O 85º volume da revista da Academia Mineira de Letras (AML), que será lançado esta semana (sábado, 23, às 10h na sede da AML), tem como destaque um dossiê sobre a trajetória da filosofia em Minas Gerais, organizado pelo filósofo e professor Ivan Domingues, aposentado da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG. Vários outros professores vinculados à Universidade estão entre os homenageados e os autores dos textos.

Os 21 ensaios do dossiê temático especial A filosofia em Minas Gerais abordam histórias e personagens desde o Colégio do Caraça e o Seminário de Mariana – o bispo português radicado no Brasil Dom Viçoso (1787–1875) é o mais antigo dos personagens –, com ênfase no papel das universidades como centros de produção e difusão do pensamento filosófico.

Outros nomes estudados no dossiê são Carlos Roberto Drawin, Guido Antônio de Almeida, Marcelo Pimenta Marques, Moacyr Laterza, Newton Bignoto, Sônia Viegas e o padre jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz. (Veja a lista de homenageados e articulistas ao final desta matéria.)

“O que ficou mais que comprovado para mim, depois desse trabalho, é que a filosofia em Minas Gerais desfruta hoje de maturidade com padrão internacional, além de uma grande diversidade, que merece ser celebrada num dossiê como esse”, afirma Domingues. O professor, que assina o texto de introdução, ressalta também o capítulo assinado por Lúcio Marques, que traça a história institucional da filosofia no estado, com foco na UFMG e no papel do acadêmico Arthur Versiani Velloso, um dos fundadores da Faculdade de Filosofia da Universidade.

No evento de lançamento, haverá debate com participação de Jacyntho Lins Brandão, professor emérito da UFMG e presidente da AML, do advogado e jornalista Rogério Faria Tavares, que é presidente emérito da Academia e editor da revista, Ivan Domingues, Leonardo Mordente, revisor do periódico, e Sandra Bianchi, professora aposentada da Escola de Belas Artes. A sede da AML fica na Rua da Bahia, 1.466, em Belo Horizonte).

Afiliações intelectuais variadas
A missão de escolher os filósofos homenageados foi dividida por Ivan Domingues, em comitê, com Giorgia Cechinato, da UFMG, Lúcio Marques, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Olímpio Pimenta, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), e Paulo Margutti, aposentado da UFMG, hoje na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje).

Foto: acervo pessoal

“Estivemos atentos às vertentes filosóficas confessional e laica, esta última predominante. Os filósofos têm variadas afiliações intelectuais, são ligados a várias escolas e correntes de pensamento, o que garante diversidade e, portanto, riqueza”, explica Domingues. Esses intelectuais se expressaram em gêneros diversos, como ensaios, tratados, artigos e teses acadêmicas.

A trajetória mostrada no dossiê tem início no período pós-independência, mas se concentra na segunda metade do século 20, de acordo com o organizador. Ele lembra que as universidades completas surgiram no Brasil nos anos 1930, e, nas décadas seguintes, as federais, as estaduais paulistas e as PUCs foram berço e viveiro dos filósofos. Professor emérito da UFMG, o jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz, o Padre Vaz, é considerado o nome mais importante da filosofia mineira e, no mínimo, um dos mais importantes do país. O dossiê menciona um lado menos conhecido do filósofo: ele foi mentor da Ação Popular (AP) e da Juventude Universitária Católica (JUC), grupos que viriam a ter papel relevante na resistência à ditadura civil-militar instalada em 1964 no Brasil.

Foto: Yuri Oliveira | AML

Paisagem cultural
Desde o século 18, como escreve na orelha da edição o presidente da AML, Jacyntho Lins Brandão, professor emérito da UFMG, “a filosofia faz parte da paisagem cultural de Minas Gerais”. Ainda segundo ele, os nomes que inspiram os artigos do dossiê são “como que as pontas de um arquipélago muito mais ex­tenso em termos de tempo e espaço”.

Com base na leitura do dossiê, Brandão ressalta que “jamais faltaram escolas e expoentes na área, até a criação, em 1940 e 1942, respectivamente, dos cursos em seguida incorpo­rados à Universidade Federal e à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais”. Ele escreve também que Arthur Ver­siani Velloso, fundador e mentor da Faculdade de Filosofia da UFMG, José Henrique Santos e José Geraldo Vi­digal de Carvalho são membros da Academia Mineira de Letras.

No evento de lançamento, exemplares serão distribuídos aos presentes. Depois, a versão digital da publicação estará disponível no site da Academia. O lançamento da Revista da AML vol. 85 está no âmbito de projeto da AML incluído na Lei Estadual de Incentivo à Cultura. O patrocínio é da Cemig.

Filósofos e articulistas

• Dom Antônio Ferreira Viçoso (Seminário da Boa Morte de Mariana). Texto de João Paulo Rodrigues Pereira
• Arthur Versiani Velloso (UFMG). Texto de Rodrigo Antonio Duarte
• Carlos Robertto Drawin (UFMG e Faje). Texto de Marco Heleno Barreto
• Guido Antônio de Almeida (UFRJ e UFMG). Texto de Patrícia Kauark Leite
• Guiomar de Grammont (Ufop). Texto de Márcia Almada
• Padre Henrique Cláudio de Lima Vaz (UFMG e Faje). Texto de Ivan Domingues
• Ivan Domingues (UFMG). Texto de Lúcio A. Marques
• Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho Filho (Ufop). Texto de Geraldo Adriano Emery Pereira
• José Henrique Santos (UFMG). Texto de Guido Antônio de Almeida
• José Raimundo Maia Neto (UFMG). Texto de Flávio Loque
• Luís Henrique Dreher (UFJF). Texto de Flávio Augusto Senra Ribeiro
• Marcelo Pimenta Marques (UFMG). Texto de Diogo Mesti
• Moacyr Laterza (UFMG). Texto de Ricardo Fenati
• Newton Bignotto de Souza (UFMG). Texto de Helton Adverse
• Patrícia Kauark Leite (UFMG). Texto de Luís Henrique de Lacerda Abrahão
• Paulo Roberto Margutti (UFMG e Faje). Texto de Rodrigo Marcos de Jesus
• Rodrigo Antonio Duarte (UFMG). Texto de Maria Imaculada Guimarães Kangussu
• Sonia Maria Viegas (UFMG). Texto de Miriam Campolina Diniz Peixoto
• Telma de Souza Birchal (UFMG). Texto de Virginia de Araújo Figueiredo
• Tiago Adão Lara (Funrei e UFU). Texto de Águida de Assunção e Sá
• Virginia de Araújo Figueiredo (UFMG). Texto de Giorgia Cecchinato