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Nº 1621 - Ano 34
14.08.2008

opiniao

80 anos do HC: complexidade e diversidade

Antônio Luiz Pinho Ribeiro*

Num consultório, um aluno de Medicina faz sua primeira entrevista médica, supervisionado pelo professor de semiologia. No laboratório de hemodinâmica, um paciente com infarto agudo do miocárdio trazido pelo Samu faz uma angioplastia primária, reabrindo a artéria coronária fechada e diminuindo os riscos de morte e de seqüelas. Numa sala do Ambulatório, uma equipe multidisciplinar discute a conduta a ser seguida frente a uma criança com uma doença incomum. Perto dela, um grupo de pesquisa discute os resultados de um protocolo clínico.

Consultas, exames, aulas, cirurgias, grupos de discussão, pesquisas, reuniões e incontáveis outras ações ocorrem simultânea e diariamente nos 50 mil metros quadrados construídos dos oito prédios do Hospital das Clínicas da UFMG, que completa, neste agosto, 80 anos de existência.

Diversidade e complexidade. Essas são duas palavras-chaves para se entender essa instituição ímpar, que recebe cerca de 2.500 alunos de todos os cursos da área de saúde da UFMG, permitindo que o aprendizado se dê não apenas pela aquisição de conceitos teóricos, mas também pela prática e pela vivência em serviço. A necessidade de hospedar professores, profissionais e alunos das mais diferentes áreas e especialidades, muitas vezes na fronteira do conhecimento, fez com que a instituição, um hospital de todas as clínicas, se especializasse em amalgamar pessoas de diferentes formações e categorias, concentrando um grande número de centros de referência – da atenção ao idoso à neurocirurgia. A diversidade das ações empreendidas, nos mais diferentes níveis de complexidade, se reflete nos benefícios gerados, que incluem da formação do aluno de graduação à do pesquisador de pós-doutorado, de ações básicas de saúde ao tratamento de condições graves e incapacitantes.

Em pouco mais que dez anos, virtualmente todo o HC terá sido reconstruído ou reformado

Para cumprir sua tripla função de ensino-aprendizado, assistência e pesquisa, o hospital precisou se transformar e se adaptar à realidade tanto das demandas acadêmicas como das políticas públicas de saúde. Há uma inegável constatação de que ensino e pesquisa de excelência não são possíveis sem atendimento de qualidade. Como hospital público, é fundamental que a assistência se dê de modo integrado com o sistema de saúde local e regional, garantindo acesso igualitário e universal. Como toda a Universidade, o HC/UFMG não pode se furtar a atender as demandas da sociedade que o apóia e sustenta.

Não são poucos os desafios que o Hospital enfrenta: a dimensão da tarefa não pode ser menosprezada. Apenas pelas portarias dos prédios do complexo passam, a cada dia, mais de 30 mil pessoas. São cerca de 3 mil funcionários e médicos, além de 315 residentes e 160 estagiários que, juntamente com 345 docentes e 2.500 alunos, são responsáveis, a cada mês, por 40 mil consultas ambulatoriais, 3.500 atendimentos de urgência, 2 mil cirurgias e 290 partos, além de mais de 120 mil exames laboratoriais e de imagem.

As despesas do Hospital são pagas quase integralmente pela produção de serviços, incluindo a contratação de mão-de-obra complementar, com orçamento anual de cerca de R$ 90 milhões. Alçado em 2004 à categoria de Unidade Especial da UFMG, com Conselho Diretor próprio e assento no Conselho Universitário, o HC/UFMG tem estrutura administrativa autônoma e modelo de gestão original.

No seu octagésimo aniversário, o Hospital se encontra em plena renovação e expansão física. Na última década, investimentos superiores a R$ 20 milhões levaram à restauração completa do Ambulatório Borges da Costa, à criação do Instituto Alfa de Gastroenterologia, à construção da unidade de hospital-dia e do Centro de Pesquisa Clínica e à reforma e ampliação do Ambulatório de Pediatria São Vicente de Paulo, da Unidade de Imaginologia, do CTI adulto e da portaria do hospital.

Recursos do mesmo porte estão sendo investidos na construção do Centro de Atenção à Saúde do Idoso e da Mulher, na reforma e ampliação do Pronto-Atendimento e do Hospital São Geraldo, na construção da Unidade Cardiovascular Intensiva, na reforma da Obstetrícia, Ginecologia, Neonatologia e Reprodução Humana e na criação de unidade de Oncologia e Hematologia Pediátrica. Em pouco mais que 10 anos, virtualmente todo o HC/UFMG terá sido reconstruído ou reformado, e dotado de novos equipamentos que incluem ressonância magnética, medicina nuclear, hemodinâmica (uma segunda unidade) e material de centro cirúrgico e atendimento de urgência.

Mais do que desses recursos materiais, o HC depende do trabalho e da dedicação das pessoas que nele trabalham, ou que, por algum motivo, foram beneficiadas pelos seus serviços. Não é difícil se apaixonar por uma instituição com tanta capacidade de fazer o bem e de fazer bem feito. O principal patrimônio do Hospital é o carinho que por ele nutrem médicos, funcionários, alunos, pacientes e seus familiares. Toda a UFMG deve se orgulhar do hospital que tem; nós nos orgulhamos de fazer parte de sua história.

* Vice-diretor do Hospital das Clínicas da UFMG

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