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Nº 1588 - Ano 34
30.10.2007

Colheita musical

Aluno desenvolve ferramentas para incrementar ensino de música

Ana Maria Vieira

Em um clique ele semeia. No outro, recolhe. As ações não são fiéis, mas serviriam como metáforas para quatro novos projetos destinados à pedagogia na área de música, de autoria de Robson Dias, aluno do segundo período de regência da Escola de Música. Apaixonado pela arte musical, o estudante decidiu mudar temporariamente de lado e, com a ajuda de professores, desenvolveu ferramentas que poderão disseminar conhecimentos especializados para grupos maiores de pessoas.

“O ensino de música ainda é elitista e nem sempre, em regiões e países mais carentes, tem-se acesso a conteúdos e técnicas que pertencem ao repertório de cursos de nível superior”, comenta o estudante, ao explicar seu interesse em ampliar o acesso a esse universo, por meio do ensino a distância.

Da avaliação ele passou à ação. Aprimorou metodologias e ferramentas tecnológicas e constituiu, há dois anos, uma escola virtual de ensino de música. O público respondeu rapidamente: ela já atende 3,5 mil alunos de 16 países, incluindo os residentes em 90 municípios mineiros.

“Oferecemos 30 cursos livres pela Internet relativos à teoria e prática musical, especialmente para instrumentos mais populares como violão, teclado, contrabaixo e cavaquinho”, detalha Robson Dias. Chegar a esse patamar não foi fácil. Há pelo menos dez anos, ele investiga métodos que permitem ao aluno apreender técnicas para execução de instrumentos a distância.

Intervenção de Rita da Glória em foto de Foca Lisboa
robson
Robson Dias: o ensino da música ainda é elitista

“Essa modalidade de aprendizado não ocorre de maneira tão objetiva, como em outros campos do conhecimento, pois ela exige orientação postural do aluno”, explica. Para as disciplinas teóricas, como orquestração, análise, escrita e teoria musical, ele considera que os recursos existentes eram compatíveis com requisitos para uma formação de qualidade. “O nosso ensino nessa área é bastante satisfatório”, avalia.

Uma aula virtual de instrumento inclui acompanhar, pela Web, a execução de peça feita pelo professor. Toda a performance é registrada em câmera profissional. Do outro lado, o estudante observa e reproduz a técnica. Ele conta ainda com imagens captadas em close das mãos do mestre.

Realizamos a decomposição de seus movimentos”, esclarece Robson Dias. A avaliação ocorre da mesma maneira. “Pela webcam, o professor pode vê-lo tocar e assim o orienta sobre sua técnica”, diz.

Bancos cantantes

Os demais projetos elaborados pelo aluno da UFMG são considerados inéditos. Trata-se de três bancos de dados eletrônicos, contendo registros de figuras de retórica musical, de obras corais, além de compositores e libretos de óperas. Destinados ao mesmo público, podem trazer repercussões positivas para o ensino e a pesquisa acadêmica.
Reunir o conjunto de informações exigiu fôlego, pois nem sempre as obras de bibliotecas consultadas por Robson Dias atendiam às suas demandas.

Recebi grande contribuição dos acervos dos professores e de periódicos internacionais”, relata. Ao final, ele conseguiu aglutinar, em um dos bancos, dados sobre características de duas mil obras de coro, oriundos, sobretudo, de projeto de doutorado do professor Lincoln Andrade, da Escola de Música. “O único banco similar existe apenas em livro”, assegura.

O outro conjunto de registros contém os libretos de pelo menos 800 óperas de 250 compositores de diversos períodos históricos, incluindo peças do século 21, classificadas como música vocal encenada. “A ópera mais antiga existente em nossos registros é o canto de teatro grego, datado do ano 1000 a.C.”, revela Robson.

Já o terceiro banco de dados inclui o cadastro de aproximadamente 250 figuras de retórica musical. “Tanto quanto a retórica tradicional, a música é capaz de convencer o ouvinte a vivenciar um estado de espírito”, reflete o aluno. Isso ocorre por meio de regras que imprimem emoção e ritmo às canções. Determinadas progressões musicais corresponderiam, assim, a uma figura de retórica. A técnica, surgida em 1416, é aplicada hoje em trilhas sonoras de filmes, novelas e peças publicitárias.