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Nº 1325 - Ano 27 - 22.08.2001

 

IEAT quer produzir metodologia transdisciplinara

Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) acaba de vencer seu primeiro grande desafio - elaborar a fundamentação teórica de sua proposta de trabalho, a transdisciplinaridade. Mas antes que o texto chegue ao público em forma de livro, a ser lançado em outubro, em parceria com a Editora UFMG, o Instituto já se empenha em outra tarefa instigante: gerar uma metodologia transdisciplinar.
O esforço vem-se dando em diversas frentes, como grupos de pesquisa, seminários e encontros. Os grupos apoiados pelo IEAT serão os principais agentes dessa metodologia, pois criarão e testarão modelos. Segundo proposta a ser estudada pela Diretoria do Instituto, uma série de seminários que ocorrerão durante o semestre, discutirá a tradutibilidade dos conceitos, ou seja, sua circulação ou migração entre as áreas do conhecimento.

Todo o material recolhido servirá de base para uma reunião do Comitê Científico do Instituto, prevista para dezembro. "Pretendemos ter, dentro de um ano, resultados nessa área, para fundamentar, junto ao Conselho Universitário, a proposta de criação definitiva do IEAT. Até lá, a questão da metodologia já deverá estar equacionada, com base nos resultados parciais das pesquisas dos grupos apoiados pelo Instituto", prevê o professor Ivan Domingues, presidente do IEAT.

Globalização

O IEAT retoma, no dia 30 de agosto, a série de Encontros Transdisciplinares. O tema deste mês será Global e Local: interdependências e desigualdades. O diretor da Faculdade de Ciências Econômicas, Clélio Campolina, abordará a globalização e as esferas locais. Ivan Domingues lembra a relevância do tema, num momento em que comunidades na Europa manisfestam forte sentido de defesa do local, contra a perversidade do processo de globalização. A questão também está posta nos Estados Unidos, onde há sérios problemas com comunidades alijadas. "Há uma idéia de globalização vitoriosa, mas o IEAT, atento a essas reações e antevendo o futuro, quer discutir a questão local", explica Domingues, ao lembrar que a riqueza está na diversidade, "não no unidimensional, no igual e sem vida".

Além de contribuir para a discussão da metodologia transdisciplinar, os Encontros (leia programação) vão gerar livros no futuro. Em setembro, Ivan Domingues e o reitor Francisco César de Sá Barreto deverão visitar a Fundação Ford, nos Estados Unidos, para discutir a eventual implantação, no IEAT, da cátedra Violência e Criminalidade.

Para o primeiro semestre de 2002, está prevista a vinda do Nobel de Física Murray Gell-Mann, fundador do Instituto Avançado de Santa Fé, nos Estados Unidos, e do francês Edgar Morin. Gell-Mann tratará da ciência da complexidade, e Morin, do método dos sistemas complexos, tema do livro que lançará em breve. Além disso, representantes do IEAT visitarão institutos avançados nos Estados Unidos, para tentar acertar iniciativas de intercâmbios.

 

Programação

2º semestre/2001

30 de agosto, às 10h

Local: Auditório Sônia Viegas - Fafich

Tema: Global - Local: interdependências e desigualdades

Apresentador: Clélio Campolina (Face)

Debatedor: Sérgio Martins (IGC)

27 de setembro, às 10h

Local: Auditório 4 do ICEx

Tema: Cosmologia e tempo: um olhar transdisciplinar

Apresentador: Mário Novello (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas/CBPF-RJ)

Debatedor: a ser definido

25 de outubro, às 10h

Local: Auditório Azul - Escola de Ciência da Informação

Tema: Modernidades tardias: uma intervenção cultural

Apresentador: Wander Melo Miranda (Fale)

Debatedor: Carlos Antônio Leite Brandão (Escola de

Arquitetura)

20 de novembro, às 10h

Local: Auditório Sônia Viegas - Fafich

Tema: Memória

Apresentador: Ivan Antônio Izquierdo (UFRGS)

Debatedora: Heloísa Starling (Fafich)

Pesquisa avançada versus impostura intelectual

omo discernir entre uma pesquisa inovadora e a aplicação abusiva e sem fundamento de certos conceitos? O físico Alan Sokal, que deve vir à UFMG ainda este semestre, a convite do IEAT, conseguiu publicar intencionalmente na revista científica Social Text, um pastiche, texto pseudocientífico que passou despercebido pelos editores. Questionados, eles alegaram que qualquer trabalho vindo de Sokal seria publicado. A ousadia do físico trouxe à tona o problema da obscuridade no fundamento das inovações científicas. "Sua vinda é extremamente oportuna, porque a Universidade precisa estar atenta a este assunto", explica o presidente do IEAT, Ivan Domingues.

Segundo ele, a fronteira entre o transdisciplinar e a impostura intelectual é muitas vezes obscura, o que gera um grande dilema científico: aceitar uma obra que pode ser um blefe ou recusá-la e perder um trabalho de valor. "Como o limite não é claro, fica difícil fazer uma triagem e separar o joio do trigo", argumenta Domingues, para quem a discussão sobre esta experiência do físico Sokal, ocorrida nos anos 90, pode trazer ensinamentos do ponto de vista pedagógico.