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Nº 1701 - Ano 36
28.6.2010


O futuro do Paraopeba

Cedeplar propõe plano para ordenar crescimento econômico da região, que vive boom nas áreas de mineração e siderurgia

Flávio de Almeida

Com investimentos projetados de R$ 23 bilhões nos próximos 15 anos nas áreas de mineração e siderurgia, sete municípios do Vale do Rio Paraopeba, na região central de Minas Gerais, buscam se estruturar para enfrentar os impactos que essa movimentação econômica provocará. Reunidas no Consórcio Público para o Desenvolvimento do Alto Paraopeba (Codap), as prefeituras de Conselheiro Lafaiete, Congonhas, Ouro Branco, Belo Vale, Entre Rios de Minas, Jeceaba e São Brás do Suaçuí acabam de receber um valioso instrumento para balizar políticas e investimentos públicos.

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A área rosa compreende os sete municípios-alvo do estudo

Trata-se do Plano de Desenvolvimento Regional para o Alto do Paraopeba, elaborado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), sob a coordenação dos professores Ricardo Machado Ruiz e Alisson Barbieri. Apresentado recentemente na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o plano propõe uma série de simulações georrefenciadas que projetam, para a próxima década, a população da região, a área ocupada e demadas socioeconômicas e de infraestrutura urbana, como geração de emprego e renda, habitação, transporte, rede de abastecimento de água, escolas, formação de mão de obra, atendimento hospitalar e reflorestamento, entre outras. O estudo foi encomendado pelo Codap, primeiro consórcio de direito público instituído no Brasil com status de ente federativo, sob os auspícios da Lei 11.107/ 2005.

Além de estimar os impactos gerados pelo investimento privado, o estudo do Cedeplar prevê de quanto os municípios terão que dispor para suportar esse crescimento. “Nossa projeção, extremamente conservadora, aponta para valores de R$ 2 bilhões”, afirma o pesquisador, lembrando que esse recurso é estimado apenas para atender demandas futuras. “Para corrigir distorções atuais, o investimento teria que ser muito maior”, pondera Ruiz. Como exemplo, cita a retirada dos trilhos da estrada de ferro que passa dentro de Congonhas, medida que, segundo ele, “custaria uma fortuna”, por causa da necessidade de alterar o traçado da ferrovia.

Foca Lisboa
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Ricardo Ruiz: necessidade de diversificar a base produtiva

Nos próximos anos, o Vale do Paraopeba, que tem cerca de 230 mil habitantes, espera ampliar sua importância como polo mínero-metalúrgico em Minas Gerais. Gigantes do aço, como Gerdau Açominas, Vallourec Sumitomo e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e mineradoras – Vale, Ferrous, Casa de Pedra e Namisa – têm ambiciosos planos de instalação de unidades produtivas ou expansão na região, devendo alcançar uma produção de 12 milhões de toneladas de aço e de 102 milhões de toneladas de minério por ano. Atualmente, a capacidade siderúrgica instalada no Alto Paraopeba é de 4,5 milhões de toneladas, enquanto a de minério de ferro chega a 22 milhões de toneladas.

Hiperespecialização

Embora embale os sonhos de prosperidade da população do Alto Paraopeba, mineração e siderurgia também preocupam autoridades e os especialistas do Cedeplar. “Há um processo de hiperespecialização da região nas duas áreas, e isso a deixa muito vulnerável às crises econômicas e às instabilidades do mercado internacional”, pondera Ricardo Ruiz.

Por isso, uma das recomendações contidas no plano diz respeito à diversificação econômica. “É preciso que a região aproveite esse boom da mineração e da siderurgia e expanda sua base produtiva. O futuro dessas regiões não está nessas duas atividades, mas é a partir delas que ele pode ser construído”, analisa o professor do Cedeplar. Ele vislumbra, inclusive, algumas iniciativas tomadas pelos gestores públicos que apontam nessa direção. Uma delas é a instalação, na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), de cursos não relacionados à mineração e à siderurgia. Ricardo Ruiz também acredita que planejamentos do gênero só surtirão efeitos se os gestores públicos deixarem de pensar em escala municipal para trabalharem numa perspectiva regional.

Estudo: Plano de Desenvolvimento Regional para o Alto do Paraopeba
Coordenação:Alisson Barbieri e Ricardo Machado Ruiz
Equipe: professores Roberto Monte-Mór, Moema Fígoli, Edson Domingues e Marco Flávio e os mestrandos Reinaldo Santos, João Bosco Tonucci e Jorge Luis Teixeira Ávila