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Nº 1520 - Ano 32
02.03.2006

O pai da física mineira

Exposição e lançamento de livro homenageiam centenário do professor Francisco de Assis Magalhães Gomes

Manoella Oliveira

centenário de nascimento do professor e físico Francisco de Assis Magalhães Gomes, completado no dia 16 de janeiro último, será comemorado com uma exposição em sua homenagem, no saguão da Reitoria, com abertura no próximo dia 13.


Magalhães Gomes: crença na qualificação das pessoas

O espaço será ambientado por 30 painéis e uma mesa de trabalho com objetos pessoais, além de retrato do cientista, em óleo sobre tela, pintado por Heloísa Moreno, acompanhado por texto do professor Márcio Quintão Moreno, do departamento de Física do ICEx. O ambiente será dividido em quatro espaços, focando sua biografia, a relação com a política, com a ciência e com o ensino.

Os documentos, livros e objetos são resultado de pesquisa iconográfica realizada pelo Projeto República nos acervos privados e da UFMG que tratam da vida e obra do professor Magalhães Gomes. “A exposição procura valorizar a face humanista do cientista, cujo sucesso não se restringiu a uma área da ciência nem ao universo da UFMG. Ele foi um homem brilhante, e sua atuação contribuiu para melhorar as condições de desenvolvimento científico do país”, exalta a professora Lígia Germano, consultora do Projeto República. A exposição terá como curador o professor Fabrício Fernandino, diretor de Ação Cultural.

Livro
As homenagens ao cientista prosseguem com o lançamento, pela Editora UFMG, do livro Humanismo e ciência para Francisco de Assis Magalhães Gomes, um dos 19 lançamentos da Editora na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. A obra, organizada pelo professor Márcio Quintão, reúne artigos, não apenas científicos, escritos por Magalhães Gomes e testemunhos de seus antigos colaboradores, ex-alunos e amigos. Participam da coletânea Beatriz Alvarenga Álvares, Carlos Urban, Elza de Moura, José Israel Vargas, Maria Alves Teixeira, Ramayana Gazzinelli e Ronaldo Alípio Mansur.

A trajetória de um humanista

Professor emérito da UFMG, físico e engenheiro, Francisco Magalhães Gomes é considerado o “pai” da Física em Minas Gerais, por ter organizado e dirigido a primeira instituição mineira dedicada a essa ciência.

Em 1952, ele criou o Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), atual Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), alvo do maior investimento isolado em ciência já feito na Universidade: a aquisição do reator Triga. O IPR foi a oportunidade que ele encontrou para concretizar sua crença – que contrariava o pensamento da época – na formação dos pesquisadores, fator, em sua opinião, mais relevante do que a sofisticação do aparelhamento disponível.

Foi por sua liderança no IPR que Magalhães Gomes ganhou o apelido “Chico Bomba Atômica”. “Os alunos o chamavam assim por brincadeira e alguns colegas de trabalho também. Ele não gostava do apelido, embora não demonstrasse. As pessoas não se dirigiam diretamente a ele dessa forma”, conta o amigo José Israel Vargas, também professor da Universidade. “Ele nunca foi a favor da bomba atômica. Pelo contrário, era um pacifista que deve ser lembrado porque trouxe o atomismo para a cultura de Minas”, acrescenta.

Engenheiro formado pela Escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, fundou o primeiro curso de Engenharia Nuclear no país, o curso de Engenharia Metalúrgica da UFMG e o Instituto de Ciências Exatas, do qual também foi diretor. Mas nem só de ciência viveu este físico, que além de integrar a Academia Brasileira da Ciência, foi membro da Academia Mineira de Letras. “Era um homem extremamente culto. Recitava Dante e Dom Quixote, apreciava a literatura francesa e lia poetas alemães”, conta Israel Vargas.

Outra distinção conferida ao professor foi o convite feito pelo Papa João Paulo II, em 1980, para revisar o processo de Galileu Galilei, que, na Idade Média, foi considerado herege pela Inquisição por suas idéias científicas revolucionárias. Magalhães Gomes foi o único brasileiro a participar do grupo que realizou esse trabalho.


Exposição - Francisco de Assis Magalhães Gomes: engenheiro, político e educador – antes de tudo um humanista
Abertura - 13 de março, 17h
Período - até 24 de março
Local - saguão da Reitoria
Curadoria - Fabrício Fernandino