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Nº 1701 - Ano 36
28.6.2010
Eber Faioli |
José Saramago: intelectual além do seu tempo |
“Saramago foi um grande escritor, um grande intelectual. Um homem que viveu além do seu tempo, pela postura ética, moral e de defesa da justiça social”, afirmou o reitor Clélio Campolina, ao comentar a morte do escritor português José Saramago, ocorrida no dia 18 de junho. O reitor decretou luto oficial de três dias, por meio de portaria assinada em 21 de junho.
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, em 1998, Saramago tinha ligação especial com a UFMG. Ele foi uma das 14 personalidades que já receberam o título de Doutor Honoris Causa da Universidade, a principal honraria concedida a figuras que não pertencem aos quadros da instituição. O escritor esteve na UFMG em duas ocasiões. A primeira foi em 1987, quando participou do 1° Encontro Nacional de Culturas de Países de Língua Portuguesa. Retornou em 1999, após ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, para receber o título de Doutor Honoris Causa.
“Ele foi o primeiro escritor de língua portuguesa a ganhar um Nobel. Sua obra tem uma importância muito grande para todos os países onde o português é falado”, afirma o professor da Faculdade de Letras (Fale), Wander Melo Miranda, encarregado da saudação ao escritor durante a cerimônia de entrega do título há 11 anos. Para o docente, a característica mais marcante do escritor era a sinceridade. “Ela era muito franco, quase rude. Mas acho isso bom”, diz. Talvez por isso, Saramago tenha declarado, ao receber a homenagem da Universidade: “agradeço a distinção, mas ela não muda nada em minha vida”.
O que deixou o escritor português realmente honrado foi saber que figuraria ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Oscar Niemeyer na seleta lista de agraciados com o título. “Saber que o meu nome vai ficar ao lado dos nomes de Carlos Drummond de Andrade (de quem tão injustamente a Academia Sueca não se lembrou para o Nobel...) e de Oscar Niemeyer (de quem sou amigo e a quem tanto admiro) é algo que nunca esteve entre as minhas mais ousadas esperanças”, escreveu ao então reitor da UFMG, Francisco César Sá Barreto.
Autor de Memorial do Convento, Evangelho Segundo Jesus Cristo e Ensaio sobre a Cegueira, entre outras obras, Saramago nunca estudou em uma universidade, mas disse entender que “assim essas instituições reconhecem que nem só seus membros são capazes de produzir trabalhos de valor”.
Uma lupa que captura textos impressos e os exibe em uma tela de televisão está disponível para usuários da Biblioteca Central com visão subnormal, isto é, abaixo de certa acuidade visual. Semelhante ao mouse utilizado em computadores, ao ser passada sobre as páginas, a lupa amplia o tamanho das letras e oferece quatro opções de contraste na tela. A utilização da lupa deve ser agendada pelo e-mail dir@bu.ufmg.br.
O equipamento foi adquirido pela Universidade por sugestão de Saulo Rosa Ferreira, aluno do curso de Medicina. “Logo que passei no Vestibular, em 2009, procurei o colegiado do meu curso e sugeri a compra do mesmo tipo de equipamento que tenho em casa, porque embora estejamos em uma instituição pública, nem todos têm acesso ao acervo das bibliotecas, sobretudo os deficientes visuais”, explica Saulo Ferreira.
Segundo ele, a Universidade não está adaptada para receber e incluir os portadores de deficiência. “Esse tipo de periférico deveria estar disponível em todas as bibliotecas da Instituição”, completa, ao destacar que ainda há muito a ser feito em termos de adaptação física nos prédios e equipamentos públicos, bem como nos sistemas informatizados utilizados pela comunidade acadêmica. A biblioteca da Fafich também disponibiliza equipamento do gênero aos seus usuários, enquanto a da Faculdade de Medicina aguarda a montagem de uma cabine especial para instalar o seu.
A pró-reitora de Graduação, Antônia Vitória Aranha, comenta que as dificuldades de lidar com as necessidades dos portadores de deficiência não são específicas da UFMG. “A sociedade brasileira não tem sequer pessoal formado para atender às muitas demandas do setor”, afirma. Ela cita, por exemplo, o fato de a Universidade ter aberto duas vezes concurso para contratar professor de Língua Brasileira de Sinais (Libras) em nível de adjunto (doutor), mas não houve procura. “Como não tivemos candidatos, vamos reabrir com vaga para professor assistente, que não exige doutorado e sim mestrado”, explica a pró-reitora.
De acordo com dados obtidos no registro acadêmico dos calouros, a UFMG recebeu, em 2009, 11 alunos que informaram ter grande dificuldade permanente de visão e outro que se declarou incapaz. Já em 2010, nenhum novo aluno informou ter grande dificuldade permanente de visão, mas seis se declararam incapazes. Segundo Ana Lúcia Ribeiro Diniz, diretora do Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DRCA), o atual sistema acadêmico da UFMG não possui campo adequado para que os novos alunos forneçam dados precisos sobre necessidades especiais. “Mas estamos conscientes da importância desse tema, por isso o novo sistema, que está em desenvolvimento e será implantado em 2012, contempla essas questões e utilizará a terminologia adotada pelo IBGE”, informa.