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Nº 1684 - Ano 36
1.3.2010

Sinal dos tempos

Escolha do modelo digital para o rádio brasileiro deverá ser anunciada este ano; padrão europeu foi testado na UFMG

Ana Maria Vieira

No próximo dia 6, relatório com avaliação parcial dos testes de transmissão digital realizados na rádio UFMG Educativa chega ao Ministério das Comunicações. O documento, que tem entre seus coordenadores o professor do Departamento de Engenharia Eletrônica Cássio Gonçalves do Rego, não é uma peça trivial: trata-se de um dos estudos que subsidiará o governo na escolha do padrão digital que o país adotará na comunicação radiofônica. A disputa envolve o sistema europeu DRM (Digital Radio Mondiale) e o norte-americano Iboc (In Band On Channel). Os testes na UFMG avaliaram o DRM.

“A diferença básica entre um padrão e outro está em como se acomoda o sinal de informação dentro do espectro, ou largura de faixa, reservado para ele operar, obtendo o máximo desempenho em sua transmissão. Do ponto de vista da engenharia, nenhum padrão é superior ao outro; ambos oferecem vantagens e desvantagens”, esclarece Cássio Gonçalves. Para além desse aspecto, o governo federal considera, no entanto, que o DRM apresenta um diferencial em seu modelo de negócio, pois o sistema é aberto. Já o Iboc exige pagamento de royalties. Desenvolvido por um consórcio de empresas europeias, o DRM pode ser implementado em diversas faixas de frequência – ondas médias, curtas e VHF.

A avaliação do padrão DRM começou em janeiro, em duas emissoras de São Paulo. Os trabalhos na capital mineira, que foram realizados durante todo o mês de fevereiro na UFMG Educativa, devem continuar agora na Rádio Itatiaia. De acordo com o doutorando em engenharia elétrica da UFMG Cláudio Garcia, que participa do processo, foram coletados dados que indicam a qualidade do áudio, a cobertura do sinal em diversos pontos da cidade, o áudio e sinal de radiofrequência nos sistemas digital e analógico e o comportamento do sinal digital em veículo em movimento. “Os testes fluíram bem, e foi possível escutar os sinais de modo claro”, informa Cássio Gonçalves.

Estação multimídia

Espera-se, com a adoção das transmissões radiofônicas digitais, oferecer melhor qualidade ao som das emissoras, agregar áreas remotas do país ao sistema de comunicação e criar novos serviços para o ouvinte. “Ele terá acesso a transmissão de dados, fotos, gravações e até mesmo a impressão de dados. O aparelho de rádio será transformado em uma estação multimídia”, afirmou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, à assessoria do órgão. A mudança produzirá, inevitavelmente, repercussões entre consumidores – todos os “radinhos” do país terão a lata de lixo como destino, uma vez que não incorporarão adaptadores externos, como os aparelhos de TV – e entre radiodifusores – um conversor digital de sinal terá custo médio de R$ 100 mil.

A possiblidade de transmissão simultânea e de várias modalidades de dados, gerada pelo sistema digital, também está mobilizando o setor de rádio no país. No novo receptor, o ouvinte sintonizará sua emissora e depois poderá clicar em botões para escolher a atração de sua preferência. O número de transmissões simultâneas ainda será definido pelo Ministério. “O sistema sofrerá adaptações no país”, diz Cláudio Garcia, que pesquisa a qualidade de propagação de sinais digitais para diversas mídias – redes sem fio, rádio, celular e TV. Mesmo sem a definição, o coordenador da rádio UFMG Educativa Elias Santos observa que já há muitas ideias sobre a criação e veiculação de programas. “Entre nós, há uma tendência de criar um canal científico, retirando um pouco de música da programação e subvertendo a lógica de ‘tal programa, tal horário’. Queremos abrir alternativas com a comunidade”, antecipa.

Academia

Para Cássio Gonçalves, os impactos no mercado, na academia e entre os comunicadores gerados pelo novo sistema ainda são difíceis de avaliar. “O padrão digital traz uma mudança de paradigma, o que exige investir também em capacitação técnica”, analisa. Sobre a participação da rádio e do Departamento de Engenharia Eletrônica nos testes, Gonçalves sai com uma certeza: “Ela permitiu ampliar nossos conhecimentos técnicos e verificar que temos condições de avaliar uma série de recomendações adotadas na implementação do novo padrão”.

Cássio Gonçalves integra grupo de pesquisadores de universidades brasileiras que estabeleceu parceria com o Ministério para incrementar o conhecimento científico nessa área e dar suporte em diversas etapas da implantação do padrão digital de transmissão. Especialistas do grupo também desenvolvem outros estudos a partir da constituição do Instituto de Ciência e Tecnologia de Comunicações sem Fio, que já recebeu R$ 3 milhões do CNPq.