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Nº 1630 - Ano 35
20.10.2008

Resultados do Pisa inspiram debate sobre ensino na América Latina

Manoella Oliveira

Foca Lisboa
Eduardo Mortimer: análise das características do sistema educacional brasileiro

Especialistas estrangeiros e da UFMG participam, na próxima quarta-feira, dia 22, no campus Pampulha, do seminário Resultados do Pisa e a Perspectiva de Ensino na América Latina, que será realizado no Auditório Sônia Viegas, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), a partir de 13h30. O evento é aberto ao público, terá tradução simultânea e não requer inscrição prévia.

Organizado pelo Doutorado em Psicologia do Desenvolvimento Humano, o debate marca a abertura do programa no segundo semestre de 2008 e fomenta a discussão sobre o desempenho do Brasil e de outros países latinos no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação internacional desenvolvida pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que enfoca habilidades e competências necessárias à vida moderna. Na sua última edição, em 2006, o exame teve foco em Ciências, mas também incluiu Leitura, Matemática e informações sobre os estudantes e sua estrutura familiar. Ao todo foram mais de 400 mil estudantes de 15 anos, em 57 países. O Brasil ficou na 52ª posição.

Participam do encontro o professor emérito de Psicologia na Universidade de Washington (EUA) Earl Hunt, o cientista político Charles Alan Murray, do American Enterprise Institute (Washington/EUA), e Eduardo Fleury Mortimer, professor da Faculdade de Educação da UFMG.

De acordo com a coordenadora do seminário, professora Carmen Flores-Mendoza, do Departamento de Psicologia da Fafich, a importância de discutir o tema está ligada aos tipos de competência avaliados pelo Pisa. “Este é o único instrumento que mede, em adolescentes de 15 anos, a habilidade de enfrentar os desafios da sociedade sem estar atrelado a currículos. O mau resultado indica que ainda não sabemos lidar com a alta tecnologia, elemento que caracteriza a sociedade contemporânea. Não estamos preparados para isso e precisamos dominar melhor esse processo”, defende.

Ela acrescenta que, apesar da performance ruim do ensino médio, o Brasil se destaca no ensino superior. “No Pisa, os países da América Latina ocuparam posições baixas e muito próximas, mas quando observamos o ranking das 200 melhores universidades do mundo, notamos que o Brasil tem duas instituições nessa lista {Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)}. O outro país latino-americano que consta na relação é o México, com uma universidade. A Espanha também incluiu apenas uma, e situada abaixo do Brasil. A professora credita o desempenho dos universitários brasileiros ao rigor do vestibular.

Diferenças

Em sua exposição, Mortimer abordará algumas características do sistema educacional brasileiro que o diferenciam dos países do primeiro mundo que obtiveram boas colocações na prova e que não foram consideradas pelo Pisa. “Se observarmos essas variáveis, veremos que elas são comuns a vários países que não se saíram bem no exame e parecem ser importantes para explicar o resultado brasileiro e de toda a América Latina. Várias dessas nações, a exemplo do Brasil, não têm alunos estudando em horário integral e não contam com professores em dedicação exclusiva”, detalha Mortimer. A questão salarial, acrescenta o professor da FaE, também está presente nesses países, embora apenas na rede pública e em uma parte da rede privada.

Outro ponto que Mortimer destaca é a falta de professores para o segmento final da educação fundamental e para o ensino médio. Ele argumenta que é relativa a deficiência de professores, apregoada pelo governo, em áreas como física e química. “Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Pedagógicas Anísio Teixeira (Inep) mostram a existência de 24.608 posições de professor de química na escola pública brasileira, e apenas 8.466 estariam ocupadas por profissionais licenciados em química. Por outro lado, segundo o Inep, 30.837 pessoas graduaram-se em química nos últimos 25 anos. Destes, apenas 8.466 estariam desempenhando o papel de professores. Onde estariam os outros 22.371 professores?”, pergunta o especialista.

Ele próprio oferece uma pista para a resposta: “Se considerarmos que alguns deles exercem sua profissão em escolas particulares, temos um enorme contingente que não atua como professor. Ou seja, muito se investe para formar esse profissional, mas ele não fica na carreira por falta de incentivo”.

Universidade e mercado

Já o professor Earl Hunt apresentará resultados de sua pesquisa em que aborda as exigências do mercado e o papel exercido pela Universidade para atender essa demanda. O estudo traz resultados colhidos em vários países e não incluem o Brasil. Mas, de acordo com a professora Carmen Flores-Mendoza, o objetivo é verificar se o Brasil oferece dessas habilidades e, até mesmo, incluir o país no perfil.

O professor Murray, por sua vez, questiona a entrada em massa nas universidades, vistas por ele como espaço para discutir abstrações complexas, ou seja, um ambiente para pessoas com capacidades cognitivas específicas. Para ele, muitos estudantes estariam desperdiçando tempo nesse universo e talvez se saíssem melhor, por exemplo, em cursos técnicos.