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Nº 1706 - Ano 36
16.8.2010

Ergometria do menor esforço

Aparelho de ginástica desenvolvido por equipe da UFMG possibilita aos idosos vida mais saudável gastando menos energia

Fred Lamêgo

Foca Lisboa
Protótipo do ciclo ergômetro possui circuito que controla velocidade e frequência da pedalada

Melhor desempenho com menor esforço. Esse é o objetivo do ciclo ergômetro com controle de torque e velocidade – aparelho semelhante às bicicletas ergométricas encontradas nas academias de ginástica – desenvolvido por equipe interdisciplinar da UFMG, coordenada pelo professor Marcos Pinotti do Departamento de Engenharia Mecânica.

O envelhecimento provoca, inevitavelmente, perda de massa e força muscular. Por isso, exercícios que exigem grande esforço podem ser maléficos, acarretando graves danos aos sistemas osteomuscular e cardiovascular. Por outro lado, é a atividade física que vai desacelerar o natural processo de redução de musculatura.

Foi exatamente para conciliar prática física com menor gasto de energia que a equipe, formada por especialistas das áreas de engenharia mecânica, engenharia elétrica, fisioterapia e educação física, projetou o equipamento, já patenteado pela UFMG. A ideia, segundo o fisioterapeuta Breno Gontijo, doutor em engenharia mecânica, surgiu embasada na experiência de seres vivos que poupam esforços para realizarem empreitadas mais longas e desgastantes. “Os pássaros migratórios são um bom exemplo. Para completarem todo o percurso, eles precisam moderar o uso da força”, explica. Para isso, o ciclo ergômetro conta com características bastante diferentes das bicicletas ergométricas comuns.

Para girar os pedais no ciclo ergômetro, o usuário não precisa fazer muita força, pois eles não oferecem muita resistência ao movimento. Diferentemente das bicicletas comuns, é possível regular a intensidade do exercício de modo a se alcançar o esforço mínimo. “Não se usa peso aplicado nos pedais. O ciclo possui um circuito que controla a velocidade e a frequência da pedalada”, explica Breno. Esse controle é responsável por conduzir o praticante a um consumo ótimo de energia, apresentado por um painel luminoso, localizado próximo ao guidão, para que a pessoa se autodiscipline e não perca o ritmo da atividade.

Outro diferencial do aparelho é o selim em forma de sela de cavalo. Os bancos comuns, triangulares, dão apoio total à coluna. Já o do ciclo é estreito em toda sua extensão. “O selim provoca oscilação na coluna do paciente, obrigando-o a um esforço para se equilibrar. Isso ajuda no fortalecimento da musculatura dessa região”, diz.

Testes

Em 2009, o ciclo ergômetro com controle de torque e velocidade foi testado por três meses em um grupo de 30 mulheres idosas e sedentárias, e os resultados foram positivos. Antes da bateria de testes, foram feitos diversos exames, incluindo o de sangue, e constatou-se que as voluntárias possuíam taxa significativa de marcadores de células inflamatórias, que funcionam como indicadores da quantidade de inflamações. Essas células são comuns e o aumento delas com a idade é natural. Porém, o combate a elas é necessário, já que taxas menores são garantia de um organismo mais saudável. Ao fim dos testes, em novembro, novos exames foram feitos e verificou-se queda relevante nesses marcadores. Os níveis da interleucina-6, citosina pró-inflamatória cuja presença no organismo aumenta com o envelhecimento, diminuíram de 1,91pg/ml para 1,56pg/ml.

Outras vantagens

O uso do protótipo também trouxe benefícios para a capacidade aeróbica, de equilíbrio e no controle da pressão arterial. Segundo a fisioterapeuta Tayra Müller, bolsista de iniciação científica à época dos testes, a transformação pela qual passaram as pacientes é visível. “No princípio, elas tinham dificuldade de subir no ciclo ergômetro, de se manter nele e apresentavam deficiências de respiração devido ao despreparo para realizar o esforço físico. No fim, elas já conseguiam montar sozinhas, pedalavam sem tocar o guidão e tinham controle respiratório muito diferente”, aponta ela, citando também a melhoria dos níveis de pressão arterial.

O protótipo do ciclo ergômetro será levado à Feira de Tecnologias Assistivas 2010, no Rio de Janeiro, entre 23 e 26 de agosto. Ele figurará no estande da UFMG junto com outras 13 inovações desenvolvidas por professores e estudantes da Universidade.

Aparelho: Ciclo Ergômetro com controle de torque e velocidade
Inventores:André Saraiva de Lacerda Costa, Breno Gontijo do Nascimento, Claysson Bruno Santos Vimieiro, Leszek Antoni Szmuchrowski e Marcos Pinotti Barbosa