Busca no site da UFMG

Nº 1654 - Ano 35
25.5.2009

Originada dos caminhos que levavam às reservas de ouro e diamantes da capitania de Minas Gerais no século 18 e parte do 19. Em torno dela, formaram-se 179 municípios em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Consumo acanhado

Estudo identifica fatores que determinam gastos com cultura nas metrópoles brasileiras; 60% dos seus moradores não consomem bens artísticos

Itamar Rigueira Jr.

Filipe Chaves
Sibelle Diniz: uso de modelo econométrico

O valor de uma pesquisa pode ser medido por critérios como aplicação inédita de determinada metodologia, desdobramentos que ela promete e surpresas reveladas pelo cruzamento de dados. O trabalho de mestrado da economista Sibelle Cornélio Diniz, defendido este mês na Face, reúne as três credenciais. Ao analisar o consumo de bens e serviços relacionados a arte e cultura em dez regiões metropolitanas brasileiras, ela constatou, por exemplo, que fatores como religião e raça não têm papel preponderante na determinação dos gastos de uma família. E que, ao contrário do que se imagina, as populações de Rio Janeiro e São Paulo, cidades com maior oferta de serviços, não dispendem mais que as de outras capitais.

A pesquisa parte de um dado fundamental: nada menos que 60% da população dessas metrópoles simplesmente não consome arte e cultura – a média nacional é de 73%. Por isso, Sibelle Diniz utilizou a metodologia Clad (Censored Least Absolute Deviatons) quantílico, que controla essa característica, prevenindo distorções. A orientadora da pesquisa, professora Ana Flávia Machado, do Cedeplar, destaca o ineditismo da aplicação desse tipo de ferramenta. “Já houve estudos descritivos sobre gastos em cultura, mas é a primeira vez em que se aplica um modelo econométrico, que considera um número maior de variáveis”, explica.

O trabalho constatou que o dispêndio com bens e serviços culturais é muito mais concentrado que a renda. Em outras palavras: é muito grande a diferença entre os gastos de quem consome muito e os de quem consome pouco. O estrato da população de renda e escolaridade mais altas faz opções mais diversificadas. “Mas chama a atenção que, em todas as regiões metropolitanas, as pessoas gastam principalmente com CDs, DVDs e cinema”, ressalta Sibelle Diniz.

Rio, São Paulo, Brasília e Salvador são as metrópoles com maior oferta de equipamentos culturais, em valores ponderados por população. Com relação a esse aspecto, a pesquisadora pinçou alguns dados: Salvador aparece em terceiro lugar (atrás de Rio e São Paulo) quanto à oferta proporcional de museus; Curitiba só perde para São Paulo em quantidade de centros culturais. Quanto a detalhes do consumo, Recife e Porto Alegre se destacam na procura por quadros, esculturas e peças de artesanato; Fortaleza apresenta maior consumo de livros não-didáticos.

A investigação de Sibelle revelou que renda e educação são os principais determinantes do consumo e que morar em uma cidade com boa estrutura não implica gasto maior. “Isso talvez se explique, por um lado, pela oferta mais abundante de espetáculos gratuitos, patrocinados por leis de incentivo fiscal e, por outro lado, pelo fato de que as regiões mais urbanizadas têm acesso mais difícil, em função das distâncias, dos custos e até da violência”, avalia a pesquisadora.

Multidisciplinar

Para sua pesquisa de mestrado, Sibelle Diniz, formada pela Face e atualmente pesquisadora associada do Cedeplar, conta que leu textos de diversas áreas, como as ciências sociais, e interagiu com pesquisadores da ciência da informação, que compõem grupo de estudos no Cedeplar.

Na fase empírica da pesquisa, Sibelle considerou características individuais, ligadas à demanda por arte e cultura, e regionais, que se relacionam à oferta dos bens e serviços. Para isso, ela lançou mão de dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (2002/2003) e da Pesquisa de Informações Municipais (2006), ambas do IBGE. “O objetivo era explicar os gastos em função de renda, idade, escolaridade, gênero, raça e religião do chefe do domicílio”, explica a pesquisadora.

Quanto às regiões metropolitanas, ela se deteve sobre a oferta de equipamentos como cinemas, teatros, museus, salas de espetáculos, centros culturais, ginásios e estádios. As metrópoles estudadas foram Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Brasília.

Dissertação: Análise do consumo de bens e serviços artístico-culturais no Brasil metropolitano
Autora: Sibelle Cornélio Diniz
Orientadora: Ana Flávia Machado
Defesa: 4 de maio de 2009, no
Programa de Pós-Graduação em
Economia (Face)