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Nº 1742 - Ano 37
13.6.2011

Uma nova TRANSIÇÃO em cena?

Evento internacional revê conexões entre demografia e crescimento com impactos na agenda política

Ana Maria Vieira

A realização de dois seminários esta semana na Face promete pôr a instituição no centro de um debate internacional. As atividades devem reunir economistas e demógrafos de pelo menos sete países, na análise de aspectos atuais e de fronteira em métodos demográficos e dos desafios envolvidos nas conexões entre população e desenvolvimento que podem alterar a agenda política e científica para o problema.

Tais conexões, que vão orientar um dos seminários (New Challenges in Population and Development), nos dias 14 e 15 de junho, demarcam novo painel de estudos dentro da International Union for the Scientific Study of Population (IUSSP). Proposta pelo professor da Face Eduardo Rios-Neto, a linha vai agregar grupo de pesquisadores preocupados em retomar análises nessa direção, em função dos novos contextos históricos.

“Desde 1994, com a Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento da ONU, essa questão ficou eclipsada por outra agenda do evento, então bastante avançada, relativa à saúde reprodutiva, e de relevância para a academia e os governos. Como não houve novo evento, devemos agora perguntar sobre o que ocorreu com as demais questões, como pobreza, educação e ambiente”, explica Rios-Neto. Quase duas décadas depois, os fenômenos demográficos parecem modelar mudanças sociais de alcance ainda pouco claro.

“Nos últimos anos, devido ao dividendo demográfico e às transferências de renda entre as gerações, o tema população e desenvolvimento voltou a adquirir relevância, até mesmo entre economistas”, completa o pesquisador.

Como explica Paula Miranda-Ribeiro, professora da Face, o dividendo demográfico representa o momento em que a pirâmide populacional de um país passa a ter maior proporção de pessoas em idade economicamente ativa, em comparação com as crianças e os idosos. É um processo em que o Brasil entrou a partir da década de 1990 e deve se estender até 2025. “Mas nem todos os países aproveitam as oportunidades que decorrem daí”, constata a pesquisadora. Conhecido também como transição demográfica, ou janela de oportunidade, o dividendo é espécie de pedra fundamental no novo cenário.

Marcadores

Hipóteses que têm sido postas por economistas e demógrafos para as novas conexões entre o desenvolvimento e transição demográfica vão além das consequências sobre a geração de renda. “Observamos que a estrutura e o tamanho da população exercem novo papel”, afirma Miranda-Ribeiro.

De acordo com Rios-Neto, o que constitui desafio e novidade é o que denomina quebra do paradigma regional. Estudos comparativos de desenvolvimento e população associando países de uma mesma região ou continente têm dado lugar a outros, que exploram afinidades entre diferentes sociedades para compreender seu estágio de crescimento. “O paradigma é quebrado quando vemos, por exemplo, que no fenômeno envolvendo os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) temos denominadores que associam Ásia, Europa e América Latina”, resume Rios-Neto.

Junto com o professor da Face Bernardo Lanza Queiroz, ele vai apresentar espécie de mapa classificando fatores que podem ensinar as especificidades dos países do Bric, além de Chile, Uruguai, Argentina e os Next Eleven: Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Coreia do Sul, Turquia e Vietnã. “Sem que isso signifique determinismo, nossa ideia é criar marcadores para esses países, a partir de regularidades oferecidas pela demografia, como taxa de urbanização, crescimento populacional, estrutura etária e incorporando aspectos como democracia”, antecipa Eduardo.

Segundo o pesquisador, esses marcadores podem favorecer o entendimento sobre o estágio em que os países se encontram na transição demográfica e servir para estabelecer ligações diversas entre eles em diversas situações. “Uma tipologia de transição demográfica indicaria o que um país grande pode aprender com o outro”, sintetiza.
Significados

“Um dos cernes do seminário trata do significado de desenvolvimento. Sem liberdade individual ou direito a garantias básicas ele não é o mesmo em todos os países”, acrescenta Alisson Barbieri, professor da mesma unidade e subcoordenador do Programa de Pós-graduação em Demografia da Face.

“Não podemos pensar o desenvolvimento apenas em sua variável econômica. Ele é um conceito multidimensional”, concorda a professora Simone Wajnman, coordenadora do programa de pós-graduação em Demografia. Como observa, o debate sobre o modo como a população se relaciona com o processo socioeconômico, cultural e ambiental possui, por sua vez, um substrato essencial na demografia: contar, projetar e estimar. Esse aspecto será tratado no primeiro seminário, no dia 13: Current Issues and Frontiers in Demographic Methods. Organizado pelo professor Cássio Turra, o evento reunirá expoentes internacionais em questões ligadas a fecundidade, mortalidade e distribuição espacial da população. Um dos destaques será a homenagem ao professor José Alberto Magno de Carvalho, precursor dos estudos e aplicação das técnicas de análise demográfica no Brasil.

Com tradução simultânea, os seminários serão transmitidos pela web. A abertura acontece às 9h, no auditório 1 da Face, no campus Pampulha. A programação está disponível em www.cedeplar.ufmg.br. A promoção é do programa de pós-graduação em Demografia do Cedeplar/Face.

Simone e Barbieri: desenvolvimento é conceito multidimensional

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