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Nº 1600 - Ano 34
10.03.2008

Uma rede que salva vidas

Sistema de telessaúde da UFMG amplia atendimento e intercâmbio com experiências do gênero

Adriana Linhares*

Há cerca de um ano, Cassilda Geralda de Amorim, 67 anos, moradora de Moeda, município de cinco mil habitantes a 70 quilômetros de Belo Horizonte, sentiu uma forte dor no peito, acompanhada de taquicardia e dormência nas mãos e pés. Levada imediatamente à Fundação Municipal de Saúde da cidade, a aposentada foi atendida por três médicos, que confirmaram um infarto e recomendaram o encaminhamento a uma cirurgia de urgência em Belo Horizonte.

Na capital, a paciente foi submetida a um implante de stent no coração, seguido de cirurgia para implantação de duas pontes de safena. O caso só teve um bom desfecho por causa de dois procedimentos concomitantes: enquanto em Moeda os médicos Daniel Valle e Sérgio Delfino, do Programa Saúde da Família, realizavam os primeiros procedimentos clínicos para controle da pressão arterial da paciente, em Belo Horizonte, o cardiologista José Galeno avaliava o eletrocardiograma que acabara de chegar por e-mail.

Cassilda foi protagonista de mais um caso encaminhado ao Projeto Minas Telecárdio, uma das iniciativas de tecnologias de informação e telecomunicação aplicadas à saúde que são realidade na UFMG graças a parcerias de suas diversas unidades com os governos municipais, estadual, federal e instituições privadas do Brasil e do exterior. “Acho importantíssimo. Seria muito útil se toda cidade pequena tivesse um projeto como esse. Amanhã não sei se eu mesma vou precisar de novo ou se será alguém da minha família”, avalia Cassilda.

No final de fevereiro, gestores de um projeto de parceria com a União Européia, o Eurosocial, oriundos de oito países da América Latina e dois da Europa, estiveram em Belo Horizonte para conhecer as iniciativas da Universidade. Foram quatro dias de extensa programação, que incluiu visitas às unidades da UFMG atualmente mais envolvidas na área: Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Escola de Enfermagem e Faculdade de Odontologia.

“O programa de telessaúde desenvolvido em Minas Gerais me pareceu
extraordinário”, avaliou o médico equatoriano Mario Paredes, diretor do Instituto de Ciência e Tecnologia em Saúde do Ministério da Saúde daquele país. “É impressionante como a telessaúde se desenvolveu tão rápido aqui, usando uma tecnologia tão básica e simples. Há anos estamos implantando esse serviço em nosso país e sempre achamos que seriam necessários muitos investimentos”, avalia a analista de sistemas do Ministério da Saúde do Panamá, Eligia Diaz.

Experiências mineiras

Juntas, as quatro unidades da UFMG que desenvolvem projetos de telessaúde atendem 144 unidades de saúde em Belo Horizonte, outras 182 cidades mineiras e mais 13 municípios do Ceará, em atividades de teleassistência e teleducação.

A teleassistência da UFMG oferece apoio aos profissionais que atuam no Programa Saúde da Família. Normalmente, o médico atende o paciente na sua região e, tendo alguma dúvida ou precisando de uma segunda opinião, utiliza o sistema de telessaúde. O atendimento pode ser feito por meio de teleconsultoria on-line, via conferência ao vivo, ou off-line, utilizando um sistema seguro de mensagens desenvolvido pelo Laboratório de Computação Científica (LCC) da UFMG.

Lucas Prates
catalogo
Profissionais do Programa Saúde da Família são treinados para trabalhar com ferramentas de telessaúde.

As experiências do Projeto BH Telessaúde, iniciado em 2003 pela Faculdade de Medicina, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, e do Minas Telecárdio, desenvolvido pelo Hospital das Clínicas desde 2005, em parceria com o Governo de Minas Gerais, levaram ao lançamento, em 2007, do Projeto Nacional de Telessaúde, financiado pelo Ministério da Saúde em nove unidades da federação. “Minas é o estado que mais avançou na implantação”, conta o coordenador do núcleo mineiro do projeto, professor Cláudio de Souza, da Faculdade de Medicina. A infra-estrutura para atividades de telessaúde já está disponível em 97 municípios mineiros.

“As primeiras avaliações mostram que o novo desafio é incorporar a tecnologia ao dia-a-dia dos profissionais de saúde”, afirma. Segundo a coordenadora do Centro de Telessaúde do HC/UFMG, Maria Beatriz Moreira Alkmim, a implantação dos projetos da Universidade ocorre, em geral, em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), localizados em áreas distantes, e que dispõem do Programa Saúde da Família e de conexão à internet.

*Jornalista da Assessoria de Comunicação do Hospital das Clínicas.

Tecnologia é aliada da qualificação

Alessandra Ribeiro*

Arquivo Cetes
humano
Imagem em modelo 3D é usada no curso de eletrocardiografia

Os projetos de telessaúde na UFMG envolvem não só a prestação de serviços, mas também a capacitação dos profissionais. A médica Gabriela Assunção, por exemplo, aproveita o horário livre no posto de saúde onde trabalha, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, para atualizar os conhecimentos na área de eletrocardiografia. Em vez de abrir um livro, ela liga o computador e pode acompanhar, pela internet, o curso a distância desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Educacional em Saúde (Cetes) da Faculdade de Medicina da UFMG. “O curso dá mais segurança na interpretação do exame”, afirma a médica.

Com a qualificação dos profissionais, evita-se que o paciente se desloque de um posto de saúde a um centro de especialidades apenas para a interpretação de um exame. Esta é a grande vantagem da capacitação a distância, na opinião do secretário de Saúde de Belo Horizonte, Helvécio Magalhães Júnior: “É um trabalho que racionaliza o uso do sistema e melhora a qualidade do atendimento em saúde”, diz.

As ferramentas tecnológicas facilitadoras da aprendizagem nos cursos a distância, como animações e modelagens em três dimensões (3D), são desenvolvidas por profissionais do Cetes. Eles criam modelos que reproduzem, no computador, quadros de hipertensão arterial, dengue, situações de urgência e emergência, entre outras. Sem falar nos personagens, como um professor virtual, que entra na tela em determinado momento da aula para resumir o conteúdo no curso de eletrocardiografia oferecido aos médicos dos postos de saúde de Belo Horizonte.

A coordenadora do curso, professora Rosália Morais Torres, do departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, ressalta a importância das imagens em modelagem 3D, desenvolvidas para o ensino a distância. “Todo o conhecimento em eletrocardiografia exige imagem espacial”, enfatiza.

São os casos dos vídeos produzidos pela TV UFMG. O coordenador da TV, Mário Quinaud, responsável pela direção das gravações com os professores e até de dramatizações para ilustrar procedimentos no consultório, conta que a produção para os cursos a distância é bem diferente das reportagens jornalísticas. “Há um cuidado minucioso com posição, angulação e, principalmente, com as informações técnicas”, compara.

As “aulas virtuais” também incluem arquivos de áudio, chats e fóruns que permitem tirar dúvidas com o professor em tempo real, entre outros recursos. Os usuários contam ainda com o suporte do Laboratório de Computação Científica da UFMG (LCC), provedor da plataforma Moodle, a mesma utilizada pelos alunos para acessar o portal minhaUFMG. O Moodle é também o software adotado pela Universidade Aberta do Brasil e pelo novo curso de especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, outra iniciativa de educação a distância oferecida pela UFMG, a partir de convênio do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), da Faculdade de Medicina, com os ministérios da Saúde e da Educação.

Segundo a professora Rosália, a primeira turma de Eletrocardiografia, formada por cem médicos, fez uma avaliação extremamente positiva da experiência. Agora, a equipe trabalha para aperfeiçoar o curso, que será estendido para mais 270 médicos. “Um dos desafios é adequar todos os computadores dos centros de saúde para permitir que os alunos acessem as ferramentas oferecidas”, diz. O Cetes também trabalha na elaboração de conteúdos de outros cursos a distância, voltados, por exemplo, para diagnóstico e manejo de hipertensão, diabetes e saúde do idoso.
Além de cursos a distância, também são oferecidas videoconferências temáticas. Só a Escola de Enfermagem realizou 51, desde 2004, atendendo mais de três mil profissionais de 100 cidades mineiras. Para 2008, estão programadas 20 videoconferências de temas ligados à Enfermagem, 18 à Odontologia e nove à Medicina, todas como parte do Projeto Nacional de Telessaúde.

*Jornalista da Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina