Busca no site da UFMG

Nº 1639 - Ano 35
2.2.2009

Em acordo com a nova ortografia

Setores da UFMG começam a adotar mudanças
de grafia na língua portuguesa

Ana Maria Vieira

O leitor mais atento vai notar: os textos desta primeira edição do ano do BOLETIM UFMG mostram, aqui e acolá, pequenas alterações de grafia. Resultantes das normas de Acordo Ortográfico, que entrou em vigor no país em 1º de janeiro, as mudanças foram adotadas pioneiramente na UFMG por seu portal de notícias, desde o último dia 12. A partir desta segunda-feira, 2 de fevereiro, a Administração Central recomenda a incorporação das novas regras em documentos oficiais produzidos em toda a Instituição.

Mesmo tendo até dezembro de 2012 para se adequarem às regras, os órgãos de comunicação coordenados pelo Centro de Comunicação (Cedecom) optaram por fazer a transição imediatamente. “As mudanças atingem apenas 0,5% das palavras escritas no Brasil, um índice pequeno, mas como seu nível de detalhe exige tempo de adaptação, concluímos que, quanto mais cedo começássemos a introduzi-las, melhores condições teríamos em dominá-las”, explica o jornalista Flávio de Almeida, editor do BOLETIM.

Avaliação complementar é expressa pela professora aposentada de língua portuguesa da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG Maria Lúcia Brandão Freire de Mello. “Como se trata de uma instituição de ensino, é preferível que já se comece a adotar as novas normas”, diz. Atualmente prestando serviço como revisora dos textos produzidos no Gabinete do Reitor, a professora finalizou documento contendo modalidade de resumo sobre os casos mais claros das mudanças ortográficas e que em breve deverá ser encaminhado a todas as unidades acadêmicas e administrativas da Universidade. Em breve, o portal da UFMG (www.ufmg.br) abrigará um hotsite destinado a orientar seus usuários sobre as novas regras.

O documento elaborado por Maria Lúcia servirá de guia para a mudança no âmbito institucional. “Vamos apenas sugerir a adoção, não há caráter obrigatório”, observa a professora e chefe de gabinete Maria Elisa Souza e Silva. A não-obrigatoriedade atende, inclusive, orientação legal: o Decreto 6.583, de setembro de 2008, que promulgou a medida, prevê prazo até 31 de dezembro de 2012 para coexistência entre as duas normas ortográficas. Na área estritamente acadêmica, isso significa que também haverá tolerância na aceitação dos dois modos de escrever. Exemplo recente foi o Vestibular da UFMG, em que candidatos que participaram da segunda etapa do concurso, realizada em janeiro, puderam escolher entre as normas.

Editora

“Do ponto de vista econômico ainda não é possível dimensionar as repercussões, mesmo porque no campo editorial as barreiras comerciais são enormes”, observa Silvana Coser, vice-diretora da Editora UFMG. Ela explica que a Editora estabeleceu prioridades na atualização ortográfica de seus títulos: coleções didáticas e da área de língua portuguesa serão as primeiras da fila, seguidas de novos títulos. Posteriormente, informa, “será resgatado o passivo existente”.

O trabalho será árduo, pois a equipe conta com apenas seis revisores de texto. A média de títulos publicados anualmente pela Editora UFMG chega a 100. Atualizá-los encontra ainda outro obstáculo, segundo a vice-diretora. “O cenário internacional sinaliza prudência nos investimentos e o campo editorial não é considerado gênero de primeira necessidade”, reflete. A equipe da Editora deverá se organizar para implantar as novas normas a partir de seminário interno, programado para ocorrer este mês.

Uma história de ‘desacordos’

A primeira grande reforma ortográfica da língua portuguesa foi adotada por Portugal em 1911, mas não no Brasil. Para solucionar as diferenças entre eles, um acordo ortográfico foi realizado 20 anos depois. Como a iniciativa não produziu a unificação proposta, em 1945 foi aprovada a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira. Novamente, apenas Portugal adotou as orientações. Na década de 70, algumas leis conseguiram reduzir as diferenças ortográficas entre os dois países. O texto do mais recente Acordo data de 1990. Devido a reações diversas, apenas agora foi implantado no Brasil.

Em Portugal, o prazo previsto para a mudança é de seis anos. Além do Brasil, o documento já foi ratificado em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Timor-Leste, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau ainda não definiram quando aceitarão o Acordo.

Entre outras mudanças, o alfabeto passa a ter 26 letras, incorporando o k, o w e o y; o trema está abolido; cai o acento dos ditongos abertos éi e ói das paroxítonas, como idéia e jibóia; elimina-se o circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo, como crêem e perdôo; e mudam algumas regras do uso do hífen.

Aparentemente complicadas, as mudanças, no entanto, estão longe de configurar uma reforma. “O que foi aprovado é um acordo que busca unificar a grafia em países de língua portuguesa, não uma reforma, que seria algo muito mais profundo”, esclarece o professor Luiz Carlos de Assis Rocha, da Faculdade de Letras da UFMG.

André Coelho