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Nº 1504 - Ano 32
13.10.2005
De volta do eldorado
Pesquisadora investiga "vocação migratória" de Valadares e os investimentos que esse processo traz para a região
Flávia Camisasca
ilhares de brasileiros aventuram-se na travessia do deserto do México em busca do sonho americano. Fazer a América e voltar para montar um negócio no Brasil é o objetivo de muitos dos que enfrentam essa empreitada. A pesquisadora Sueli Siqueira, doutoranda do Departamento de Sociologia da Fafich e professora da Universidade do Vale do Rio Doce, "acompanhou" os migrantes valadarenses nesse retorno, associando o processo migratório aos investimentos realizados na região.
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A pesquisa, parte de sua tese de doutorado, é dividida em duas etapas. Na primeira, desenvolvida no Estado de Nova Inglaterra, Estados Unidos, Sueli conversou com 141 emigrantes, dos quais 37% já haviam retornado ao Brasil e, como não obtiveram êxito nos negócios que abriram, migraram novamente. Na segunda parte do estudo, concluído recentemente, ela colheu dados com valadarenses que retornaram dos Estados Unidos e que vivem em 24 cidades da microrregião de Governador Valadares, onde investiram o dinheiro acumulado no exterior.
A pesquisadora revela que os migrantes, ao retornarem a Governador Valadares, investem no comércio, na indústria e em agronegócios. Muitos juntam dinheiro nos Estados Unidos com o objetivo de realizar o sonho de montar o próprio negócio no Brasil, porém nem todos conseguem se estabelecer como empresários. Sueli aponta que o principal motivo de falência entre os migrantes é a falta de uma pesquisa de mercado. "Lá, eles vivem em um universo restrito pelo trabalho e não têm muita compreensão da economia", justifica. Com a incursão fracassada pelo mundo dos negócios, alguns voltam aos Estados Unidos em busca de mais dinheiro.
"Os que aqui conseguiram se firmar como empresários levaram tempo para investir. Eles procuraram primeiro entender a economia e o que é ser empresário", ressalta Sueli. Nas entrevistas que realizou para o estudo, a pesquisadora constatou que o desejo de voltar ao Brasil é intenso. "Eles vêem os Estados Unidos como um lugar para trabalhar e ganhar dinheiro e o Brasil como um lugar para viver. Por isso, a meta deles é juntar dinheiro e voltar para montar um negócio", conclui a pesquisadora.
Agrupamentos
Os migrantes geralmente vivem em comunidades de brasileiros _ muito próximos a pessoas da cidade de origem _ têm por hábito comunicar-se com o Brasil com muita freqüência e valem-se da Internet para esses contatos. Eles têm acesso, inclusive, ao jornal da região de Governador Valadares.
A pesquisadora aponta que a formação de agrupamentos de migrantes brasi
leiros nos Estados Unidos é uma forma de manter a identidade: "Afinal, lá eles são estrangeiros, praticamente invisíveis". Com uma jornada pesada, chegam a trabalhar de 12 a 16 horas diárias como faxineiros, pedreiros, jardineiros e babás, atividades menos valorizadas socialmente e, que por isso, não competem com a mão-de-obra local. "Quando retornam, eles partem para a auto-afirmação. Dão presentes, compram carro novo, jóias, mostram que têm dinheiro. É uma forma de deixar claro que foram para os Estados Unidos, trabalharam e venceram", interpreta a pesquisadora.
Origens
O que transformou Governador Valadares em pólo de migração para os Estados Unidos? Sueli Siqueira explica que, na década de 40, a região foi explorada por mineradores norte-americanos em busca de mica, matéria-prima importante na indústria bélica. Foi o primeiro contato dos moradores da região com os norte-americanos, numa época de prosperidade no Vale do Rio do Doce, o que firmou no imaginário valadarense a idéia de que os Estados Unidos eram um eldorado.
Quando o fluxo migratório para os Estados Unidos começou, os valadarenses rapidamente formaram redes sociais, conexões que facilitam a ida de outros conterrâneos. "Com uma rede social consolidada, a migração fica mais fácil, pois ela proporciona uma estrutura que permite ao migrante começar a vida dele lá: hospedagem para os primeiros dias, indicação de trabalho e dicas de como se movimentar naquela sociedade. Para algumas pessoas, é mais viável partir para os Estados Unidos do que para São Paulo", explica Sueli Siqueira. Além disso, Valadares desenvolveu, nos últimos anos, mecanismos _ legais e ilegais _ que agilizam o processo de migração. "Isso tudo reforçou a idéia de que migrar é fácil", completa a pesquisadora.