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Nš 1503 - Ano 32
06.10.2005



Rambo mineiro quer conquistar a América

Vencedora de campeonato nacional de aerodesign, equipe da UFMG prepara-se para disputar competição nos EUA

Ana Maria Vieira

ual configuração permitiria a uma aeronave, com apenas 2,40 metros de envergadura de asa e potência de motor limitada, obter o melhor desempenho entre concorrentes, decolando em uma pista de 61 metros com a maior carga possível? A resposta começa a ser esboçada por um grupo de estudantes da UFMG, que se prepara para participar, em abril de 2006, da SAE Aerodesign East Competition, programada para acontecer em Marietta, na Geórgia, Estados Unidos.

A equipe, conhecida como Uai Sô Fly - vencedora da edição brasileira da disputa ocorrida em setembro -, vai enfrentar campeões de diversos países, todos em busca da melhor performance para suas aeronaves construídas a partir de especificações restritivas, mas que funcionam como grandes desafios tecnológicos.

"A tarefa de projetar esses pequenos aviões é tão complexa quanto construí-los em escala padrão", diz Alvim Reis, aluno que integra a equipe da UFMG. Junto com outros 15 colegas do curso de engenharia mecânica, com especialização em aeronáutica, ele desenvolveu Rambo I _ avião biplano de pequena envergadura de asa, que, ao decolar em 61 metros de pista, transportando 9,08 quilos, superou 52 outras equipes formadas por estudantes de engenharia de diversos estados do país e da Venezuela, durante a SAE Brasil, em São José dos Campos.
Eber Faioli

Integrantes da Uai Sô Fly com o Rambo I : equipe vai projetar novo protótipo

Segundo Alvim, a competição desperta grande interesse do segmento industrial devido, especialmente, a soluções engenhosas encontradas pelos participantes na expansão do "efeito formiguinha" - como é conhecida a capacidade de transportar peso maior que o do próprio corpo. "Aviões de estrutura leve que suportam grandes cargas são muito valorizados pela aviação militar e civil", afirma Alvim, ao explicar como projetos acadêmicos de construção de aeromodelos, confrontados na competição, tornam-se importantes ensaios para soluções adotadas pelo mercado.

Duas asas

Pequena amostra dessa engenhosidade foi a opção de dotar Rambo I de duas asas. Assim, a equipe atingiu seus objetivos de transportar carga três vezes maior que o peso do avião e atender à regra restritiva da competição sobre envergadura de asa. A opção, contudo, gerou nova dificuldade, pois não existe referência bibliográfica para o desenvolvimento dessa modalidade de aeronave.

"Foi preciso recorrer a teorias dos anos 30 e 40 e fabricar protótipos para verificar a viabilidade delas", relata o estudante Rodrigo Sorbilli, capitão da Uai Sô Fly e piloto de Rambo I. Os aviões biplanos, ou de duas asas, eram os modelos mais comuns nas primeiras décadas da aviação. Devido a restrições dos materiais disponíveis, não era possível produzir asas compridas. Para compensar, os projetistas planejavam aviões com duas asas curtas.

Para disputar a SAE Aerodesign 2006 em céu norte-americano, os estudantes vão desenvolver novo projeto, uma vez que as regras da competição e as especificações para as aeronaves são diferentes. Orçado em torno de R$ 3 mil, Rambo II deverá receber material de construção dos patrocinadores de seu congênere campeão: Fundep, Diniz Esteves Enterprises, Tevel, Huntsman, HST, Speed Hobbies e JR Racing. A equipe necessita, contudo, de novos parceiros para patrocinar a viagem de sete estudantes aos Estados Unidos. Com custo estimado em R$ 35 mil, parte do valor deverá ser coberto pela associação SAE Brasil.

Do desenho ao vôo

De acordo com Sorbilli, a grande vantagem de participar da SAE Aerodesign é a oportunidade para estudantes desenvolverem projetos completos de aeronaves, que compreendem do esboço ao teste em vôo, passando pela construção. "Isso permite desenvolver o domínio de teorias e verificar se funcionam ou não", explica.

Para o engenheiro mecânico Carlos Alberto Cimini, professor da UFMG e orientador da equipe Uai Sô Fly, o projeto complementa a aprendizagem de engenharia, "permitindo aos estudantes desenvolverem habilidades de gestão de projeto, relações interpessoais, além de liderança e capacidade de trabalhar em equipe".

O foco na aprendizagem aliado à qualidade de ensino do curso da UFMG tem apresentado bons resultados para os estudantes. Das sete edições da SAE Brasil, a Universidade conquistou, entre outras colocações, seis vezes a menção honrosa na modalidade Melhor projeto. Rambo I obteve, ainda, a mesma classificação nos itens Melhor eficiência estrutural e Maior peso carregado na classe regular da competição. Na edição 2004 da disputa norte-americana, a UFMG foi a segunda colocada na mesma classe. Além desse desempenho, os estudantes conquistam alto conceito em sua área de atuação. "Eles são disputadíssimos pelo mercado", confirma Cimini.

SAE: Fundada há um século, nos Estados Unidos, a SAE (Sociedade Engenheiros da Mobilidade) é uma fonte de padrões e conhecimentos sobre os setores automotivo e aeroespacial em todo o mundo. Ela já gerou cerca de cinco mil normas e abrange 85 mil sócios em 93 países.