Música em muitas cores e formas

Livro didático lançado pela Editora UFMG explora
recursos multidisciplinares e muita criatividade

Itamar Rigueira Jr.

Desde que começou a dar aulas de música para crianças, aos 15 anos, Cecília Cavalieri França teve certeza da sua vocação. Continuou ensinando, graduou-se em piano na Escola de Música da UFMG, fez mestrado e doutorado em educação musical na Inglaterra, tornou-se professora da Universidade. Mas os pequenos não saem de sua cabeça e de seus projetos. Cecília acaba de lançar Para fazer música, livro destinado ao ensino de música em escolas regulares – para segunda e terceira séries do novo ensino fundamental em nove anos – e que é certamente muito diferente de seus congêneres. Jogos, brincadeiras, histórias, textos, desenhos e muita música são oferecidos – e estimulados – em ambiente gráfico colorido e original.

De sua atuação na licenciatura, Cecília tirou a seguinte convicção: quando se trata do ensino de música nas escolas, públicas ou privadas, das duas, uma: ou é muito teórico ou serve apenas para animar as festinhas. “É necessário formatar um currículo mais atual, com base nos fundamentos da educação musical contemporânea e em que os conhecimentos sejam usados de maneira prática”, defende. O momento é oportuno para mudanças: está prestes a ser aprovada pelo Congresso Nacional uma lei que voltará a incluir o ensino de música, em caráter obrigatório, no currículo escolar.

Cecília França conta que, entre esses fundamentos, destaca-se a abordagem integrada da criação, apreciação e performance. Ela pretende também levar o aluno a elaborar de forma artística os sons que ele coleta, fazendo com que “expressem significados, eventos e contextos”. Do ponto de vista metodológico, a preocupação é que a música não fique isolada. “A música está em tudo. Por isso, tento promover um passeio pelas ciências, geografia, literatura e artes visuais”, comenta.

Criação em família

O ano de 2007 foi dedicado à produção do livro, que teve apoio imediato dos diretores da Escola de Música e da Editora UFMG. Cecília pôs no papel experiências testadas com sucesso entre alunos, pesquisou, teve idéias, desenhou, fotografou objetos pessoais, fez montagens e escolheu as 35 obras – do erudito ao popular, do funk à parlenda, de Carlos Gomes a autores contemporâneos – que compõem o CD anexo e orientam as atividades. Incansável, encarregou-se ainda do projeto gráfico e da arte da capa da edição. O trabalho ganhou também, de forma natural, um tom de homenagem à sua família, formada por músicos. Quando aborda a banda de música, a autora lança mão de uma foto da agremiação de Itabirito que tinha como regente o avô Joaquim (o pai, Nestor, manteve a tradição e toca diversos instrumentos). Para completar, a filha Fernanda, na época com quatro anos, desenhou os personagens que povoam algumas das histórias.

Utilizar o livro acompanhado de um instrumento – como a flauta-doce, que se presta muito bem à iniciação – ajuda, de acordo com a autora, mas não é imprescindível. Ela lembra que a performance é apenas uma das modalidades do objeto de ensino. “Além disso, faz todo o sentido explorar a voz, o corpo, os ouvidos e instrumentos feitos de sucata”, completa. Cecília salienta também que o livro não é uma proposta pedagógica fechada, pode funcionar como um recurso entre vários. Ela planeja oferecer orientações e dicas para os professores em seu site (www.ceciliacavalierifranca.com.br).

Para fazer música é o desdobramento impresso de um sonho de educadora. “Acredito que em dez anos um outro cenário musical estará instalado no país. E espero que meu livro contribua para isso, sendo adotado pelas escolas e servindo de inspiração para novas obras”, diz Cecília, que já esboça um segundo volume. Ela acredita que o ensino de qualidade na escola tem o papel de formar cidadãos críticos, capazes de escolher e produzir música de qualidade. E está certa de que as crianças estão aptas a aproveitar. “É só dar oportunidade, a resposta é impressionante”, garante ela, com indisfarçável entusiasmo.