da UFMG participaram do concurso: Turismo e Mídia, de Tânia Cristina Medeiros de Jesus, e Imagem e Marketing Turístico: Análise do Material Promocional Distribuído pela Belotur e sua Influência na Divulgação da Cidade de Belo Horizonte, de Daniela Soares Coelho Jácome, esta última classificada entre os 15 finalistas da categoria Graduação. O concurso premiou também trabalhos de pós-graduação e reportagens jornalísticas.