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Nº 1471 - Ano 31 - 3.2.2005


Perfil: Cynthia Morais

"Colecionadora" de obstáculos vencidos

Projeto de extensão abre oportunidades acadêmicas a estudantes carentes

Maurício Guilherme Silva Jr.


Cynthia: luzes sobre a obra de Heródoto
Foto: Foca Lisboa

pedagogo Roberto Carlos, o craque Ronaldinho e o músico Herbert Vianna participam de campanha publicitária que destaca a persistência do brasileiro na busca por seus objetivos. A história de vida de uma ex-aluna da Universidade bem que poderia figurar entre os relatos de personagens que, apesar dos obstáculos, jamais desistem.

Historiadora formada pela UFMG, onde também concluiu o mestrado que resultou no livro Maravilhas do mundo antigo _ Heródoto, pai da história? , lançado pela Editora UFMG, Cynthia Morais é um exemplo de estudante que, no intuito de "traçar" o próprio caminho acadêmico, precisa enfrentar múltiplos desafios, ainda mais complexos que as exigências da sala de aula.

Doutoranda em História Social pela USP, Cynthia "coleciona" obstáculos vencidos. Sua trajetória, semelhante à de outros estudantes regularmente matriculados na UFMG, comprova a importância da assistência universitária para a vida de alunos com dificuldades financeiras. A relação da historiadora com a Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump) ilustra com propriedade a necessidade do apoio ao talento pessoal.

"Na UFMG sempre contei com bolsa de trabalho, assistência médica e auxílios acadêmicos", conta. Cynthia entrou na Universidade em 1988, quando passou no Vestibular para Ciências Sociais. Como não se identificou com os estudos da área, prestou outro concurso e se tornou, a partir de 1991, aluna de História.

Ali, descobriu sua vocação acadêmica. Hoje, suas pesquisas lançam novas luzes sobre intrincadas questões historiográficas. Em Maravilhas do mundo antigo , Cynthia discute a questão do termo "maravilhoso" _ "thoma", em grego _ na obra de Heródoto, considerado o pai da história, e até hoje criticado por sua suposta falta de rigor científico. Os textos do autor, nos quais a pesquisadora busca identificar a incidência do referido vocábulo _ e de suas derivações _, foram lidos em grego. "Na obra de Heródoto, a figura do `maravilhoso' aparece com freqüência, o que, para muitos estudiosos, o desqualifica como historiador. Para mim, no entanto, o termo é ilustrativo de seu espanto, de sua emoção, prerrogativa básica de qualquer cientista", explica a historiadora.

Segundo Cynthia Morais, o ofício de Heródoto , ao analisar as chamadas guerras médicas entre gregos e persas, segue procedimentos absolutamente metódicos, como bem exigem as regras científicas. Ele não só narra o confronto entre os povos, com detalhes sobre o tamanho e a natureza dos exércitos, assim como busca compreender as causas do conflito.

Tristezas e alegrias

Nascida em São Paulo, Cynthia passou a adolescência em Juiz de Fora (MG), onde estudou, com auxílio de bolsa especial, em instituição particular de ensino. Além da difícil relação com os estudantes abastados da escola, viveu o drama de ter seu benefício cancelado. Apesar disso, continuou a freqüentar as aulas. Sempre que algum professor dirigia-se a ela, imaginava que seria mandada para casa. Isso nunca aconteceu.

"Minha mãe era formada em Ciências Sociais e trabalhava como professora primária. Apesar de não ganhar bem, fazia questão de me garantir o melhor ensino", conta a historiadora. Exatamente no dia da defesa de sua dissertação de mestrado, em julho de 2000, Cynthia recebe a notícia do falecimento da mãe. Uma tristeza que se misturou à alegria por mais uma conquista acadêmica.

Aprender a lidar com as dualidades da vida foi a maneira por ela encontrada para, sempre com o apoio materno, partir em busca da realização de seus sonhos. "A vida é um dramalhão mexicano", brinca. Além de cursar doutorado na USP, Cynthia é professora universitária em Brumadinho e Pedro Leopoldo e trabalha no livro didático Tecendo a história , destinado a alunos do ensino fundamental.

Nascido no século 5 a.C, Heródoto buscou "narrar as grandes e maravilhosas empresas, realizadas quer pelos Helenos, quer pelos Bárbaros, e sobretudo a razão por que entraram em guerra com os outros." Trata-se dos conflitos bélicos entre gregos e persas, chamados de "guerras médicas", ocorridos entre os anos 490 e 480 a.C. A origem do nome diz respeito à tribo Medas , que também vivia na região da Pérsia.