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Antropólogas e revolucionárias
Livro narra trajetória de três mulheres que marcaram a Antropologia
Maurício Guilherme Silva Júnior
uito
já se escreveu sobre a história de homens que, nos séculos
19 e 20, dedicaram os próprios dias ao ofício de desbravar os
mistérios da natureza, dos povos e da ciência. Apesar de pouco
conhecidas, algumas brasileiras seguiram caminho similar, mesmo em épocas
de pouca liberdade feminina. Três trajetórias, que serviram de
matéria-prima até mesmo à ficção de escritores,
como Lima Barreto e Bastos de Ávila, são abordadas pela professora
Mariza Corrêa, do departamento de Antropologia da Unicamp. No livro
Antropólogas & Antropologia, a ser lançado pela Editora
UFMG no dia 2 de abril, em Campinas, a autora investiga as ousadas vidas da
naturalista Emília Snethlage, da sertanista Leolinda Daltro e da administradora
e pesquisadora Heloísa Alberto Torres.
Fruto
de pesquisas iniciadas em 1984, com o intuito de investigar a história
da antropologia no Brasil, a trajetória das três "heroínas"
saltou aos olhos da pesquisadora. "Como sempre me interessei pela situação
das mulheres, anotei como estas apareciam nessa história, no Brasil
e em outros países", diz Mariza Corrêa. Uma das principais
contribuições do trabalho está em contextualizar historicamente
as personagens, além de compará-las a algumas de suas contemporâneas
em outros países. Através de estudos bibliográficos,
entrevistas e análises de cartas, recortes de jornal e inclusive de
romances, foi possível traçar o perfil das mulheres que nunca
se entregaram às normas sociais.
Nascida na Alemanha, Emília Snethlage foi um exemplo clássico de naturalista do final do século 19. No mesmo período, Leolinda Daltro destacou-se como sertanista romântica, tendo-se revelado, ainda, grande feminista. Por último, Heloísa Alberto Torres dedicou-se, no início do século passado, ao ofício de pesquisadora e administradora de instituições científicas. "Se conjugadas no masculino, essas figuras são muito comuns na história da ciência. Quando aparecem de saias, tornam-se muito interessantes, pondo em evidência as convenções de gênero da época", explica a professora.
A força feminina demonstrada na vida real atraiu o interesse de importantes escritores brasileiros. As três mulheres não se destacaram apenas na história da antropologia no Brasil. Elas aparecem também como personagens de contos e romances. Leolinda está em Numa e a ninfa, de Lima Barreto. Heloísa é a heroína de No pacoval de Carimbé, de Bastos de Ávila, e Emília está em Os igaraúnas, de Raimundo de Morais. Segundo Mariza Corrêa, a realidade e a ficção se misturam nos textos, já que os autores usam fatos conhecidos de suas vidas para compor o enredo. Com a diferença de que, na literatura, são os autores que criam o script a ser seguido por elas. "De certa maneira, há uma `ótica masculina' na apresentação das personagens. Por outro lado, elas aparecem na cena literária como pioneiras de um modo de se fazer antropologia que se tornou paradigmático", completa a autora.
Obra: Antropólogas & Antropologia
Autora: Mariza Corrêa
Editora: Editora UFMG
Lançamento: 2 de abril, em Campinas/SP
Preço: R$ 34