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Nº 1742 - Ano 37
13.6.2011

MUSEOLOGIA comparada

Dissertação vê pequena defasagem na gestão dos museus brasileiros na comparação com os franceses

Ana Rita Araújo

Há menos diferenças nas áreas de informação e comunicação entre museus brasileiros e franceses do que supõe o senso comum. A constatação é da museóloga Vania Carvalho Rôla Santos, que defendeu tese sobre o assunto no dia 13 de maio, na Escola de Ciência da Informação.

Orientada pela professora Helena Maria Tarchi Crivellari, Vania Carvalho trabalhou com 206 museus públicos – metade de cada país. “Optei por estudar os pequenos e médios museus, assim chamados não por causa de sua estrutura física, mas por terem acervo temático e serem muito ligados às comunidades onde estão inseridos”, explica.

Em estudo inédito, a pesquisadora trabalhou com instituições cadastradas nos bancos de dados dos ministérios da cultura dos dois países e com aplicação de questionários, que puseram em evidência aspectos da gestão, informação e comunicação museológica de cada instituição pesquisada. Assim, foram analisados itens como arquitetura, modelos de gestão, recursos financeiros, acervo, recursos humanos, sistemas de recuperação da informação, exposição e ação pedagógica.

Um aspecto fundamental da pesquisa foi a análise de ações que podem ser apontadas como pilares de sustentação do trabalho dos museus: conservação, que inclui aquisição, conservação preventiva e restauração; informação, que abrange tratamento técnico, pesquisa e publicação; e comunicação, o que na linguagem museológica se compõe de exposições, ações pedagógicas e culturais. Segundo a pesquisadora, sua análise utilizou o campo teórico-conceitual de Jean Michel Tobelem (gestão museológica) e de Jean Davallon (informação e comunicação), além das políticas públicas do Brasil e da França.

Vania Carvalho ressalta que a ênfase em algum dos itens revela muito sobre a gestão do museu. “Observamos que os museus analisados apresentam tendência a focar mais nas linhas de conservação e de comunicação, enquanto a informação fica em segundo plano”, afirma. Para a pesquisadora, tal estratégia sugere uma tendência à busca pela visibilidade, como fazem os grandes museus, que estão nos centros urbanos de maior porte e, em geral, têm mais inserção na mídia e mais facilidade para captar recursos financeiros.

A pesquisadora explica que é necessário haver equilíbrio entre as três linhas. “Conservar é fundamental, assim como mostrar o acervo ao público”, diz a autora. Mas a chamada informação museológica possibilita estabelecer três níveis de cada peça do acervo, como as propriedades físicas, função e significado (interpretação) e a história do objeto museológico. “Tais dados oferecem subsídios para a elaboração qualificada de mostras e exposições e até mesmo para a conservação”, explica Vania Carvalho, acrescentando que a informação, por seu caráter semântico (científico) e estético (cultural), é alicerce para as linhas da conservação e da comunicação

Defasagem menor

De modo geral, a gestão dos museus nos dois países é similar, embora a pesquisadora tenha percebido uma defasagem de cerca de 10 anos do Brasil em relação à França em alguns aspectos, nos anos de 1950 a 1980. Entretanto, a partir dos anos de 1990, ocorreu um movimento de qualificação do setor público em ambos os países, o que levou a gestão pública a adotar um formato mais ágil e gerencial. “A França avançou um pouco mais nessa linha, mas percebo uma tendência de redução da defasagem”, conta Vania Carvalho.

Um indício da diminuição das diferenças, segundo ela, foi a definição, em 2003, de uma Política Nacional de Museus e a criação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), em 2009. “Já na França, houve enxugamento da máquina administrativa, como resultado de uma revisão geral das políticas públicas, desde 2007”, compara.

Tese: Gestão, informação e comunicação museológica: um estudo comparativo entre pequenos e médios museus brasileiros e franceses
Autora: Vania Carvalho Rôla Santos
Orientadora: Helena Maria Tarchi Crivellari
Defesa: 13 de maio, junto ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação