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Nº 1735 - Ano 37
25.04.2011

O VALE é aqui

Pelo 12º ano, Praça de Serviços se transforma em vitrine para o artesanato do Jequitinhonha

Fabíola Souza*

A fama já ultrapassou – e muito – as fronteiras demarcadas pelo Rio Jequitinhonha. Na mão de homens e mulheres habilidosos, barro, taboa e madeira dão forma a esculturas, trançados, cerâmicas, panelas, bonecas, moringas e tigelas, materializando uma das mais belas expressões culturais da região. Mas, mesmo com todo esse prestígio, os artesãos encontram dificuldades para expor suas peças e vendê-las a um preço justo.

Uma exceção nesse cenário é a tradicional Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que este ano chega à 12ª edição. Será realizada na próxima semana, entre 2 e 7 de maio, numa promoção da Pró-reitoria de Extensão (Proex), do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e da Diretoria de Ação Cultural (DAC), reunindo, na Praça de Serviços, 42 associações de artesãos de 25 cidades do Vale. Só no ano passado, os expositores lucraram cerca de R$ 100 mil com as vendas.

   Foca Lisboa
Panelas Artesanais
Panelas Artesanais

Dentre as novidades, destaque para a participação de artesãos de duas etnias indígenas, Aranã e Pataxó-Pankararu, de Araçuaí. “Isso dará visibilidade ao trabalho artesanal realizado por eles, além de reforçar a presença indígena no campus”, afirma Terezinha Furiati, coordenadora do Artesanato Cooperativo, ligada ao Programa Polo, e que trabalha na organização do evento. Outra inovação da edição de 2011 é a montagem de um espaço especial para artesãos reconhecidos do Vale. Entre os convidados, Ulisses Mendes, de Itinga, a família de Dona Isabel, de Santana do Araçuaí, e Lira Marques, de Araçuaí.

O artesão João Alves, de Taiobeiras, é uma das estrelas da Feira. Suas esculturas em argila já foram premiadas pela Unesco e expostas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No caso da capital mineira, ele produziu 40 peças que ficaram em exposição no Palácio da Liberdade. “Elas representam o folclore de Minas, um retrato da nossa cultura”, conta o artesão, que participa da feira desde a primeira edição e hoje integra a Associarte, entidade que, segundo ele, tem papel importante na valorização de seu trabalho. “Graças a ela faço vários contatos e aprendo muito com os outros artesãos”, argumenta.

Foca Lisboa
Artesanato
Artesanato

Além do artesanato, a música do Jequitinhonha também invadirá a Praça de Serviços, com shows diários. Na segunda feira,
dia 2, haverá apresentação do Coral Água Branca, de Itinga; na
terça, 3, Volber e Gilmar; na quarta, 4, o Grupo Sarandeiros e,
na sexta, 6, a Banda Terceira Margem, de Montes Claros, sempre às 12h30. Na quinta-feira, dia 5, às 17h30, haverá homenagem às mestras de ofício Elzi Gonçalves Pereira e Geralda Leite Sena (veja abaixo) e show de João di Souza e Chico Lobo. A entrada é franca.

De fios e panelas

Elas guardam e, na medida do possível, tentam garantir que as novas gerações aprendam ofícios ameaçados de extinção. Por causa dessa dedicação, as mestras Elzi Gonçalves Pereira, a Dona Zizi, e Maria Geralda Leite Sena, a Dona Geralda, serão as homenageadas da 12ª Feira de Artesanato do Jequitinhonha.

   Terezinha Furiati
Geralda Leite Sena
Geralda Leite Sena

Nascida em 1927, em Francisco Badaró, dona
Geralda iniciou-se no ofício ainda menina, por influência da mãe fiandeira. Dedicou toda a sua vida ao algodão, sem nunca ter se desviado do trabalho. Seu saber foi repassado e compartilhado com filhos, amigos e vizinhos. Hoje, com quase 84 anos, ela ainda fia. Pouco, pois a saúde a impede de trabalhar como antes. Mas em Francisco Badaró o prestígio da fiandeira é inabalável. Para a comunidade, “fios iguais aos de Dona Geralda não tem, são fios muito finos”. Fruto de uma técnica que ela desenvolveu e aperfeiçoou durante toda a vida, com paciência e mãos firmes.

   Breno Antunes
Elzi Gonçalves Pereira
Elzi Gonçalves Pereira

Dona Zizi, de 78 anos, é a última paneleira de Guaranilândia, distrito de Jequitinhonha. Ainda criança, começou a produzir panelas, potes, moringas, gamelas com ferramentas muito simples: um pilão, um pedaço de couro, algumas pedras e uma pequena faca. Uma confecção completamente artesanal, que exige dedicação, observação e muita habilidade. Com o advento dos utensílios de alumínio, as panelas de barro perderam seu espaço. No entanto, a mestra não desanima e continua ensinando o trabalho, agora para os netos.