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Nº 1625 - Ano 34
12.09.2008

Brasil devorado

Com vinhetas exibidas na TV Minas, projeto da Comunicação
comemora oito décadas do Manifesto Antropófago

Luiz Dumont Jr.



Há exatos 80 anos, o escritor e pensador Oswald de Andrade publicou, na primeira edição da Revista de Antropofagia, o Manifesto Antropófago. Inspirado pelo ritual dos índios tupinambás, que costumavam comer seus inimigos mais valorosos, na intenção de absorver suas qualidades e tornar-se mais fortes, o Manifesto convocava as pessoas a “devorar” o mundo, absorvê-lo, misturá-lo e recriá-lo. Para comemorar as oito décadas da grande obra do autor modernista, a professora Regina Mota, do Departamento de Comunicação da Fafich, junto com 15 alunos do Laboratório de Produção em TV, em parceria com a Diretoria de Programação e Produção da Rede Minas, criou uma série de vinhetas inspiradas nos elementos do Manifesto, e que estão sendo transmitidas pela emissora em sua programação.

Denominado Manifesto 80 Anos, o projeto selecionou cinco vinhetas, com duração de 15 ou 30 segundos. Segundo Lígia de Matos, assessora de comunicação da emissora, as vinhetas são veiculadas ao longo do dia, de forma aleatória. “Não há um número exato de inserções”, explica a assessora. A escolha dos filmes foi realizada por uma curadoria formada pela professora Regina Mota, alunos do laboratório e representantes da emissora.

De acordo com a professora, as vinhetas pretendem aproximar o público dos conceitos principais do Manifesto, através de sons e imagens contemporâneas. Segundo ela, Oswald de Andrade publicou seu manifesto num período em que a cultura estrangeira, sobretudo a européia, era vista como um modelo a ser seguido pela sociedade ocidental. “O manifesto conclamou a sociedade da época a repensar o Brasil poeticamente, através dos vários elementos da nossa cultura, como a mistura da religiosidade cristã com o candomblé, o folclore”, exemplifica. “Queremos demonstrar a atualidade do Manifesto”, argumenta a professora.

Para alcançar esse objetivo, os estudantes construíram vídeos com trechos de músicas e filmes de artistas brasileiros consagrados, como Glauber Rocha, Tom Zé e a banda O Rappa, além de imagens de pintores brasileiros, como os quadros de Tarsila do Amaral, autora da obra modernista Abaporu, outra inspiração de Oswald de Andrade para criar o Manifesto. “Os trechos foram usados de forma a evocar a cultura brasileira, seus elementos principais como a religiosidade e o lado festivo do brasileiro, o futebol, as nossas heranças indígenas, por exemplo. Ao mesmo tempo em que fazem referência aos autores dos trechos apropriados”, explica a professora.

Outra referência da relação entre o Manifesto Antropófago e os dias atuais são os recursos da cultura hacker utilizados para construção dos filmes, que utiliza a internet para o compartilhamento de sons e imagens, uma forma contemporânea de devorar a cultura. Contudo, para Regina Mota, essa facilidade de acesso não assegura legitimidade antropofágica a tudo que for devorado e reciclado. “É preciso que haja uma crítica nesse processo”, afirma.

Foca Lisboa
regina
A professora Regina Mota à frente de uma das vinhetas: antropofagia criativa

Faça a sua

Segundo Regina Mota, o projeto não se restringue às vinhetas veiculadas na programação da Rede Minas. Através do site do projeto (Manifestoa), outras pessoas são convidadas para participar da criação de novas vinhetas. “Qualquer interessado pode fazer a sua vinheta. As pessoas podem baixar as peças já produzidas, modificá-las ou até mesmo criar novas imagens de outros elementos que acharem interessantes para o tema”, explica.

Além da oportunidade de participar criativamente, os visitantes do site têm acesso ao texto original do Manifesto publicado por Oswald de Andrade e outras informações sobre o assunto, assim como links relacionados com o tema.