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Nº 1744 - Ano 37
15.8.2011

No TABULEIRO da dengue

Prevenção e combate à doença inspiram jogo criado por pesquisadores da Escola de Enfermagem

João Kleber Mattos

Quando o verão chegar – e com ele o recrudescimento dos casos de dengue –, escolas municipais de Belo Horizonte e estaduais espalhadas por Minas Gerais já contarão com uma ferramenta lúdica para ajudar a prevenir e combater a doença. Trata-se do jogo de tabuleiro Todos contra a Dengue, criado na Escola de Enfermagem da UFMG sob a coordenação do professor Mark Anthony Beinner. Estima-se que 20 mil kits do tabuleiro sejam distribuídos em Minas Gerais, priorizando as áreas de maior incidência.

O jogo é fruto do projeto Educação em Saúde e Participação Social no Controle da Dengue – Uma proposta inovadora, desenvolvido há dois anos. O público-alvo é formado por pré-adolescentes entre 10 e 13 anos, alunos de 5ª e 6ª séries. Ele consiste em um tabuleiro, onde cada criança ou grupo é representado por um peão. Os participantes lançam o dado e movem seus peões pelas casas de acordo com os números obtidos.

À medida que caem nas casas, recebem cartas com perguntas didáticas sobre a dengue. As questões, o ponto central de aprendizado, podem ser de nível fácil ou difícil. “É possível distinguir a picada do Aedes aegypti da picada de um pernilongo comum?”; ou “De quem é a responsabilidade de cuidar da dengue? Do governo, da prefeitura ou de todas as pessoas?” São exemplos das perguntas presentes nas cartas. “A intenção é que o jogo não tenha apenas finalidade educativa, mas que as pessoas se divirtam ao jogar”, conta a ex-bolsista e agora voluntária no projeto, Évelin Angélica Herculano, que participou da produção do jogo, juntamente com a também aluna da Escola de Enfermagem Shaiana Alves Agripino.

As dificuldades de controle da dengue em todo o território nacional motivaram a empreitada. A equipe do professor Mark vê no jogo a possibilidade de efetuar mudanças comportamentais na vida dos pequenos estudantes e espera que o entusiasmo deles ‘contamine’ a família e a comunidade. “Por que não começar desde cedo com as crianças? Palestras não costumam prender a atenção delas, mas o jogo as estimula a tentar compreender as informações”, explica o professor, lembrando que a inspiração veio de projeto similar desenvolvido pelo Ministério da Saúde da Venezuela.

O pedido de patente já foi protocolado pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CT&IT) para proteção do produto. De acordo com o professor Mark, levantamento feito em âmbito nacional mostra que não existe no Brasil iniciativa similar à do Todos contra a Dengue. A equipe agora prepara outro tabuleiro, dessa vez sobre saneamento básico. “A expectativa é de que o jogo seja disseminado para todas as pessoas, porque a dengue, hoje, alcança todas as regiões do Brasil”, diz o pesquisador.

Na sala de aula

O jogo foi testado em outubro de 2010 em uma escola municipal da região Norte de Belo Horizonte. “Os estudantes foram divididos em grupos e gostaram muito da proposta. Pediram até que nós voltássemos”, relata a estudante Évelin Herculano.

O professor Mark explica que na ocasião um questionário composto de 46 perguntas semelhantes às que aparecem nas cartas do Todos contra a Dengue foi respondido por dois grupos de alunos antes e depois da intervenção. Após responder o questionário pela primeira vez, um grupo de alunos participou do jogo, enquanto outros estudantes de escola da mesma região assistiram a uma aula tradicional. Os resultados revelaram que o grupo que jogou obteve índice maior de acertos do que os garotos que se limitaram a acompanhar a aula, confirmando as expectativas da equipe.

Tabuleiro da dengue: caráter educativo aliado ao prazer de jogar